Ela fugiu de um monstro, apenas para cair nas garras de outro. Melia Korin é uma ômega renegada tentando sobreviver nos becos esquecidos de Valtheria. Após fugir de um passado marcado por dor, medo e escravidão, escapando por pouco do alfa mais cruel de Obsidian, ela jura nunca mais se submeter a um homem, até que a morte de sua mãe a força a vender o próprio corpo no palco de uma boate, escondida atrás de uma máscara e um nome falso: Bunny. Mas tudo desmorona quando, numa noite, seus olhos se fixam nos olhos vermelhos e selvagens do alfa mais poderoso daquela região. Killer Knight não é um lobo comum. Ele é o predador mais temido de Valtheria, alfa da Dentes de Prata e dono de um império construído sobre poder e sangue. Cruel, dominante e brutal, Killer nunca acreditou em companheiras destinadas, não depois de passar 200 anos esperando a sua e ela nunca aparecer, até sentir o cheiro dela. A ômega mascarada que dança nua como uma deusa e treme como uma presa prestes a ser devorada. Quando o passado violento de Melia colide com o presente implacável de Killer, nasce um vínculo proibido, perigoso e visceral. Entre cicatrizes que sangram e instintos que gritam, Melia terá que decidir: ela vai fugir para sempre… ou se entregar às garras do único lobo que pode protegê-la, ou destruí-la por completo?
Ler maisO cheiro de sangue e medo impregnava o ar.
Melia tinha apenas treze anos. Era frágil, magra, os cabelos grudados na testa de tanto suor. Corria pela mata com os pés descalços, tropeçando nos galhos, com os olhos marejados e o coração batendo tão alto que abafava qualquer som ao redor. A respiração arfante da mãe ao seu lado mostrava que ambas estavam no limite. A floresta de Obsidian parecia nunca terminar, árvores escuras, o chão úmido e coberto de folhas mortas e pedras que cortavam seus pés era tudo o que viam à frente. A noite densa era iluminada apenas pela luz trêmula da lua e, mesmo sem muitas esperanças, precisavam continuar.
E atrás delas… o som de lobos.
Rugidos e uivos preenchiam a mata como um coro vindo de um pesadelo sufocante. Galhos se partindo, patas rasgando o chão… Eles estavam cada vez mais perto.
— Melia, corre! — gritou sua mãe, Selene, puxando o braço da filha com força. — Não olha pra trás, minha pequena! Não para de correr!
Mas o corpo da menina já não obedecia. As pernas pequenas falhavam, os joelhos estavam bambos e ela estava exausta. O terror era tanto que a garotinha não sentia mais o frio cortando sua pele. Então, de repente, tropeçou em uma raiz grossa e caiu de joelhos, o rosto raspando na terra molhada e o gosto de sangue chegando a sua boca.
— Mamãe… — soluçou, agarrando o vestido da mãe, os olhos arregalados. — Eu não aguento mais… ele tá aqui, ele tá falando comigo… Tô ouvindo a voz dele…
A voz na mente das duas era monstruosa, profunda, cheia de fúria e ódio.
“Selene, pare com isso. Devolva minha companheira, essa criança me pertence!”
Selene apertou os dentes, os olhos brilhando com uma raiva que queimava como brasas.
Não hesitou.
Num segundo, se transformou.
O corpo da mulher alongou, os ossos estalaram, e no lugar da mãe, surgiu uma loba. Elegante, embora magra, com pelos rajados em preto e cinza. Seus olhos amarelos brilharam como tochas.
Ela se abaixou, abocanhou com cuidado a blusa da filha e jogou Melia sobre suas costas, protegendo o corpo da menina entre os ombros. Não deixaria aquele monstro levar sua menina, nem que precisasse dar sua vida para isso.
A loba correu.
Melia chorava sem parar, agarrada ao pescoço da mãe.
— Ele tá aqui! — gritou. — Ele tá dentro da minha cabeça! Mãe, faz ele sair! Faz ele parar!
A voz do alfa Van Smaill agora era um trovão em suas mentes.
“Melia… minha pequena companheira… Acha que pode fugir de mim? Acha mesmo que pode escapar do alfa de Obsidian?”
O uivo dele ecoou pela floresta, como uma sentença de morte.
Mas a loba não parava, saltava entre raízes, pedras, e atravessava galhos afiados. Mesmo ferida, mesmo com o sangue escorrendo das patas, continuava.
Ao longe, a clareira já era vista, a linha invisível que separava Obsidian de Valtheria. A fronteira entre os dois territórios, um passo a mais e estariam sob a proteção de outro alfa.
Era a única esperança delas.
Mas ele estava atrás, o alfa de Obsidian não as deixaria ir tão fácil.
Claro que não.
Era um lobo monstruoso, de pelos avermelhados e olhos vermelhos como brasas. Imenso, selvagem, as garras arrancavam a terra, e os dentes estavam expostos em um rosnado animalesco. Corria pela mata como um vulto vermelho, decidido a alcançar as escravas e estraçalhar aquela loba insolente que teve a pretensão de lhe tirar o que lhe pertencia.
