Eduardo acordou antes do relógio. O céu de Curitiba ainda estava no tom indeciso entre noite e manhã quando ele abriu o bloco sobre a mesa e escreveu, sem pensar muito: “Proteger sem expor.” A frase parecia simples; era um labirinto. Proteger quem? Como? Sem transformar em gesto o que ainda era só reconhecimento íntimo de uma voz que um dia o manteve vivo na estrada.
Passou os olhos pelo planejamento do dia. Três despachos, uma reunião com o Ministério Público, duas oitivas de baixa complexidade. Embaixo da pilha, a cópia da audiência da véspera — a que tinha feito o mundo dele deslocar um grau. Respirou. Forma. Sempre forma.
No gabinete, chamou Henrique. — Vou reforçar o protocolo de proteção a testemunhas — disse, como quem anuncia a troca de lâmpadas do corredor. — Nada ostensivo. Ajustes na agenda, transporte agendado, horários escalonados, uma escolta discreta quando necessário. E eu quero que isso seja regra, não exceção.
Henrique entendeu no ato. — Tudo “procedimental”. Sem n