ISABELLA
O banheiro está silencioso. Só o som da torneira pingando e meu coração batendo tão alto que parece ocupar todo o espaço. O resultado está ali, entre meus dedos. Pequeno, frio, impessoal. Duas linhas. Claras, incontestáveis. Respiro fundo, mas o ar não entra. A mão treme. Eu, treinada para atirar no escuro, para atravessar florestas cheias de predadores, para matar antes de ser morta… agora tremo diante de um pedaço de plástico barato. Meu estômago se contrai. Não é enjoo, diferente do que senti durante toda a semana — é medo. Medo de algo que nunca enfrentei: não um inimigo, não a morte, mas uma vida. Nunca fui criança. Nunca tive colo, bonecas, aniversários. Só flechas, cortes e ordens. E agora… dentro de mim cresce algo que é completamente inocente. Como um dia eu fui! A culpa me engole. O mundo em que vivo não perdoa inocentes, e o de Alessandro não escolhe vítimas. Não posso