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4 - É bom saber se comportar, queridinha

ARIEL MACEY

Luna era leve como uma pluma. Ela se aninhava contra o meu peito, o rosto escondido na curva do meu pescoço.

O senhor Velasquez tinha ficado no escritório, provavelmente contando seu dinheiro ou afiando os chifres de demônio.

— Por aqui, senhorita Macey — a voz de Alfredo era suave, um bálsamo bem-vindo depois dos gritos do patrão.

Eu o segui, ajustando Luna nos braços. O chão era coberto por carpetes tão grossos que abafavam nossos passos. As paredes eram adornadas com quadros que provavelmente valiam mais do que todas as casas em que já morei somadas.

Alfredo parou diante de uma porta branca com detalhes em dourado e a abriu, revelando um quarto que parecia ter saído de um conto de fadas.

— Esse é o quarto da senhorita Luna — anunciou ele, dando passagem.

Entrei devagar. Havia uma cama de dossel com cortinas de voil rosa, estantes repletas de brinquedos que pareciam nunca ter sido tocados e uma janela enorme que dava para o jardim.

Coloquei Luna sentada na cama. Mas ela não me soltou, seus dedinhos agarravam minha blusa com força, consegui afastá-la gentilmente para olhar em seu rosto.

— Senhorita Macey — Alfredo chamou da porta. — Luna rejeitou o jantar ontem à noite e hoje... bem, com toda a confusão, ainda não comeu nada. Seria bom se a senhorita conseguisse convencê-la a tomar o café da manhã.

Olhei para a menina. Ela parecia exausta, não apenas de sono, mas de tristeza. Luna tinha cabelo loiro que não pude notar na primeira vez que nos vimos por estar encharcado, seus olhos era castanhos médios e ela tinha uma aparência muito fofa e meiga. Nada a ver com aquele progenitor.

— Pode deixar, Alfredo. Eu cuido disso.

— Vou pedir para trazerem uma bandeja imediatamente. — ele fez uma reverência e saiu, fechando a porta.

Voltei minha atenção para Luna que me observava com atenção. 

— Ei... — sussurrei, estendendo a mão para limpar um rastro de lágrima na bochecha dela. — Por que você está tão triste, hum? Seu pai te assustou?

Luna piscou, mas não emitiu som. Ela abriu a boca, como se quisesse falar, mas fechou-a logo em seguida, desviando o olhar.

Franzi a testa. De repente, a pergunta do arrogante durante a "entrevista" retornou para minha mente: "Tem experiência com crianças mudas ou traumatizadas?"

O entendimento caiu sobre mim. Ela não falava. 

— Tudo bem — mudei o tom, sorrindo. — Você não precisa falar. Mas sabe, sou ótima em adivinhação.

Luna me olhou de soslaio. Em seguida, escorregou da cama e correu até uma mesinha branca no canto do quarto. Pegou um tablet rosa e voltou correndo, subindo na cama com a agilidade de um esquilo.

Ela digitou algo rapidamente e virou a tela para mim.

A caligrafia digital era torta, típica de uma criança aprendendo a escrever, e tinha aqueles erros adoráveis de alfabetização, mas a mensagem fez meu coração aquecer.

"Vose paece Ariel, ela é a minha pincesa favorita."

Sorri, sentindo alegria genuína.

— Isso é um cargo muito importante — brinquei. — Mas pensei que a Cinderela fosse mais bonita.

Ela negou com a cabeça veementemente, puxou o tablet de volta e escreveu mais um pouco.

"Vose é muito bonta. E salvou a Luna."

Li a frase duas vezes. "Salvou a Luna". Ela entendia o que tinha acontecido na rua. E, ao contrário do pai, ela sentia gratidão.

— Obrigada, querida — agradeci e toquei a mãozinha dela sobre a tela. — É muito bom saber que a gente vai poder conversar assim. Ninguém precisa de voz quando tem palavras bonitas como as suas.

Ela sorriu. Foi um sorriso tímido, mas iluminou o rosto dela e apagou a tristeza dos olhos.

Duas batidas na porta interromperam nosso momento.

— Entre — falei.

A porta se abriu e uma mulher entrou carregando uma bandeja. Ela usava um uniforme de empregada, preto e branco, mas a expressão que surgiu em seu rosto ao me ver destoava da formalidade da roupa.

Ela era bonita, de um jeito fatal. Cabelos pretos muito lisos, maquiagem um pouco exagerada para o horário e olhos escuros que me avaliaram com desdém.

— O café da menina — Avisou, sem sequer um "bom dia", demonstrando sua má vontade.

— Obrigada — respondi, mantendo a educação, mesmo detectando a hostilidade imediatamente. — Pode deixar na mesa.

Ela caminhou até a mesinha, os quadris balançando de forma exagerada, colocou a bandeja com um baque desnecessariamente alto e se virou para sair, me lançando um último olhar de cima a baixo, como se eu fosse um incomodo.

Ignorei.

— Olha só isso — falei, trazendo a bandeja para a cama. — Panquecas, biscoitos, suco... Parece que alguém sabia que você estava com fome. Vamos comer tudo para as suas pernas crescerem igual a da Ariel?

Luna soltou uma risadinha e pegou o garfo.

Ela comeu com vontade, o que me aliviou. 

Quando terminou, Luna bocejou e os olhos pesaram. 

— Hora da soneca? — sugeri.

Ela assentiu e se deitou. Aconcheguei o edredom sobre ela. Em minutos, a respiração dela ficou lenta e rítmica.

