Mundo de ficçãoIniciar sessãoEm uma única noite chuvosa, o mundo de Ariel desmoronou. Traída pelo namorado e desesperada para salvar a vida da avó doente, ela acaba salvando uma garotinha de um atropelamento. Mas, em vez de gratidão, ela recebe desprezo. O pai da menina é Dante Velasquez, um CEO frio e arrogante, que a humilha e a acusa de ser uma sequestradora. O destino, porém, é traiçoeiro. Para sobreviver, Ariel aceita trabalhar na mansão de Dante como babá, a única capaz de fazer a filha dele sorrir. Entre as provocações e a convivência forçada, Dante descobre que Ariel esconde um talento brilhante para os negócios e uma beleza que o faz questionar todas as suas regras. Mas o perigo bate à porta. Chantageada por Henrico, um herdeiro da máfia e poderoso inimigo da família de Dante, Ariel é forçada a fazer uma escolha: Ser espiã de Henrico ou assistir sua avó morrer.
Ler maisARIEL MACEY
— Setenta mil dólares, senhorita Macey. — A voz do médico não era cruel, apenas profissional, o que não tornava a situação nada melhor. — A válvula cardíaca da sua avó não vai aguentar mais que algumas semanas. O seguro cobriu a internação básica, mas os especialistas e o procedimento cirúrgico estão fora da rede de cobertura. Precisamos desse depósito para agendar.
Setenta mil dólares. Eu tinha trezentos na conta e um aluguel atrasado.
— Eu... eu vou conseguir. — Minha voz saiu trêmula. — Por favor, doutor, mantenha ela estável. Eu vou arrumar esse dinheiro.
Me despedi antes que ele pudesse duvidar da minha promessa. Minha avó era tudo o que eu tinha. A mulher que me criou. Eu não a deixaria morrer.
Saí do hospital correndo, o céu da cidade já estava escurecendo com aquelas nuvens escuras que prometiam uma tempestada.
Preciso falar com Liam.
Nós morávamos juntos há seis meses em um apartamento no centro. Liam vinha de família estável financeiramente. Ele sempre dizia que "nós" éramos um time. Ele tinha economias e poderia me emprestar, eu pagaria cada centavo com juros, trabalharia em três turnos se precisasse. Mas ele me ajudaria. Ele me amava.
Peguei um táxi, gastando um dinheiro que não deveria, mas era urgente. O trânsito de hora do rush estava um inferno, buzinas e fumaça, mas minha mente estava presa no quarto de hospital e no rosto pálido da minha avó.
Quando cheguei ao nosso prédio, o porteiro nem me olhou, acostumado com minha presença. Subi as escadas de dois em dois degraus. Enfiei a chave na fechadura do apartamento 4C, girando com pressa.
— Liam, amor, eu preciso de voc...
A frase morreu na minha garganta. A sala estava bagunçada, roupas de grife espalhadas pelo caminho até o quarto, cuja porta estava escancarada. Mas não foi a bagunça que me paralisou.
Foi o som. Gemidos. Altos e claros. E uma voz feminina que definitivamente não era a minha, gritando o nome dele.
Avancei porque meu cérebro se recusava a processar a informação sem a confirmação visual.
Parei assim que alcancei a porta e vi Liam por cima de uma mulher loira, as mãos dele apertando os quadris dela com uma possessividade que ele raramente demonstrava comigo ultimamente. Eles estavam frenéticos, suados, a cama rangendo num ritmo obsceno.
— Que porra é essa?!
Liam parou seus movimentos, mas não houve susto, nem pulo de culpa. Ele apenas parou o movimento, respirando pesado, e virou o rosto para mim. A mulher embaixo dele soltou um risinho abafado, puxando o lençol para cobrir os seios, mas sem nenhum sinal real de vergonha.
— Você não sabe bater, Ariel? — Liam perguntou. O tom dele era de irritação, como se eu tivesse interrompido algo banal, não uma traição nojenta na nossa própria cama.
