Capítulo 5: O exílio

Os guardas se movem rápido. Correm para socorrer Elise, que choraminga e grita de dor no chão. Lucius se junta a eles, desesperado.

Outros guardas me seguram pelos braços, me contêm — mesmo que eu não esteja resistindo.

Olho direto nos olhos do Alfa Líder. Seu semblante transborda ódio puro. Lambo os beiços sujos com o sangue da filha preferida dele.

É o meu fim. Mas não estou nem um pouco arrependida. Posso morrer agora mesmo, com toda a honra do mundo.

Busco o olhar da minha mãe. Seu rosto mostra satisfação. Orgulho puro.

Mesmo sabendo que ela e Aiden provavelmente também serão punidos pela minha rebeldia, sei que ela não poderia estar mais orgulhosa de mim.

Já Aiden... Está em choque. Com medo.

Ele não sabe lidar com o desdobramento do que causei. E por um momento, sinto uma ponta de arrependimento. Por ele.

Ele não merecia ser punido por um ato de egoísmo meu. Mas agora já foi feito.

A única coisa que posso fazer... É agir por mim mesma. E por mais ninguém.

— ARTEMÍSIA GOLDRYN! PARE IMEDIATAMENTE! — A voz do Alfa Líder ecoa como um comando absoluto.

Meu corpo paralisa no mesmo instante. Tento resistir por alguns segundos, mas é inútil. A dor é insuportável — ainda mais com a ferida da queimadura, ainda fresca.

Os guardas me soltam. Sabem que não vou sair do lugar.

— Você atentou contra a família Alfa. Colocou em risco uma mulher grávida... pela segunda vez! Uma nova sentença será aplicada.

— Estou pronta para morrer sem arrependimentos. — eu respondo firme. 

— Ah, minha querida... — A voz do Alfa Líder escorre com veneno e prazer. — Morrer seria um alívio. Você e sua família serão exilados. Vendidos à Alcatéia Umbra como propriedade.

O tom é cruel. Frio. Sádico.

Meu corpo enrijece. Eu estava pronta para morrer — com honra. Mas ser enviada à Umbra... Isso nunca passou pela minha cabeça.

Olho para minha mãe. A loba que me criou está tensa, mas mantém o rosto impassível. Firme. Orgulhosa.

Já Aiden... Ele não consegue esconder o desespero. Está visivelmente tremendo.

A Alcatéia Umbra é considerada amaldiçoada. O Alfa Líder de lá foi acometido por uma terrível maldição. Mas ninguém sabe ao certo o que é.

Boatos correm por todos os cantos. Especulações surgem e se espalham. Nenhuma delas traz algo concreto.

Umbra fica isolada, ao norte. Uma terra tomada pela neve e pelo frio. Ninguém vai para lá de passagem. Quem entra... entra para ficar.

E a maioria que ousa pisar naquele território... São escravos. Prisioneiros. Exilados vendidos por outras matilhas.

Assim como eu. Assim como minha família. Agora.

Perdida em meus pensamentos, silenciosa diante da sentença, sou interrompida pela voz cortante do Alfa Líder:

— Alguma objeção? — A ironia escorre pelas palavras. Ele sabe que não temos escolha.

— Nenhuma, Alfa Líder. Obrigada pelo julgamento. — Respondo com a mesma ironia.

Ele franze a testa. Não gostou. Não conseguiu me afetar como queria.

Ou pelo menos... Foi isso que eu o fiz acreditar.

A sala já estava quase vazia. Os guardas me levaram de volta à prisão.

Lá estavam minha mãe e Aiden. Diferente de mim, não estavam algemados. Nem usavam focinheiras. Não ofereceram resistência.

Antes que os guardas deixassem a cela, minha mãe se pronuncia:

— Quando partiremos, Reagan? — A voz dela é firme, serena.

O guarda suaviza o rosto. Abandona a postura militar por um instante. É visível o respeito que tem por ela. Assim como muitos da matilha.

Apesar de ser uma Ômega, minha mãe sempre foi sábia. E conquistou respeito onde poucos conseguiam.

— A viagem está marcada para amanhã de manhã. Assim que o sol nascer, madame Diana. — A voz dele carrega um tom de pena.

— Entendi… Você pode nos dar mais detalhes de como vai funcionar? — Ela tenta arrancar qualquer informação que nos prepare para o que está por vir.

Reagan hesita. Mas responde:

— Não posso me estender muito, Diana. Mas posso dizer que não será uma viagem fácil. Quando o Alfa exila e vende prisioneiros, eles são obrigados a ir andando até o destino. Não há transporte. No máximo, carros de trilha para os guardas que guiam o caminho. Os prisioneiros... São condenados a seguir a pé.

— O quê?! Não tem como a gente ir andando até Umbra! Isso fica no extremo norte! Nós estamos no extremo sul! Seria pelo menos uma semana de caminhada! — Aiden se exalta. O desespero transparece em cada palavra.

Eu o encaro. E me sinto péssima. Minhas ações respingaram nele também. Ele não merecia isso.

— Sinto muito, mas é assim que vai ser. Enfim, eu não posso conversar mais, desejo boa sorte para vocês amanhã. — Reagan diz com sinceridade, acenando respeitosamente para minha mãe que retribuiu o aceno com carinho. 

Todos os guardas saem. A cela fica em silêncio. Só nós três.

O tempo passa devagar, pesado. Até que Aiden quebra o silêncio:

— Você tinha que se descontrolar como sempre, não é? — A pergunta vem direto pra mim. Cheia de rancor.

— Eu sinto muito. Não calculei carregar vocês junto comigo.

— Típico. Você é mestre em pensar só no próprio umbigo. — Ele retruca, com raiva nos olhos.

— Aiden, chega! — Nossa mãe interrompe, firme. — Não há nada que possamos fazer para mudar nosso destino agora. Brigar com Artemísia não vai tirar a gente daqui.

Aiden se cala. Se j**a no canto da cela, derrotado.

— Eu tinha tanta coisa pela frente… Tenho só dezesseis anos. Acabei de conhecer meu lobo. Ainda ia encontrar minha companheira predestinada… — Ele se lamenta, a voz embargada.

— Você ainda pode fazer tudo isso, Aiden. Nós só vamos nos mudar. Não fomos sentenciados à morte. — Nossa mãe suspira, cansada do drama.

— Mãe, nós vamos pra Umbra! Você tem noção disso? É uma maldita matilha amaldiçoada! Com um Alfa sádico que provavelmente vai nos usar como bonecos de treino pros filhotes demoníacos dele! É pior que a morte! — Aiden está tomado pelo pânico. Parece ter ouvido boatos demais.

— Isso são apenas boatos. Deve ser uma alcatéia com costumes diferentes. Nada que não possamos nos adaptar. Não criei filho meu pra ser covarde. Engole esse medo. Use esse tempo de cela pra refletir e descansar. Amanhã será um dia cansativo.

O silêncio volta. Denso. Quase sufocante.

Mas dura pouco.

A porta da cela se abre com estrondo. Guardas entram abruptamente, agitados, apressados.

— Levantem! Vocês partem agora mesmo! — Um deles ordena, sem espaço para perguntas.

Nos entreolhamos, confusos. A viagem estava marcada para o amanhecer. Algo mudou.

Algo está errado.

E ninguém sabe o que nos espera lá fora.

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