Mundo de ficçãoIniciar sessãoARIEL MACEY
— O que está acontecendo aqui?
As três mulheres pularam de susto. Ester perdeu a cor e se virou rapidamente, desfazendo o sorriso cruel em uma fração de segundo, substituindo-o por uma cara falsa de inocência.
Alfredo estava parado na porta. O rosto gentil e acolhedor, estava endurecido com decepção e autoridade.
— Sr. Alfredo... nós só estávamos... — Ester gaguejou, mostrando as toalhas. — Ajudando a nova moça a se acomodar. Trazendo o básico.
— Ajudando? — Alfredo ergueu uma sobrancelha grisalha, seus olhos varrendo as risadinhas nervosas das outras duas empregadas e parando na postura defensiva de Ester. — Eu ouvi risadas e ouvi bem os insultos. Devo lembrar a vocês que o Sr. Velasquez tem tolerância zero para perturbações na ordem desta casa? E eu tenho menos ainda para crueldade entre a equipe.
— Não foi nossa intenção, senhor. Foi apenas uma... brincadeira.
— Saiam — Alfredo ordenou, apontando para o corredor. — Voltem aos seus postos. E Ester... se eu ouvir mais um sussurro, um riso abafado ou um comentário desrespeitoso dirigido à Srta. Macey, será a última coisa que fará como funcionária desta família. Fui claro?
— Sim, senhor.
Ester lançou um último olhar raivoso para mim e saiu apressada, com as duas seguidoras em seus calcanhares.
Quando ficamos sozinhos, Alfredo se virou e sorriu para mim.
— Srta. Ariel — ele começou, a voz voltando a ser suave. — Peço desculpas pelo comportamento delas.
— Não precisa pedir desculpas por elas, Alfredo.
Alfredo assentiu.
— Como desejar, minha querida. Mas saiba que minha porta está aberta se a incomodarem novamente. Agora vou retornar aos meus afazeres.
Ele saiu, fechando a porta suavemente.
Me deitei na cama, guardei cada gota de tristeza e a transformei em combustível. Eu aguentaria Ester. Aguentaria a falta de roupas. Aguentaria o Diabo de terno. Tudo pela minha avó.
UMA SEMANA DEPOIS...
Havia exatamente uma semana que eu morava na mansão Velasquez, e se eu tivesse que definir a experiência em uma palavra, seria: pesadelo.
Mas, para meu alívio encontrei a única pessoa capaz de manter meu coração funcionando: Luna.
A menina era um anjo. Nossa comunicação pelo tablet evoluiu. Ela me contou sobre as cores que gostava, sobre o medo que tinha de trovões e sobre a saudade da mãe, embora nunca tocasse no assunto de por que parou de falar. Eu, por minha vez, contava histórias da minha vida, evitando as tristezas recentes.
Já com o "lorde" da casa... a convivência era inexistente, para minha sorte.
Vi Dante Velasquez poucas vezes naquela semana, e em todas elas, desejei ter o poder da invisibilidade.
Certa manhã, cruzei com ele no topo da escada. Ele parou, bloqueando meu caminho. Seus olhos escuros desceram pelo meu corpo, analisando minha blusa que era a mesma do primeiro dia. Ele não disse nada. Apenas torceu o nariz em uma expressão de desgosto. Depois, seguiu seu caminho, digitando no celular, como se eu não valesse nem o oxigênio gasto em um cumprimento. Coincidentemente, depois disso meus uniformes chegaram.
Minha avó continuava na UTI. O dinheiro que Dante jogou na lama serviu para pagar os exames pré-operatórios, mas o relógio estava correndo.
A propósito, se Dante era o diabo silencioso, Ester e suas seguidoras eram os demônios barulhentos do inferno.
Eu havia acabado de descer para o jantar dos funcionários. Era a pior hora do dia.
A cozinha estava cheia de aromas deliciosos, mas na mesa de serviço, o ar era tóxico.
— Cuidado para não engasgar — a voz de Ester falou.
Levantei os olhos. Ela estava sentada do outro lado, cercada pelas outras duas camareiras, todas me encarando com sorrisos maldosos.
— O que foi agora, Ester? — perguntei, cansada.
— Nada — ela deu de ombros, tomando um gole de suco. — É que deve ser um choque para o seu organismo. Sabe, sair de comer lixo na rua para comer a comida do Sr. Ben. O estômago de pobre costuma rejeitar comida de qualidade.
As outras riram, cobrindo a boca com as mãos.
Apertei o garfo com tanta força que meus dedos doeram.
— Para sua informação — comecei, mantendo a calma, embora por dentro quisesse virar a mesa — eu nunca comi do lixo. Mas vendo a sua atitude, tenho certeza de que a sua educação veio de lá.
O sorriso de Ester sumiu.
— Olha como fala comigo, sua vadia de rua. Você acha que engana quem com essa pose de santa?
— Ao menos me comporto e faço meu trabalho bem feito, ao contrário de certas pessoas que gastam mais tempo cuidando da vida alheia do que limpando os quartos — retruquei, levantando-me. Perdi a fome.
— Vai fugir? — ela provocou. — Vai lá chorar no seu travesseiro e sonhar com a vida que você nunca vai ter. Aproveita enquanto dura, Ariel. Porque logo, logo, o patrão vai cansar de ver essa sua cara de miséria pelos corredores.
Deixei meu prato quase intocado na pia e saí da cozinha, sentindo as costas queimarem com os olhares delas.
Subi as escadas, entrei no meu quarto e tranquei a porta com a chave, girando-a duas vezes.
Tirei a roupa e vesti uma camisa velha que usava para dormir. Deitei na cama, sentindo o corpo e a mente esgotados.
Faltava pouco para o pagamento. Só mais um dia. Depois de recebê-lo vou me sentir mais motivada.
Fechei os olhos, tentando invocar a imagem do rosto de Luna sorrindo para me acalmar, mas o toque estridente do meu celular sobre a mesa de cabeceira me fez abrir os olhos, assustada. O relógio digital marcava 22:45.
Quem ligaria a essa hora?
Hospital. Só podia ser o hospital.
Peguei o aparelho com as mãos trêmulas, mas não havia identificação. Apenas "Número Desconhecido".
Atendi mesmo assim.
— Alô? É do hospital? Está tudo bem?
— Ariel Macey? — A voz era masculina, mas estava distorcida. Não era médico nenhum.
— Sou eu... Quem está falando?
— A situação da sua velha mudou. Parece que o coração dela resolveu entrar em colapso mais cedo do que o previsto. Ou talvez os aparelhos estejam prestes a falhar... acidentalmente.
— O quê? Do que você está falando?! Você está no hospital?!
— Calma, boneca. Eu não estou no hospital. Ainda. Mas eu tenho o poder de decidir se ela vê o sol nascer amanhã ou não.
Minha mente buscava uma explicação lógica, minha avó e eu somos pessoas comuns, por que alguém faria essa ameaça?
— O que você quer? Dinheiro? Eu não tenho nada agora, mas vou receber...
— Eu não quero dinheiro. Quero presença. Estou enviando um endereço agora. Um galpão na zona portuária.
— Moço, acho que você se enganou de alvo... Eu não sou ninguém — Expliquei quase chorando.
— Já disse o que tinha para dizer. Se quiser que sua avó sobreviva a esta noite, venha a este endereço agora e não avise ninguém. — Em seguida, ele desligou.