— Bater? No meu próprio apartamento? — Entrei no quarto, com as mãos fechadas em punho. — Minha avó está morrendo, Liam! Eu vim aqui pedir sua ajuda, e encontro você fodendo essa... essa vadia na nossa cama?!
A mulher se sentou, apoiando as costas na cabeceira.
— "Vadia" não, querida. Brenda. E pelo visto, o apartamento é mais dele do que seu, já que quem paga o aluguel integralmente há dois meses é ele.
Olhei para Liam, esperando que ele a mandasse calar a boca. Esperando que ele dissesse que foi um erro, um deslize estúpido. Qualquer coisa.
Mas ele apenas saiu de cima dela, pegou a boxer no chão e começou a vesti-la, sem nem olhar na minha cara.
— Ela está certa, Ariel. Você virou um fardo. "Liam, paga a conta de luz", "Liam, preciso de ajuda com as compras". E agora, ia me pedir quanto? Dez mil? Vinte mil dólares? Para aquela velha que já devia ter morrido?
O tapa que eu dei na cara dele foi instintivo. Minha mão ardeu, mas a satisfação durou pouco.
Liam virou o rosto devagar de volta para mim e segurou meu braço com força, apertando até doer.
— Você nunca mais encosta em mim, sua parasita ingrata.
Ele me jogou contra o guarda-roupa. Minhas costas bateram na madeira dura e eu deslizei até o chão, atordoada.
— Sai. — Ele apontou para a porta.
— O quê? — perguntei, tentando recuperar o fôlego.
— Sai do meu apartamento. Agora. Acabou, Ariel.
— Liam... eu não tenho para onde ir... minha avó...
— Problema seu. — Ele foi até a sala, pegou minha bolsa que eu tinha largado no sofá e, sem cerimônia, abriu a porta do apartamento e a jogou no corredor do prédio. — Você tem cinco minutos para pegar suas roupas, ou eu jogo tudo pela janela.
— Você é um desgraçado! — gritei, levantando e indo para cima dele novamente. Eu queria machucá-lo, queria que ele sentisse uma fração da dor que estava me causando.
Mas ele era mais forte. Apenas riu, segurou meus pulsos e me arrastou até a porta.
— Vai chorar suas mágoas em outro lugar. Amanhã suas roupas estarão na porta, busque ou dou aos mendigos.
Ele bateu a porta na minha cara. Fiquei parada no corredor, ouvindo as risadas dos dois lá dentro recomeçarem. Peguei minha bolsa do chão, me sentindo um lixo, e desci as escadas.
Quando pisei na calçada, o céu desabou.
A água gelada encharcou minhas roupas em segundos, colando o tecido no meu corpo, misturando-se com as lágrimas quentes que eu não conseguia mais segurar.
Caminhei sem rumo pelas ruas movimentadas.
Setenta mil dólares. Sem casa. Sem namorado. Sem dignidade.
— O que eu vou fazer? — sussurrei para o nada. — Vó, me perdoa...
Eu estava na orla de uma avenida movimentada, onde os prédios empresárias e condomínios de luxo se amontoavam.
Quando vi do outro lado da rua um vulto pequeno. Uma garotinha. Não devia ter mais de cinco anos. Vestido rosa florido, cabelos molhados pela chuva e correndo.
Não sei o que ela viu, ou talvez estivesse fugindo de algo, mas ela se lançou para a avenida movimentada sem olhar para os lados.
Um carro vinha em alta velocidade, meus pés reagiram antes do meu cérebro e me lancei no asfalto.
Foi um salto desesperado. Meu corpo colidiu com o dela com força. O impacto nos tirou do chão e voamos para o canteiro central. Caímos rolando. A lama fria e suja entrou na minha boca. Tentei proteger a cabeça da menina com meus braços, girando meu corpo para que eu recebesse o impacto do meio fio.
Senti uma dor aguda no ombro quando batemos, e paramos.
Fiquei deitada por um segundo, ofegante. A chuva caía impiedosa sobre nós.
— Ei... ei... — Tentei falar, cuspindo terra. Me sentei com dificuldade, sentindo meu ombro pulsar.
