Há dez anos ele a contratou para gerar seu herdeiro. Apenas um acordo frio... e noites quentes que marcaram os dois mais do que deveriam. Contrariada entregou o bebê e desapareceu no mundo. Agora, Dayse retorna como CEO de um império construído em silêncio, Voltou para resgatar o filho que foi forçada a entregar. E disposta a revelar segredos que podem abalar as estruturas de poder daquela família. Ele sem saber que se trata da mesma pessoa, se apaixona por ela novamente. A mulher que um dia teve nas mãos — e deixou partir. Mas será que o amor pode sobreviver onde só deveria haver ódio? Spin-off: Renata retorna ao Brasil acompanhando Dayse, para ajudar na implantação da filial do grupo empresarial. Há quase dez anos mantém um relacionamento aberto com Matheo, mas ele não aceita mais essa condição e a pede em casamento pela milésima vez. Renata, marcada pelo passado traumático (um filho perdido em circunstâncias violentas), decide confrontar os responsáveis por sua dor expondo seus segredos. No Brasil, cruza novamente com alguém ligado ao seu inimigo. Esse reencontro desperta uma paixão inesperada, que se torna também uma arma — capaz tanto de destruir quanto de libertar. O prazer intenso vira a linha tênue entre destruir-se ou reconstruir-se — amar o inimigo ou matá-lo dentro de si.
Ler mais“Assine.”
O advogado empurrou o contrato como quem passa uma fatura.
Se assinasse aquele papel, não haveria volta.
Suas mãos estavam trêmulas, cada movimento parecia carregado de significado e desespero...
Pela primeira vez, seus dedos tocaram a caneta. Sentiu o peso inesperado do objeto, como se carregasse mais do que tinta e metal — como se fosse um julgamento, uma sentença, um ponto de não retorno.
Depois, sem pressa, sem hesitação, colocou-a de volta sobre a mesa.
O papel poderia esperar.
Dayse ergueu os olhos e encarou o homem.
— Está faltando uma cláusula — disse, com voz firme.
— Quero que conste que nenhuma decisão médica será tomada sem meu consentimento.
O silêncio foi gélido. O advogado hesitou.
— Isso não é usual…
— Mas vai ter que ser. Ou terão que achar outro útero.
O advogado deu um suspiro e saiu por um momento para incluir a cláusula que ela pediu.
Ao seu lado, os pais adotivos, Edmund e Vivian Antonelli, mantinham-se imóveis, observando tudo com a indiferença calculada de quem assiste a mais uma transação empresarial.
A mãe evitava seu olhar — preferiu refugiar-se na tela do celular, como se houvesse algo ali infinitamente mais relevante do que a filha que um dia escolheu acolher.
Edmund, por sua vez, lançava olhares impacientes ao relógio, como quem conta os segundos para que aquilo termine logo.
Dayse sabia que, para eles, esse contrato significava livrar-se de um fardo.
Para ela, era a condenação a uma vida incerta ao lado de um homem que sequer conhecia.
Edmund a olhou com fúria contida.
— Que palhaçada é essa?
Dayse não recuou.
— Pare com isso Dayse, estamos com pressa — disse Edmund, com a voz ríspida e impaciente. — Assine logo e poupe-nos de mais drama.
O "drama" era a vida dela sendo vendida. Dayse olhou para o contrato com os olhos marejados. Palavras curtas. Frases diretas. Sem sentimentalismo.
“A noiva compromete-se a residir na propriedade da família Bellucci, pelo período de um ano, tempo necessário para a concepção e a gestação de um herdeiro.”
“Após o nascimento da criança, a noiva deixará a propriedade e não terá direito a nenhum vínculo com o bebê.”
Ela engoliu em seco,
Dezoito anos. Nenhuma escolha. Nenhum afeto verdadeiro. Apenas uma promessa repetida em silêncio dentro dela desde a adolescência: um dia, eu vou sair dessa casa. Um dia, eu vou ser dona de mim...
Mas hoje não era esse dia.
— Assine logo — murmurou a secretária da família Bellucci, Luna Vasquez, elegante e precisa como uma lâmina afiada.
— O Sr. Bellucci já havia assinado anteriormente. Estávamos aguardando apenas você. Agora teremos que incomodá-lo novamente por causa dessa cláusula ridícula.
O nome dele fez o coração de Dayse acelerar.
Enzo Bellucci. Um nome que já era um peso antes mesmo de se tornar realidade. O homem a quem deveria se unir, a quem deveria entregar um filho. Um rosto que nunca viu, uma presença ausente, mas paradoxalmente opressora.
