O fórum respirava cedo. O som dos passos no corredor parecia mais baixo do que em outros dias, como se as paredes soubessem guardar o que estava por acontecer. Eduardo ajeitou a toga e sentou, a caneta alinhada com o bloco, o relógio dois dedos para a esquerda. O processo era simples: uma oitiva para confirmar horários de entrega num laboratório terceirizado. Nada que, em condições normais, exigisse coração. Mas aquela manhã tirava o termo “normal” da pauta.
— Audiência aberta — anunciou, voz limpa. — Testemunha Vivian Oliveira, por favor.
O nome ecoou como quando alguém diz “casa” depois de muito tempo fora. Vivian entrou com uma pasta fina junto ao peito, cabelo preso de modo prático, sem perfume forte, sem enfeites. Uma jovem comum, era isso que qualquer um veria. Eduardo ouviu primeiro o timbre do “bom dia” e soube. O corpo lembra o som que o salvou.
— Senhora Vivian, compromissada com a verdade? — ele perguntou, formal.
— Sim, excelência — respondeu, a mesma firmeza de quem sabe