A menina estava encolhida nos meus braços, chorando, mas parecia inteira. Suja de lama da cabeça aos pés, o vestido rosa agora marrom, mas viva.
— Você se machucou? — perguntei, passando a mão no rosto dela para limpar a sujeira.
Antes que ela pudesse responder, ouvi pneus cantando. O som de freios travando no asfalto molhado, seguido por uma porta de carro sendo aberta com violência.
— LUNA!
Olhei para cima, limpando a lama dos olhos.
Um homem alto vinha em nossa direção. Vestia um terno de aparência cara, que estava sendo arruinado pela chuva sem que ele parecesse se importar.
Ele era intimidante. Ombros largos, maxilar travado, olhos escuros que pareciam prestes a me engolir. Ele chegou até nós e, sem dizer uma palavra para mim, arrancou a menina dos meus braços. Ele a examinou rapidamente, virando o rostinho dela, checando os braços e pernas.
O homem a abraçou com força, por um segundo um alívio visível relaxou seus ombros, mas durou pouco. Ele a colocou no chão, atrás de suas pernas, protegendo-a com o próprio corpo e então seus olhos se voltaram para mim.
Eu ainda estava sentada na lama. Minha roupa estava destruída, meu cabelo era uma maçaroca suja, meu rosto devia estar irreconhecível sob a sujeira. Eu devia parecer uma sem-teto.
— Senhor, eu só... — comecei a explicar.
— Quem te contratou para sequestrar a minha filha, sua golpista?!
ARIEL MACEY— Qual é a sua escolha?Escolha. Uma palavra engraçada para alguém que claramente não tem nenhuma opção.Havia apenas a vida da única pessoa que me amava no mundo de um lado, e a minha integridade moral do outro. E, honestamente, moral não mantinha o coração de ninguém batendo.Henrico me observava com paciência, um sorriso mínimo curvando os lábios.Respirei fundo, sentindo o cheiro de ferrugem invadir meus pulmões.— Eu aceito. Eu faço o que você quer. Apenas... deixe ela em paz.O sorriso de Henrico se alargou, transformando-se em uma expressão de triunfo genuíno. Ele se virou para os homens armados que formavam o semicírculo ao nosso redor, abrindo os braços como um mestre de cerimônias apresentando sua atração principal.— Não falei que ela era inteligente? — Ele perguntou e uma risada coletiva, grave e perturbadora, irrompeu dos homens. O som me fez encolher na cadeira, lembrando-me de hienas cercando uma presa.Eles assentiram, murmurando concordâncias, olhando para
ARIEL MACEY— Desligue isso, cara mia. É rude cegar seu anfitrião.A voz era a mesma do telefone. Fiquei paralisada, incapaz de processar a imagem.Ele era lindo. De uma forma perturbadora e quase artificial. Devia ter cerca de trinta e poucos anos. Cabelos escuros, penteados para trás com perfeição. O rosto tinha traços aristocráticos, nariz reto, maxilar definido. Mas o que me prendeu foram os olhos, que pude ver quando baixei a lanterna ligeiramente.Eram de um verde tão claro que pareciam vidro. E havia uma cicatriz fina, quase imperceptível, cortando a sobrancelha esquerda, dando-lhe um ar de pirata moderno e sofisticado.Ele sorriu. Um sorriso que não alcançava os olhos frios.— Luzes — ele ordenou, estalando os dedos.Escutei o som de disjuntores sendo acionados e holofotes potentes no teto se acenderam de uma vez, inundando o galpão com uma luz branca e cegante.Levei a mão aos olhos, tonta com a mudança brusca.Quando minha visão se ajustou, o terror tomou conta de mim. Eu nã
