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Capítulo 8 ― O Rastro de Ar no Jardim

O sol da manhã invadia o quarto de Dayse com uma suavidade quase mágica, seus raios dourados dançando pelas janelas e tocando cada cantinho do ambiente. Sentada à mesa, ela observava o café da manhã ainda intocado à sua frente. O papel com o cronograma do dia continuava ali, sem mudanças: exames, suplementos, repouso.

Dayse soltou um suspiro longo, os olhos presos nas linhas do cronograma à sua frente, como se cada palavra reforçasse a monotonia que a aprisionava.

Pegou a xícara de café com mãos ligeiramente trêmulas, mas não levou aos lábios. Em vez disso, inalou profundamente o aroma forte e amadeirado, deixando que aquele perfume quente e familiar fosse o único conforto naquele instante de silêncio sufocante.

A luz do sol parecia sussurrar promessas de um dia diferente, mas o papel na sua frente insistia em lembrá-la da realidade.

“Exames, suplementos, repouso”, repetiu em voz baixa, como se essas palavras pudessem ganhar vida e mudar tudo ali.

Porém, naquela manhã havia algo diferente no ar. Luna entrou mais cedo do que de costume e, com a mesma expressão fria de sempre, anunciou:

— O senhor Bellucci estará ausente pelos próximos dias devido a uma viagem de negócios. Durante esse período, você passará por um tratamento rigoroso para estimular a ovulação, pois ele deseja otimizar o tempo e evitar múltiplas tentativas frustradas.

Nenhum detalhe, nenhuma explicação além daquelas poucas palavras. Por algum motivo, aquilo soou como um sussurro de alívio em seus ouvidos. Sem a presença dele, o ar parecia menos pesado, o mármore frio da mansão menos sufocante. Era estranho, mas por um breve instante, Dayse sentiu que podia respirar sem a sensação constante de estar sendo observada.

Mais tarde, após uma sessão silenciosa de acupuntura com uma das médicas da equipe, ela finalmente foi liberada para descansar e não esperou por Luna para voltar ao quarto.

Ao passar por uma das janelas do corredor, Dayse percebeu algo fora do comum: a porta lateral que dava acesso aos jardins, normalmente trancada, estava entreaberta. Sem hesitar, um impulso tomou conta dela.

Desceu as escadas por um caminho proibido, cada passo acelerando seu coração, misturando medo e excitação. Ao atravessar a cozinha, ouviu vozes distantes, mas ninguém se moveu para detê-la. Era como se, por um breve momento, o mundo ao seu redor tivesse baixado a guarda, permitindo-lhe aquela pequena fuga.

Dayse empurrou a porta lentamente, e pela primeira vez desde que chegara àquela mansão, sentiu o vento fresco acariciar sua pele.

Os jardins se estendiam vastos diante dela: roseiras perfeitamente alinhadas, trilhas de cascalho branco que se entrelaçavam entre canteiros e, ao fundo, um pequeno lago artificial refletindo o céu cinzento.

A beleza dos jardins era imponente, quase exagerada — mais uma prova do poder e da ostentação do que um refúgio verdadeiro.

Naquele instante, aquele espaço parecia pulsar com a essência dela, como se o mundo ao redor tivesse suspendido sua marcha apenas para acolhê-la. Fechou os olhos, permitindo que a brisa tocasse sua pele como um sussurro de liberdade — efêmera, mas profundamente valiosa.

Ela caminhava lentamente, como se o chão pudesse ceder sob seus pés a qualquer momento, e ainda assim ela avançava, guiada por uma força tênue, mas inquebrantável.

Seus cabelos longos dançavam ao sabor do vento, enquanto o casaco claro flutuava suavemente sobre o vestido branco, compondo uma cena de delicadeza quase etérea, uma figura frágil em meio à grandiosidade ao seu redor.

Sem se dar conta, deixou atrás de si um rastro invisível, como uma assinatura silenciosa, um testemunho de que, por um breve momento, as grades que a cercavam haviam se desfeito, permitindo-lhe respirar o mundo lá fora.

Ao longe, ouviu o som de um motor leve. Quando se virou, viu um jovem carregando algumas ferramentas numa caixa. Usava um uniforme azul-marinho, com o nome de uma empresa bordado no peito. Ele não era da casa e, pelo jeito, não a via como a “senhora Bellucci”. Para ele, ela era apenas uma mulher no jardim.

— Bom dia — disse ele, de forma bem natural. Dayse hesitou por um segundo; ninguém tinha falado com ela daquele jeito desde que chegou ali.

— Bom dia — respondeu ela, com a voz baixa.

O homem a observou por um momento, como quem avalia se está atrapalhando.

— Não costumo passar por aqui nesse horário. Vim para verificar o sistema de irrigação da ala norte. Os hidrantes internos estão apresentando problemas.

― Entendi ― ela respondeu, um alívio sutil na voz por finalmente falar com alguém que não a via como um objeto.

― Você é da casa? ― ele perguntou, a curiosidade suave, quase hesitante.

Ela demorou um instante, os olhos desviando por um breve momento antes de soltar um sorriso meio vago, como se guardasse um segredo.

― Mais ou menos.

Ele assentiu, respeitando o limite implícito na resposta, já se afastando, quando parou por um instante, hesitando.

― Bom, se precisar de alguma coisa... ― disse, apontando para o bolso do uniforme onde estava a identificação com seu nome bordado: Thiago.

― Então lembre-se de usá-lo ― acrescentou, com um sorriso discreto, como se oferecesse uma pequena ponte entre eles.

O silêncio que se seguiu não era vazio; carregava a promessa de um contato possível, um reconhecimento mútuo em meio à distância que os cercava. Thiago, com seu jeito simples, mostrava que, apesar das barreiras, havia espaço para um pouco de humanidade naquele lugar.

— Sou da empresa que cuida da manutenção do sistema hidráulico da mansão. Venho aqui uma vez por mês, geralmente entrando discretamente pra não incomodar os figurões.

Dayse agradeceu com um sorriso tímido, sentindo uma leveza inesperada ao falar com Thiago.

― Então... obrigada, Thiago.

Ele retribuiu o sorriso com gentileza, mas já começava a se afastar, sem fazer perguntas ou prolongar a conversa. Talvez nem percebesse o quanto aquele pequeno gesto significava para ela.

Pela primeira vez em muito tempo, Dayse sentiu que não estava completamente sozinha. E, às vezes, tudo o que precisamos para seguir em frente é exatamente essa sensação ― ser vista, mesmo que por poucos instantes.

De volta ao quarto, ela se sentou à escrivaninha, pegou o caderno e anotou cuidadosamente a presença e a disposição de Thiago. Talvez ele pudesse ser útil no momento certo, e ela queria estar preparada para isso.

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