2 - Como uma prostituta barata

ARIEL MACEY

— Quem te contratou para sequestrar a minha filha, sua golpista?!

— É o quê?! — A pergunta saiu num engasgo

Forcei meu corpo a obedecer, ignorando a dor aguda que irradiava do meu ombro até o quadril, e tentei me levantar. Meus pés escorregaram na lama, me fazendo parecer patética, como um animal recém-nascido tentando ficar de pé.

— Você ouviu muito bem. — A voz dele me fez estremecer. Ele não recuou um milímetro. Pelo contrário, parecia crescer diante de mim, uma parede de arrogância. — Quanto? Cem mil? Duzentos? É esse o preço para encenar um resgate e depois extorquir um pai desesperado?

— Você é doente! — Gritei, finalmente conseguindo ficar ereta, embora minhas pernas tremessem. Limpei a lama do rosto com as costas da mão, espalhando ainda mais a sujeira, mas eu precisava que ele visse meus olhos o encarando com ódio. — Eu me joguei na frente de um carro para salvar ela! Eu podia ter morrido!

— Não inventem mentiras e confesse logo quem te contratou. — Ele deu um passo em minha direção, os olhos escuros varrendo meu estado deplorável com nojo evidente. — Me dê um motivo para eu não chamar a polícia agora e mandar te prenderem por tentativa de sequestro e fraude?

Abri a boca para mandá-lo para o inferno e gritar que ele era um doido varrido, mas uma voz externa se meteu.

— Ei! Ei, espera aí!

Um homem de meia-idade, segurando um guarda-chuva preto enorme, correu da calçada em nossa direção, parando a uma distância segura, mas perto o suficiente para ser ouvido acima do barulho da chuva.

— O que você está fazendo gritando com ela? — O homem apontou para mim, depois encarou o gigante de terno. — Eu vi tudo da esquina. A menina correu para a rua sozinha. Ninguém empurrou ela. Essa moça... ela se jogou do nada. Foi um milagre ninguém ter morrido. Ela salvou a criança, cara.

O silêncio que caiu entre nós três. O desconhecido alternava o olhar entre nós, chocado com a cena.

O homem de terno não olhou para a testemunha. Os olhos dele permaneceram fixos nos meus. Eu esperava ver o pedido de desculpas se formar. Esperava ver a vergonha, a humanidade, qualquer sinal de que ele percebia o erro monstruoso que tinha cometido ao me acusar.

Mas o rosto dele permaneceu inexpressivo como se fosse feito de pedra.

Ele olhou para a filha, que soluçava baixinho agarrada à perna dele, e depois voltou a me olhar. 

— Entendo — ele disse, com a voz desprovida de qualquer emoção ou gratidão.

Sem quebrar o contato visual, ele enfiou a mão no bolso interno do paletó molhado e sacou uma carteira de couro preta.

Meu estômago revirou.

— O que você está fazendo? — sussurrei, sentindo uma nova onda de humilhação, pior do que a lama, pior do que a traição de Liam.

Ele não respondeu. Abriu a carteira, puxou um maço grosso de notas e, com um movimento casual do pulso, soltou o dinheiro.

Não bastava o fato dele estar me pagando ao invés de pedir desculpas, para me humilhar em dobro, ao invés de entregar as notas na minha mão ele as deixou cair.

As notas flutuaram por um segundo antes de aterrissarem na lama aos meus pés. Algumas foram imediatamente encharcadas pela água suja, outras começaram a ser arrastadas pela enxurrada que corria para o bueiro.

— Pelo serviço — ele disse com desdém, como se estivesse pagando uma prostituta barata.

Antes que eu pudesse reagir, antes que eu pudesse cuspir na cara dele ou jogar aquele dinheiro de volta, ele se virou. Pegou a menina no colo, protegendo a cabeça dela da chuva, e marchou de volta para o SUV preto.

— Vamos, Luna.

Ele entrou no carro, batendo a porta com força. O motor rugiu, e em vez de sair com cuidado, ele pisou fundo no acelerador. Os pneus grandes giraram na água empoçada do asfalto e lançaram um jato de água imunda, óleo e lama diretamente em mim.

Fechei os olhos e virei o rosto, sentindo o impacto gelado atingir minhas costas.

Fiquei parada ali, uma estátua representativa da miséria, enquanto as luzes vermelhas da traseira do carro desapareciam na chuva.

O homem do guarda-chuva ainda estava lá, me olhando com pena.

— Moça... você quer ajuda? Quer que eu chame alguém? Aquele cara é um idiota.

— Não — minha voz saiu embargada. — Não precisa. Obrigada.

Ele hesitou, mas vendo que eu não me moveria, acabou seguindo seu caminho, balançando a cabeça.

Fiquei sozinha. Eu, a chuva, e o dinheiro na lama.

Olhei para baixo. As notas de cem dólares estavam lá, sujas, misturadas com a terra. Era humilhante. Cada fibra do meu ser, cada pedaço do orgulho que minha avó tentou cultivar em mim, gritava para eu deixar aquele dinheiro apodrecer ali. Gritava para eu virar as costas e ir embora de cabeça erguida, mantendo a única coisa que me restava: minha dignidade.

Mas então, a imagem da minha avó no leito do hospital veio à mente. O som do monitor cardíaco. "Setenta mil dólares". O rosto de Liam rindo enquanto me expulsava. O frio que eu sentia nos ossos.

Dignidade não pagava cirurgias cardíacas. Orgulho não me daria um teto para dormir nas próximas noites.

Me agachei. Meus joelhos protestaram ao tocarem o chão duro novamente. Estendi a mão trêmula e peguei a primeira nota. O papel estava úmido e sujo de lama marrom. Peguei a segunda. A terceira.

Eram muitas. Havia pelo menos dois ou três mil dólares ali espalhados. Não pagaria a cirurgia, mas pagaria os remédios de emergência. Pagaria um quarto de motel barato para eu tomar um banho e tirar essa sujeira da pele. Pagaria comida e transporte. Meu único plano é arranjar um emprego rapidamente que pague um salário bom o bastante para conseguir um empréstimo.

Recolhi tudo, sentindo as lágrimas quentes se misturarem com a chuva no meu rosto. Eu não estava chorando de tristeza. Agora eu estava chorando de ódio. Um ódio puro, destilado, que queimava no meu peito como ácido.

Apertei o maço de dinheiro sujo contra o peito, sujando ainda mais o que restava da minha blusa.

— Eu juro — sussurrei para o asfalto vazio, minha voz ganhando força no meio do temporal. — Eu juro que se eu voltar a ver a cara desse homem, ele vai ouvir tudo que ficou engasgado!

Levantei-me, guardei o dinheiro encharcado na bolsa e comecei a caminhar, mancando, para longe dali. Eu vou salvar minha avó. Custe o que custar e doa a quem doer. 

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