ARIEL MACEYAs palavras do desconhecido giravam na minha cabeça como um carrossel macabro.Não havia espaço para dúvida, nem para o ceticismo racional. Eles sabiam sobre a minha avó. Sabiam sobre o hospital. Sabiam até o número do meu celular. É óbvio que não estavam para brincadeira.O relógio digital na cabeceira mudou os números. 22:50.Eu tinha que sair. Agora.Levantei da cama num salto. Corri para o armário vazio, minhas mãos tatearam as poucas peças que tinham sobrevivido. Arranquei a camisa velha e vesti uma calça jeans preta, que estava um pouco apertada, e uma blusa de manga longa cinza escuro. Calcei meus tênis, amarrando os cadarços com muita força.Olhei-me no espelho por um breve segundo. A garota que me encarava de volta estava pálida e os olhos arregalados de terror.— Coragem, Ariel — sussurrei para o reflexo, embora não sentisse coragem nenhuma. Apenas desespero. — É pela vovó. É só pela vovó.Peguei minha bolsa, verifiquei se a carteira e o celular estavam lá, e cam
ARIEL MACEY— O que está acontecendo aqui?As três mulheres pularam de susto. Ester perdeu a cor e se virou rapidamente, desfazendo o sorriso cruel em uma fração de segundo, substituindo-o por uma cara falsa de inocência.Alfredo estava parado na porta. O rosto gentil e acolhedor, estava endurecido com decepção e autoridade.— Sr. Alfredo... nós só estávamos... — Ester gaguejou, mostrando as toalhas. — Ajudando a nova moça a se acomodar. Trazendo o básico.— Ajudando? — Alfredo ergueu uma sobrancelha grisalha, seus olhos varrendo as risadinhas nervosas das outras duas empregadas e parando na postura defensiva de Ester. — Eu ouvi risadas e ouvi bem os insultos. Devo lembrar a vocês que o Sr. Velasquez tem tolerância zero para perturbações na ordem desta casa? E eu tenho menos ainda para crueldade entre a equipe.— Não foi nossa intenção, senhor. Foi apenas uma... brincadeira.— Saiam — Alfredo ordenou, apontando para o corredor. — Voltem aos seus postos. E Ester... se eu ouvir mais um
ARIEL MACEYLuna era leve como uma pluma. Ela se aninhava contra o meu peito, o rosto escondido na curva do meu pescoço.O senhor Velasquez tinha ficado no escritório, provavelmente contando seu dinheiro ou afiando os chifres de demônio.— Por aqui, senhorita Macey — a voz de Alfredo era suave, um bálsamo bem-vindo depois dos gritos do patrão.Eu o segui, ajustando Luna nos braços. O chão era coberto por carpetes tão grossos que abafavam nossos passos. As paredes eram adornadas com quadros que provavelmente valiam mais do que todas as casas em que já morei somadas.Alfredo parou diante de uma porta branca com detalhes em dourado e a abriu, revelando um quarto que parecia ter saído de um conto de fadas.— Esse é o quarto da senhorita Luna — anunciou ele, dando passagem.Entrei devagar. Havia uma cama de dossel com cortinas de voil rosa, estantes repletas de brinquedos que pareciam nunca ter sido tocados e uma janela enorme que dava para o jardim.Coloquei Luna sentada na cama. Mas ela
DANTE VELASQUEZO som de algo estilhaçando contra a parede aumentou minha frustração.— Inferno!Passei as mãos pelo rosto, esfregando os olhos com força. Levantei da cadeira de couro, ignorando a pilha de contratos na minha mesa. Saí para o corredor. O vaso da dinastia Ming, que estava na família há gerações, era agora apenas cacos caros no chão. Olhei para Alfredo, meu mordomo e, infelizmente, a única figura paterna que eu tive na vida, já que meu próprio pai estava ocupado demais sendo um desgraçado antes de morrer. Alfredo estava ajoelhado, tentando acalmar a pequena figura encolhida no canto.Luna estava tremendo. Os bracinhos finos abraçados aos joelhos e o rosto escondido.— Ela rejeitou o jantar, senhor Dante — informou, levantando os olhos cansados para mim. — E quando tentei oferecer a boneca nova... bem, o vaso foi o resultado.Havia muitas coisas que eu era capaz de realizar, mas fazer minha filha de cinco anos parar de chorar não era uma delas.— Onde está a babá? A Sr















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