Ele não veio. Não precisou vir. Seu nome já havia sido suficiente para traçar os contornos da sua influência sobre ela. Ele enviou o contrato e, com isso, selou o que esperava dela: obediência.
A caneta tremia entre os dedos.
— Por que ele não veio? — perguntou, num sussurro que quase não chegou à superfície.
— Ele não precisa estar aqui — respondeu Luna, com um sorriso gelado. — Afinal, já está tudo acordado. E... pago.
A palavra cortou mais fundo que qualquer outra.
Pago.
Ela não era uma noiva. Era uma transação. Um ventre alugado.
Dayse olhou para a porta por um segundo. Ela podia se levantar. Podia correr. Podia fugir daquele lugar, daquela vida, daquele nome.
Mas correria para onde?
Voltou o olhar para o papel. A tinta já começava a borrar de tanto que seus olhos ardiam.
Segurou a respiração. Apertou os dentes. E, com a mão trêmula, assinou.
O som da caneta deslizando sobre o papel foi surpreendentemente suave, irônico na suavidade com que selava um destino tão brutal.
Era um gesto simples que carregava o peso de algo muito maior — uma entrega à incerteza, um passo em direção ao desconhecido, um pacto silencioso com as consequências que ainda viriam.
Luna recolheu o contrato sem cerimônia e o colocou na pasta de couro.
— Um carro estará na porta da sua casa às dezenove horas. Vista-se conforme as instruções no envelope — disse ela, entregando um envelope selado.
— O Sr. Bellucci espera você esta noite na propriedade. O quarto já está preparado.
Dayse não respondeu. Estava vazia por dentro.
Ela se levantou devagar, os joelhos quase falhando. O mundo parecia um pouco mais cinza. Mais opressor.
Antes de sair da sala, ainda ouviu a voz de Edmund, baixa e cortante:
— Não me envergonhe, Dayse. Esse é o seu papel. Faça valer o que custou.
Ela não olhou para trás. Não precisava. Já tinha decorado o desprezo no rosto dele.
Lá fora, o vento frio bateu contra sua pele como um tapa. O céu estava nublado, o fim da tarde parecia pesar sobre seus ombros como se o mundo inteiro estivesse de luto.
Ela atravessou a calçada sozinha. Sem vestido de noiva. Sem buquê. Sem sorrisos. Com um contrato na bolsa e um nó apertado na garganta.
“Ela assinou. E naquele instante, mais do que esposa, tornou-se prisioneira.”
“O cérebro apaga; a pele arquiva.” — (Anotação de R.)Acordei, mas não descansada. Acordei gasta. O sono não foi abrigo — foi campo minado.Desde que voltei ao Brasil, a paz me evita. Os pesadelos voltaram com dentes afiados, mastigando o que resta de calma.Os dez anos na Croácia foram um oásis: Dayse e os meninos, que eu amo como se fossem meus, e Matheo — meu porto e, às vezes, o único chão que não cede quando piso.Bastou cruzar o oceano e a casa que eu tinha por dentro começou a ranger. Cada tábua do assoalho da minha mente geme com um som que não reconheço, mas que meu corpo parece conhecer intimamente.Por que eu não lembro?Infância, adolescência, a vida antes de Dayse — um corredor sem lâmpadas. Eu forço minha mente, mas ela não me diz nada. Apenas frieza e silêncio.Como se alguém tivesse apagado propositalmente cada traço de memória do meu passado, nada que provasse a minha existência de dez anos pra trás.Fiquei na cama mais tempo que o necessário, olhando para o teto.Há
“Quando a memória é dopada, o passado vira arquipélago: pedaços de terra cercados por mar que alguém despejou.” — Anotação de R.(...)A noite caiu sobre a cidade, trazendo consigo a trilha sonora vibrante da vida — buzinas, vozes, o pulsar incessante que, em outros dias, me fazia sentir parte de algo maior. Me ancorava.Mas naquela noite, ao deitar, senti meu corpo preso no presente enquanto minha mente já navegava sem permissão em outra direção, ousava revisitar o passado. Não como invasão, mas como reconhecimento — aquele momento em que você percebe que a casa em chamas no horizonte é a sua.O relógio marcou 00:00.Os números brilhantes do despertador projetaram-se no teto. Não como ameaça, mas como estrelas que me convidavam a enxergar além da escuridão. Contagem regressiva para algo que eu não sabia nomear mas que meu corpo já conhecia.E então o sonho veio.Sem bater. Sem avisar.Como sempre.Mas, dessa vez, eu não lutei. Eu o acolhi. Deixei que ele me carregasse, porque talvez
