ISABELLA
A luz do fim de tarde entrava pela janela da sala, longa e dourada — uma calma enganadora. Nós dois sentados, mais perto do que por hábito, mais longe do que por confiança. Entorpecidos pela realidade. Havia papéis espalhados na mesa: laudos, relatórios, carimbos. Mas, naquele momento, falávamos de algo que nenhum papel poderia decidir. Mamãe quase não quis sair do meu lado, seus olhos gritavam culpa. Não existimos por minha proteção, e todos os acontecimentos recentes minaram isso. Tento me concentrar no ambiente, buscando sentir algo. Alessandro respirou fundo, os dedos mexendo no copo antes de falar. A voz saiu baixa, direta. — Isa… — Uma familiaridade a qual eu não era acostumada, ouvi-lo dizer “Isa”, me desprendia de toda realidade que vivi até agora — eu sei que nada que eu diga agora apaga o que fizeram com você. — Ele fez uma pausa, olhando para o meu rosto. — Antes de mais nada: perdão