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Capítulo 6: Caminho até Umbra

Não houve tempo para entender, nem para respirar. Fomos arrancados do pouco repouso que nos restava com ordens secas e olhares impacientes.

— Vamos partir agora? Mas por quê? Isso nos fará passar mais uma noite em acampamento. — pergunto, tentando entender a lógica por trás da pressa.

— O Alfa recebeu informações de movimentações suspeitas nas fronteiras sul. Ele quer todos fora antes do pôr do sol. Além disso, hoje enviamos suprimentos para as matilhas do norte, então será uma viagem conjunta. — responde um dos guardas, sem se importar com nossa confusão. Reagan está distante, o olhar perdido, como se algo tivesse quebrado dentro dele.

A urgência era palpável. Fomos organizados às pressas e levados até a caravana de suprimentos. Alguns prisioneiros se juntaram ao grupo, cerca de quinze lobos, todos com o mesmo olhar exausto e resignado. Minhas algemas foram retiradas, mas a focinheira permaneceu. Nela, uma corrente foi acoplada e fixada à traseira de um carro de trilha. Todos os prisioneiros estavam conectados da mesma forma, formando uma fila silenciosa e submissa, como peças de uma engrenagem cruel.

Caminhamos por horas. O sol se despediu atrás das colinas, dando lugar a uma lua tímida e crescente. Esperávamos parar para acampar, mas não foi o que aconteceu. Os guardas se revezavam nos carros, dormindo em turnos, enquanto nós, os prisioneiros, éramos forçados a assumir nossas formas de lobo e continuar a marcha. Quem se recusasse, ficaria sem água e comida pelas próximas horas.

O ritmo era desumano. Dormíamos apenas a cada 48 horas. A privação de sono corroía a sanidade de alguns. Já havia lobos que falavam sozinhos, que choravam sem saber por quê. Eu tentava manter minha mente longe, focada em algo que me impedisse de quebrar. Minha maior angústia era minha família. Havíamos sido separados, posicionados em pontos diferentes da fila, e eu não conseguia saber se ainda estavam bem. Cada passo era uma oração silenciosa para que estivessem firmes. Para que estivessem vivos.

- POV: LIORAN -

— Senhor, está chegando uma nova leva de prisioneiros enviados de Garra Dourada. Devem chegar aqui em três dias. — a voz de Serys, meu Beta e braço direito, ecoa pelo escritório. Reviro os olhos, já prevendo o incômodo.

— Até quando o Tyron vai continuar me enviando mais bocas pra alimentar? Ele acha que somos depósito de prisioneiros agora? — resmungo, irritado.

Serys, como sempre, mantém a compostura.

— O senhor deseja que eu realoque alguns para outras matilhas? Isso pode levar tempo, mas teríamos que recebê-los de qualquer forma.

— Considere essa opção. E aproveite para fazer um balanceamento dos prisioneiros antigos que possam ser transferidos. Inclua também os membros problemáticos.

— Certo, senhor. Começarei a organizar isso imediatamente. Peço permissão para me retirar. — ele faz uma reverência breve, aguardando.

— Já disse que não precisa pedir permissão pra sair ou entrar. Pode ir. — abano a mão, dispensando-o com impaciência.

Serys se curva mais uma vez e desaparece pelo corredor.

Alguns dias se passam. Como sempre, estou trancado no meu escritório, afundado nos assuntos da alcatéia. Não saio da residência alfa. Não me encontro com outros lobos. Minha família me abandonou — e tudo que me resta é trabalho.

Amaldiçoado ou não, sou a porra de um Alfa. E vou agir como tal. Exigir o respeito que um Alfa merece.

Termino de revisar os relatórios deixados por Serys e começo a me organizar para sair. Hoje à noite será de Superlua. Os preparativos dos festivais ficam por conta de Serys e dos sacerdotes. Eu, como sempre, tiro folga o resto do dia.

Noites de Superlua podem ser de celebração para os lobos. Mas não pra mim.

-POV: ARTEMÍSIA-

Finalmente, depois de dez dias exaustivos de caminhada, chegamos à Umbra.

A extensa caravana que partiu no início agora se resume a seis prisioneiros e quatro guardas. O restante se dividiu pelo caminho, parte levando suprimentos às outras matilhas, outra parte simplesmente não aguentou a viagem.

Para meu alívio, dois dos prisioneiros restantes são rostos conhecidos. Não exatamente bem… mas vivos.

Os guardas não se atrevem a passar da porta de entrada do território de Umbra. Nos entregam ali mesmo aos guardas da matilha que agora será nosso novo lar.

Somos levados para dentro com cuidado. Nenhuma palavra é dita durante o trajeto até um estabelecimento simples, que parece funcionar como uma guarita policial.

— Vamos remover suas focinheiras. Mas estejam avisados: qualquer ação suspeita será imediatamente interceptada! — Um dos guardas anuncia, enquanto os outros começam a destravar as máscaras de metal.

Quando o peso do metal desaparece do meu rosto, o alívio é imediato. Foram dez dias com essa merda.

Minha mãe e Aiden também demonstraram alívio. Diana mantém o olhar calmo, mas atento. Aiden, por outro lado, está tomado pelo medo.

Uma movimentação se inicia entre os guardas. Um homem entra no recinto com postura imponente, digna de um oficial de alta patente.

Seus olhos verdes intensos percorrem o ambiente com precisão. O olhar sério e penetrante revela uma mente estratégica e uma determinação inabalável.

Cabelos curtos, castanhos escuros, elegantemente penteados. A expressão severa é complementada por sua vestimenta: um conjunto de combate leve, feito de couro batido em tons de vermelho, preto e prata.

O traje se ajusta perfeitamente ao seu físico alto e musculoso. Sobre os ombros e ao redor do pescoço, uma espessa camada de pele felpuda, clara e aconchegante, oferece proteção contra o frio cortante. Ela se estende também pelos punhos e pela barra da saia de couro que cobre as coxas.

A ausência de armadura pesada indica agilidade. Um estilo mais selvagem, mas não menos autoritário.

Detalhes em metal prateado adornam as fivelas e os acabamentos do couro. Tudo nele grita distinção.

Não é um lobo soldado qualquer. Provavelmente um Beta oficial.

— Sejam bem-vindos à Umbra. — A voz dele é firme. E o peso da nova realidade começa a se instalar.

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