Melia olhou para trás e gritou.
— Ele tá vindo! Mãe! Ele tá vindo!
A loba correu mais rápido, soltando um grunhido de dor.
A fronteira se aproximava.
Van estava quase alcançando.
O som dos outros lobos atrás era ensurdecedor, eles vinham com sede de sangue, prontos para rasgar mãe e filha em nome do alfa deles. Selene sabia que, se a pegassem, ela não viveria para ver o que Van faria a sua menina e Melia estaria condenada a morte ao lado daquele monstro.
Selene reuniu todas as forças que lhe restavam e, com um impulso final, se jogou com a filha sobre a fronteira.
As duas rolaram pela grama úmida, caindo com força do outro lado.
Então, no mesmo instante suas mentes se silenciaram.
A voz de Van não alcançava mais suas mentes, não ali.
Os lobos de Obsidian frearam, parando exatamente na linha da fronteira. Rosnavam, uivavam, mas nenhum ousava atravessar.
Selene voltou à forma humana, sangrando, nua, com o corpo tremendo, cobriu a filha com o próprio corpo, apertando a menina contra si, tentando escondê-la dos olhos dos outros lobos principalmente dos olhos dele.
Haviam conseguido… Mas será que a fronteira poderia protegê-las daquele lobo cruel?
Van também mudou, voltando a forma humana a medida que caminhava, as patas se tornando pés, o focinho de lobo se moldando num rosto humano, até que ele estivesse completamente mudado, parado na frente da linha da fronteira. Agora era um homem alto, forte, de traços frios e duros no rosto. Os cabelos escuros e desgrenhados caíam sobre os olhos vermelhos, o peito nu ostentava cicatrizes. Ele estava ofegante, as mãos cerradas ao lado do corpo.
Ficou na frente da fronteira e sorriu, um sorriso lento, ameaçador.
— Que bonitinho… — murmurou, com a voz rouca. — A escrava traidora protegendo a filhinha... Acha mesmo que vai conseguir mantê-la longe de mim, Selene?
A mulher, mesmo ferida, manteve o olhar firme.
— Ela não é sua, nunca foi, e nunca vai ser. Você sabe disso! As outras também não eram suas, e você as matou!
Van soltou uma risada baixa, os lobos atrás dele rosnaram, ansiosos.
— Cale essa boca, escrava… Nada disso te interessa, você me pertence, é uma escrava e eu comprei você… Assim como comprei sua filha, ela também é minha, atravessar a fronteira não vai mudar isso.
— Você não é um companheiro — cuspiu Selene. — É um monstro.Minha filha é só uma criança e mesmo assim você quer marcá-la. Não passa de um monstro maldito, que marca crianças!
Van se aproximou mais da linha, sem ultrapassá-la. Os olhos cravados em Melia, que tremia em silêncio nos braços da mãe.
— Eu vou encontrá-la, pequena companheira… — prometeu com voz baixa. — Não importa onde esteja. E quando eu pegar de volta o que é meu… vai aprender que fugir de mim tem um preço.
Melia fechou os olhos com força, encolhendo-se.
Van olhou para Selene uma última vez.
— Espero que a faça lembrar que eu sempre… Sempre, Selene, vou estar esperando. E que, quando menos esperar… vou aparecer e arrastá-la de volta para Obsidian.
Ele virou de costas, se transformou novamente e desapareceu com os lobos em meio à escuridão da floresta.
A noite ficou em silêncio.
Selene abraçou a filha com força, afagando os cabelos dela enquanto Melia chorava baixinho. Estavam a salvo, por enquanto.
Mas mesmo depois que Van se foi, deixou o medo e o terror para trás… Porque não importava para onde elas iam, parecia que ele seria sempre sua sombra, o demônio embaixo de sua cama.
E aquilo era só o começo.