“Corajoso não é quem não tem medo. É quem tem medo e segue em frente assim mesmo.” — (Clarice Lispector)(...)O dia escorreu em tarefas úteis — aquelas que te mantêm funcionando quando por dentro tudo está desmoronando.No meio da tarde, uma sombra de éter atravessou meu nariz. O cheiro veio do nada, fantasma químico que não deveria estar ali. Meu corpo quase tropeçou num corredor que de repente parecia antigo, conhecido, perigosoParei. Apoiei a mão na parede.“Respira. Pelo diafragma. Devagar.”Atenção, não medo. O passado, hoje, fica no caderno. Não aqui. Não agora....No fim do expediente, a equipe foi embora em ondas. Vozes se despedindo, passos se afastando, portas se fechando até sobrar só o silêncio e eu.Eu precisava de ar. Ar de verdade, não esse reciclado de escritório que sufoca mais do que ajuda.Decidi caminhar as duas quadras até a esquina para levar um documento que um fornecedor tinha esquecido. Poderia mandar por motoboy — seria mais rápido, mais seguro, mais sensa
“Confiança é luxo; procedimento, sobrevivência.” — (Anotação de R.)(...)Seguimos examinando os documentos.Rafael separou as etiquetas por turno e ala — dedos precisos, quase cirúrgicos, movendo papel fino como quem manuseia fragmentos arqueológicos. Joana criou um mapa do período, linha por linha, mas só dois dias, três horários. Devagar. Como eu tinha pedido, embora nenhuma de nós tivesse dito em voz alta que era porque nossas cabeças não aguentariam mais.Escolhi duas etiquetas próximas à minha. Meia hora de diferença entre uma e outra. Pequenos passos, porque abraçar o mundo hoje seria me afogar nele.— Começamos por aqui — Joana apontou, a voz baixa, quase íntima. — AP-Leste. Mesma assinatura da sua: MV.Ela não disse “a que te chamava de Helena”. Não precisou.— Se cruzarmos com listas de plantão, requisições de material... — continuou, desenhando conexões invisíveis no ar com a ponta da caneta.— Chegamos na sala sem alarde.“Sem que ninguém perceba que estamos desenterrando
“Quando falta chão, a gente confere se o chá ferve — e se a mão treme.” — (Anotação de R.)(...)7h30. Joana chegou no minuto exato. Cabelo preso mais apertado que o costume, uma urgência mal escondida no canto da boca. Estranha? Ansiosa? Seria impressão minha?Ou sou eu que estou ficando paranoica? Quando a vida inteira ameaça virar uma mentira bem construída, a paranoia aprende a andar descalça dentro da gente.“Quem é você, Joana? O que está escondendo? O que quer de mim?”As perguntas martelavam na minha cabeça enquanto eu abria a porta e forçava um sorriso que não sentia.Agora que a chamei antes de Rafael, passei a ideia de que tinha suspeitas sobre ele. Mas a verdade era mais sombria: eu suspeitava dos dois. De todos. Do mundo inteiro.Confiança tinha se tornado um luxo que eu não podia mais me dar.— Chá? — ofereci, minha voz saindo mais casual do que meu coração acelerado permitia.— Chá — ela aceitou, e o alívio no tom dela me perguntou se eu ainda sei medir pessoas ou se er
“Corajoso não é quem não tem medo. É quem tem medo e segue em frente assim mesmo.” — (Clarice Lispector)...Antes de sair da sala de Dayse coloquei a máscara. Eu vestia um terno grafite, que custou quase três meses de salário; o cabelo preso com firmeza; e o batom vermelho, marcando os lábios como quem destaca uma frase importante.Cada peça de roupa tinha um propósito de proteção. Cada detalhe parecia uma declaração de guerra.“Você não vai me quebrar. Não hoje.”Até o meio-dia, o trabalho tentou me salvar do caos que sentia por dentro: contratos para revisar, prazos que não esperavam, uma ligação tensa com Miguel sobre a parceria Bellucci.Números, planilhas, cláusulas... Coisas concretas, que faziam sentido.Quando desliguei o computador, vi Joana refletida no vidro — cabelo preso num rabo de cavalo mais alto do que o de costume, olhos mais baixos, como se ela também carregasse um peso enorme.Ela trouxe alguns relatórios e, ao devolver, o que consegui oferecer foi uma confiança s
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