Peguei a bandeja vazia e levantei. Precisava levar isso para a cozinha e descobrir onde eu dormiria.

Abri a porta do quarto sem fazer barulho e saí para o corredor. Dei três passos em direção à escada quando senti uma mão agarrar meu braço com força.

O puxão foi tão violento que a bandeja oscilou perigosamente e tive que fazer um malabarismo rápido para não derrubar tudo.

— Ei! Você é louca? — me virei bruscamente para a empregada de antes.

— Olha aqui, garota — ela começou, apontando um dedo com a unha perfeitamente pintada de vermelho na minha cara. Talvez tenha aprendido essa grosseria com o patrão. — Não pense que só porque você é um pouquinho bonita e a menina foi com a sua cara, você já é a dona da casa.

Franzi a testa, incrédula.

— Do que você está falando? Me solta.

Ela soltou meu braço, mas permaneceu no lugar.

— Estou falando de você se achando grande coisa. Já vi muitas passarem por aqui achando que podem seduzir o Sr. Dante ou que vão virar a nova senhora da mansão só porque cuidam daquela... da menina.

Seduzir quem? Aquele homem desprezível? A vontade de rir era quase tão grande quanto a vontade de jogar o copo de suco na cara dela.

— Escuta aqui — dei um passo à frente, fazendo-a piscar surpresa. — Primeiro, estou aqui para trabalhar, não para participar da sua disputa imaginária. Segundo, se você tem tanto tempo livre para vigiar minha vida, deveria usar para aprender a ter educação. E terceiro: se encostar em mim de novo, a gente vai ter um problema bem grande.

Sustentei o olhar dela. A empregada bufou, ajeitou o avental com raiva e deu as costas.

— Se quiser manter o emprego por um bom tempo, é bom saber se comportar, queridinha. Aqui não é lugar para gente da sua laia — ela jogou o cabelo por cima do ombro e saiu rebolando pelo corredor.

— Eu, hein... — murmurei, balançando a cabeça. — Isso é uma casa ou um hospício?

Desci as escadas, encontrando Alfredo. Ele parecia estar me esperando.

— A senhorita Luna comeu? — perguntou esperançoso.

— Tudinho. E já dormiu de novo.

O alívio no rosto do mordomo foi visível e ele sorriu.

— Excelente. O senhor Dante ficará... menos irritado. — Imagino que dizer que aquele homem ficaria feliz era exagero. — Venha, vou apresentar a equipe e mostrar seus aposentos.

Segui Alfredo até a cozinha, onde ele reuniu rapidamente os funcionários. Havia o cozinheiro, Sr. Ben, um homem simpático. Dois jardineiros que apenas acenaram de longe. Cinco empregadas e, claro, a louca do corredor.

— Esta é Ester — Alfredo apresentou, apontando para ela. — Responsável pela arrumação do segundo andar. E esta é a senhorita Ariel, a nova babá da senhorita Luna. Devem tratá-la com o mesmo respeito que dedicam a mim.

Houve um coro de "sim, senhor", exceto por Ester, que apenas murmurou algo inaudível.

— Agora, seus aposentos — Alfredo continuou, guiando-me para fora da cozinha.

Meu quarto ficava na ala leste, próximo ao de Luna. Quando Alfredo abriu a porta, soltei um suspiro involuntário. Cama de casal, banheiro privativo, armário, uma escrivaninha e uma janela com vista para o jardim.

— Espero que seja do seu agrado.

— É perfeito. Obrigada, Alfredo.

— Vou deixá-la se instalar. Suas malas... — Ele olhou ao redor, notando que eu não tinha nada além da minha bolsa tiracolo. — Ah. Bem, você ainda precisa pegar. O senhor Dante providencia uniformes, se desejar, mas no seu caso não é obrigatório. Com licença.

Assim que ele saiu, fechei os olhos e me joguei na cama macia. Liam, aquele canalha, tinha jogado minhas roupas fora. Consegui recuperar algumas peças na calçada, mas a maioria estava arruinada pela lama ou rasgada. Eu estava vestindo minha melhor roupa.

Ouvi a porta abrir sem baterem antes. Sentei-me rapidamente.

Ester entrou, seguida por outras duas empregadas mais jovens que pareciam segui-la como filhotes obedientes. Elas traziam toalhas e alguns itens de higiene.

— Viemos ver se a "princesa" precisa de ajuda — Ester falou sarcasmo.

Elas entraram no quarto, os olhos varrendo o espaço vazio.

— Nossa, que espaçoso — uma das meninas mais novas comentou, soltando uma risadinha. — Onde estão as roupas dela?

— É verdade — Ester caminhou até o closet vazio e passou o dedo na prateleira.

Eu não tinha o que responder, quando as poucas peças que eu tinha chegassem não ocuparia nada ali.

— Talvez ela esteja esperando o caminhão de mudança — a outra zombou.

— Caminhão de mudança? — Ester riu, virando-se para mim. — Olha para a roupa dela. Essa aí não tem onde cair morta. Deve ter vindo para cá fugida da favela, achando que ia dar o golpe do baú no patrão.

— Saiam do meu quarto.

— O quarto não é seu, fofa. É do Sr. Velasquez — Ester retrucou. — Você é só a empregada da vez. E pelo visto, uma empregada mendiga.

— É, deve usar a mesma calcinha há três dias — a mais nova completou, e as três explodiram em risadas cruéis.

Abri a boca para mandá-las para o inferno, mas uma voz masculina veio da porta, silenciando as risadas instantaneamente.

— O que está acontecendo aqui?

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