Na manhã seguinte ao hospital, a cidade acordou com pressa. O céu prometia chuva, mas não cumpria. Eduardo chegou ao fórum antes das oito, abriu a janela do gabinete e deixou que o ar frio desfizesse o resto de sonho. No canto da mesa, a folha dobrada com as três linhas que ele mesmo escrevera meses antes: “Não contaminar. Não abandonar. Não esquecer.” Releu, como quem confere a própria coluna antes de erguer peso.
— Agenda — disse Letícia, entrando com o bloco. — Duas audiências, uma reunião com o corregedor e… — hesitou — uma comunicação do programa de testemunhas: reforço de perímetro por 48 horas. Pedem chancela do juízo.
— A testemunha teve movimentação suspeita? — Eduardo perguntou, sem usar o nome.
— Tentativa de sondagem nas imediações. Nada rompido. — Letícia guardou a caneta. — Quer despachar agora?
— Quero. — Ele respirou fundo. — E prepare nota técnica para a reunião: ética do contato. — Viu o estranhamento dela. — Vão querer insinuações. Eu quero papéis na frente.
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