Mundo ficciónIniciar sesiónAurora só queria recomeçar. Antônio sempre tentou fugir de quem o mundo dizia que ele precisava ser. Na Fazenda Horizonte, os dois se encontram — e nada permanece igual. Ela é coragem. Ele é tempestade. E entre eles nasce um amor tão intenso quanto impossível de esconder. Mas segredos, cicatrizes antigas e uma herança que pesa como ferro vão colocá-los à prova. E eles terão que decidir: seguir o destino que esperam deles… ou o amor que escolheram um no outro.
Leer másO sol já se punha atrás das colinas, tingindo o céu com tons de cobre e lavanda. O rancho estava sereno, como se o tempo tivesse aprendido a caminhar devagar ali. As árvores cresceram, a casa ganhou novos cômodos e a varanda agora era o lugar preferido de quem quisesse ver o dia se despedir.Aurora estava sentada na velha cadeira de balanço, com um livro aberto no colo que ela nem lia mais. O vento brincava com algumas mechas soltas do cabelo, e o som distante das risadas de Artur, agora com oito anos, vinha do campo. Ele corria atrás de um cachorro, os dois levantando poeira e vida.Antônio surgiu na porta, com a camisa arregaçada e um olhar tranquilo. Trazia nas mãos duas xícaras de café fumegante e aquele mesmo sorriso de quando tudo recomeçou. — Você sabia que esse menino vai me deixar louco? — perguntou, sentando-se ao lado dela. — Disse que quer construir uma casa na árvore “com varanda e energia elétrica”.Aurora riu, aceitando a xícara. — Filho de quem é, não me espanta. —
A festa começou ainda com o sol alto, dourando cada canto do rancho com uma luz que parecia vinda do próprio céu. O campo respirava celebração — dava pra sentir no ar, no som, até nas folhas que balançavam. As mesas de madeira estavam espalhadas pelo gramado, cobertas com toalhas brancas e flores do campo. Eram simples, mas tão bonitas que pareciam sorrir. Não era luxo, era verdade — e isso bastava. O som das risadas misturava-se com o dos violões e o farfalhar das árvores, e por um instante, tive a sensação de que o mundo inteiro estava em harmonia. Vi os convidados da cidade chegando — homens de sapatos caros, mulheres de vestidos longos, andando devagar, tentando não sujar o salto na terra fofa. Alguns tropeçavam, outros olhavam em volta como se nunca tivessem visto tanto verde. Eu sorri baixinho. No começo, estavam deslocados, mas com o tempo, o rancho fez o que ele sempre faz: acolheu. O riso das crianças, o cheiro da carne assando, o sanfoneiro tocando com o coração — tudo i
— Certo, vamos recapitular — disse Ana, com um caderno aberto no colo e um lápis preso entre os cabelos. — Flores entregues, bolo confirmado, decoração do rancho pronta, vestido passado… ah, e as botas da noiva devidamente engraxadas. Olhei para ela, fingindo indignação. — Você nunca vai superar isso, né? — Nunca — respondeu, rindo. — A noiva mais teimosa que já conheci vai casar de botas. Eu ainda vou escrever um livro sobre isso. Enquanto ela falava, eu ajeitava alguns arranjos na varanda. O rancho estava diferente — iluminado, colorido, com o cheiro doce das flores misturado ao aroma de pão que vinha da cozinha. Mamãe e dona Dê estavam lá dentro, trocando receitas e histórias, enquanto os homens ajudavam a montar as luzes no gramado. Do lado de fora, o entardecer pintava o céu de dourado. Tudo parecia respirar uma calma que vinha depois de longas tempestades. — Sabe o que é engraçado? — comentei, parando por um instante. — Mesmo depois de tudo o que passamos… eu sinto paz. C
A noite chegou devagar, com o céu pintado em tons profundos de azul e violeta. O vento trazia o cheiro do campo molhado e o som dos grilos preenchia o silêncio entre uma conversa e outra. Depois de colocar Artur para dormir, saí até o alpendre. A lua estava alta, redonda, tão bonita que parecia observar tudo com ternura. Sentei-me na antiga cadeira de balanço, o mesmo lugar onde, quando menina, eu ouvia mamãe cantar baixinho antes de dormir. O tempo parecia suspenso ali — nem o relógio, nem as preocupações do mundo tinham permissão de entrar. Antônio se aproximou em silêncio. Trazia duas xícaras de chá nas mãos, e um sorriso tranquilo que me fez sentir o coração se aquecer. — Achei que você ainda estaria acordada — disse ele, entregando-me uma das xícaras. — Está tudo tão quieto lá dentro. — O rancho dorme cedo — respondi com um leve riso. — Mas eu queria ficar mais um pouco... é como se o tempo fosse mais generoso à noite aqui. Ele se sentou ao meu lado, e ficamos olhando o céu
O dia amanheceu calmo, com o sol nascendo por trás das colinas e tingindo o céu de tons alaranjados e rosados. O orvalho ainda brilhava sobre a grama, e o ar fresco da manhã trazia o perfume leve da terra úmida misturado ao som distante do riacho. Tudo parecia respirar paz. Coloquei meu vestido longo — aquele florido que dançava com o vento —, calcei as botas e ajeitei o chapéu de palha. Peguei a cesta que havia preparado e levei Artur comigo até o campo, onde o horizonte parecia não ter fim. Ele já conseguia se sentar, firme, com aquele jeitinho curioso de quem descobria o mundo um pedacinho por vez. Estendi a toalha no chão e espalhei as frutas: pedacinhos de mamão, banana e uva cortada ao meio. Artur batia as mãozinhas, encantado, e quando pegou um pedaço de mamão, levou direto à boca, lambuzando-se todo. Ri baixinho, sentindo o coração se aquecer com aquela cena simples, mas perfeita. — Olha só, meu amor, você já é quase um homenzinho — murmurei, limpando o rostinho dele com um
Algumas semanas haviam se passado desde o enterro de Bezerra. A dor já não queimava tanto, mas ainda existia — silenciosa, contida, como uma sombra que se recusava a ir embora. Aos poucos, Antônio se sentia melhor a empresa começava a se reerguer. Eu e Felipe havia conduzido a comunicação com a mídia com uma habilidade que impressionou a mim mesma, e, com a ajuda de Lucas, conseguimos conter o impacto do escândalo. O nome Bezerra voltava a ser sinônimo de confiança, embora por dentro eu soubesse que nada voltaria a ser como antes. O rancho também fora recuperado. Um novo ciclo, como se cada pedaço de terra ali respirasse alívio. Eu dizia que aquele lugar parecia curar o que o mundo corporativo destruía — e, no fundo, era isso mesmo. Naquela manhã, eu estava no escritório, revisando relatórios e conversando com Felipe, quando a secretária avisou que uma mulher pedia para vê-la. Levantei o olhar, surpresa ao ouvir o nome. — Hellen? — repeti, hesitante, antes de autorizar a entrada.





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