Killer desceu as escadas da Fera Dourada com passos duros, cada batida do coturno ecoando no corredor como um aviso de que ninguém ousasse atravessar seu caminho. A raiva ainda pulsava em cada músculo, como se a luta de minutos atrás não tivesse acabado. Seus punhos latejavam com a lembrança do sangue de Jack, ainda quente, e a imagem da garota encolhida na cama insistia em invadir sua mente.Ele passou as mãos pelos cabelos úmidos de suor e respirou fundo, tentando controlar a transformação que ainda queimava sob sua pele. Suas garras tinham recuado, mas os olhos continuavam brilhando em vermelho, denunciando o estado perigoso em que estava.Atrás dele, Trash vinha quase correndo para acompanhá-lo.— Alfa, espera! — a voz dele quebrou o silêncio tenso do corredor.O alfa não respondeu. Continuou andando, ignorando a insistência do beta.— A gente precisa dar um jeito nisso agora. — Trash acelerou o passo até alcançá-lo. — Sei que está nervoso e quer achar essa tal Bunny, mas precisam
Corin subiu os últimos degraus com as mãos suadas. O salto fino batia no piso de madeira, produzindo um som seco que ecoava pelo corredor silencioso. A boate, lá embaixo, ainda vibrava com luzes e música, mas aquele andar parecia um prédio abandonado de tão silencioso.Ela parou diante da porta do escritório principal e respirou fundo. O rumor tinha corrido rápido: Killer tinha matado um alfa naquela noite, na frente de uma das garotas… A maldita Bunny. Isso, por si só, já era suficiente para deixar qualquer um em alerta. Mas Corin sabia que aquele não era apenas um problema de reputação para a boate ou para a alcateia. Não... aquilo significava que Killer estava furioso, fora de controle, e era justamente para ele que ela estava prestes a se apresentar.Corin ajeitou a blusa de seda, mesmo sabendo que estava ridícula tentando disfarçar o nervosismo. Pior do que encarar Killer era saber que ele não sabia do que ela realmente fazia ali dentro. Ele acreditava que ela gerenciava a boate
O salão principal do Fera Dourada ainda vibrava com música e luzes piscando, mas na parte de trás da boate o clima era completamente diferente. O cheiro de sangue misturado ao de álcool e suor estava impregnado no ar, e a tensão que pairava fazia qualquer um pensar duas vezes antes de se aproximar do corredor onde Killer estava.Ele caminhava de um lado para o outro, o peito arfando, as veias saltadas nos braços denunciando a raiva que queimava em cada músculo. As mãos ainda estavam sujas de sangue, e ele não se deu ao trabalho de limpá-las.— Killer, você precisa parar um pouco e pensar. — Trash bloqueou a frente dele, tentando interceptar sua marcha furiosa. — Tá andando igual um touro prestes a matar todo mundo aqui.— Sai da minha frente, Trash. — a voz de Killer saiu baixa, mas carregada de ameaça.— Não vou sair. — Trash cruzou os braços. — Me fala primeiro o que tá acontecendo. Desde quando você mata um alfa convidado, de uma alcateia que temos alianças e age como se isso não f
O corredor parecia não ter fim. As luzes vermelhas piscavam, iluminando os passos apressados de Melia que corria nua, tropeçando, quase caindo, sentindo os joelhos arranharem contra o carpete áspero. As lágrimas turvavam a visão, mas ela não parava, não podia parar. — Sai, sai, sai! — gritava para ninguém em específico, esbarrando nas paredes, empurrando outras meninas enquanto tentava encontrar a saída.As portas dos quartos estavam fechadas, abafando risadas, gemidos e música. O mundo inteiro parecia indiferente ao caos que explodia dentro dela.Virando o corredor dos fundos, ela trombou em algo sólido e quase caiu para trás.— Melia?! — Juno segurou os braços da amiga, surpresa, os olhos arregalados percorrendo cada centímetro do corpo nu, ensanguentado e cheio de marcas. — Meu Deus, o que aconteceu?! Eu tava tentando te achar!Juno também estava machucada tinha hematomas na area das costelas e o lábio estava partido, claramente o segurança havia batido nela, como Corin havia mand
Killer seguiu o som dos gritos como se estivesse sendo guiado por um faro invisível. O coração batia rápido, pesado, tão alto que abafava qualquer outro ruído do corredor. Os coturnos dele martelavam no chão com passos largos e urgentes, os músculos do corpo completamente tensionados.— Killer! Espera! — Trash ainda gritava atrás, mas era inútil.O alfa não escutava mais nada, não tinha espaço para raciocínio, para prudência, para conversa. Só havia um instinto: chegar até ela.Um último grito atravessou a parede fina do quarto no fim do corredor, tão desesperado que fez os dentes de Killer rangerem. Ele chutou a porta com tanta força que a fechadura voou, batendo contra a parede do lado de dentro.O que viu fez seu estômago se revirar de nojo e sua visão se tingir de vermelho.Jack, um alfa que ele havia convidado para visitar suas terras e formar uma aliança, cliente antigo do clube, metido a valentão, cheio de dinheiro e de arrogância, estava segurando a garota de máscara de coelho
Killer estava nos fundos da Fera Dourada, encostado na parede, tragando o cigarro como se fosse a única coisa capaz de mantê-lo no lugar, e talvez fosse mesmo. O ar denso do beco misturava o cheiro de fumaça, álcool e suor, mas nada conseguia abafar aquele outro aroma que queimava em sua mente havia horas. O cheiro dela.Bunny.Ou melhor, aquela maldita stripper mascarada que ele não conseguia tirar da cabeça desde que a viu dançando no palco.Ele puxou outra tragada profunda, tentando convencer a si mesmo de que estava exagerando, que não passava de uma atração estúpida, algo sexual, culpa de todo tesão reprimido de um alfa que não fodia com ninguém há meses. Mas o lobo dentro dele não queria saber de razão, cada músculo do corpo de Killer vibrava e as veias saltadas em seus braços denunciavam a força que ele fazia para manter o controle. As mãos tremiam, e a ponta do cigarro quase se partiu entre seus dedos.— Tá se escondendo aqui por quê? — a voz de Trash quebrou o silêncio atrás
Último capítulo