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Capítulo 9 ― A Moça da Rosa Branca

Os dias seguintes foram longos e indistintos, mergulhados no protocolo de fertilidade que avançava a passos firmes.

Dayse passava por eles como quem atravessa um nevoeiro espesso: os mesmos corredores, os mesmos exames, os rostos frios que pareciam não mudar nunca. Luna agora fazia parte de tudo aquilo. Ela nunca dizia mais do que o necessário, mas seus olhos estavam sempre atentos: observando, anotando, avaliando.

O protocolo de fertilidade avançava. As injeções aumentaram e, com elas, também apareceram os efeitos colaterais: enjoos, dores de cabeça, noites sem dormir. Tudo isso Luna registrava cuidadosamente, cada detalhe anotado.

“A senhora Bellucci está respondendo bem ao tratamento”, dizia o relatório. Era assim que ela era descrita ali: uma resposta, um corpo funcionando, uma esperança em andamento.

Dayse conseguiu voltar algumas vezes ao jardim, burlando a vigilância de Luna, na tentativa de encontrar Thiago. Aquele pequeno encontro continuava a aquecer seu coração e o jardim continuava sendo o único espaço que pulsava com uma energia diferente da frieza mecânica da casa.

E foi ali, entre as flores, que um dia Thiago reapareceu, trazendo consigo uma leve descontração e um olhar genuíno.

Naquela manhã, o som familiar do motor elétrico chamou a atenção de Dayse, que ergueu os olhos para ver Thiago caminhando despreocupado entre os arbustos floridos da ala norte.

Ele carregava uma caixa de ferramentas no ombro, os fones de ouvido pendurados no pescoço, vestia um boné surrado e uma camiseta manchada de graxa sob o uniforme ― um contraste evidente com o ambiente impecável e controlado da mansão.

A cena transmitia a simplicidade do trabalho manual em meio à opulência ao redor, como se Thiago fosse uma presença genuína e despretensiosa naquele mundo cuidadosamente construído. O jardim, com suas flores e trilhas, parecia ganhar vida não apenas pela natureza, mas pela energia humana que ele trazia ao espaço.

Ao vê-la, Thiago parou por um instante, seus olhos pousando na pequena flor branca presa ao bolso lateral do vestido dela. Com um sorriso suave, ele acenou levemente e disse:

― Bom dia, moça da rosa branca.

Dayse arqueou a sobrancelha, surpresa e confusa.

― O quê?

Thiago apontou para a flor com delicadeza.

― É a única flor que não combina com o resto desse jardim. Parece você.

A rosa branca, colocada ali desde o café da manhã por alguma das copeiras, talvez por engano, passou despercebida por Dayse até aquele momento.

A comparação de Thiago não era apenas sobre a cor ou o contraste; havia uma sutileza na observação que sugeria algo mais profundo ― a singularidade dela em meio à rigidez daquele lugar.

Na linguagem das flores, a rosa branca simboliza pureza, esperança e novos começos. 

Assim, o apelido de Thiago carregava uma camada de significado silencioso, como se ele reconhecesse nela uma presença distinta e delicada em meio àquele ambiente frio e controlado.

Esse pequeno gesto, simples e espontâneo, abriu uma brecha na barreira invisível que cercava Dayse, revelando uma conexão humana inesperada. A interação entre eles, ainda que breve, trouxe à tona nuances emocionais profundas, mostrando como pequenos detalhes podem carregar grandes significados e transformar relações.

Essa resposta integra o simbolismo da rosa branca, a dinâmica interpessoal entre Dayse e Thiago, e o impacto emocional sutil do momento, conforme indicado nas fontes.

— Você vem aqui todo mês, não é Thiago? ― perguntou Dayse.

— Mais ou menos. Às vezes adiantam ou atrasam, dependendo da rotina da casa. Mas, na maior parte do tempo, ninguém dá muita atenção pra mim. Faço o que preciso e sigo meu caminho.

Dayse ficou quieta, observando. Thiago falava com naturalidade, sem forçar, como quem não espera uma resposta. Talvez por isso ela sentisse que podia relaxar um pouco, por um instante.

— Não deve ser fácil trabalhar aqui — ela comentou, depois de um tempo.

Thiago deu de ombros, com um sorriso tranquilo no rosto.

— Na verdade, nem entro dentro da casa. Fico só nos sistemas externos: canos, bombas, o esgoto... tudo aquilo onde ninguém quer pisar. — Ele riu, de um jeito leve e despreocupado. — Prefiro assim.

Dayse, que não sorria há semanas, deixou escapar um sorriso discreto, quase imperceptível, mas cheio de significado. Ela sabia que ali ninguém tinha a liberdade de partir quando quisesse.

Ele era alguém podia entrar e sair pela porta dos fundos sem precisar dar explicações.

— Um dia eu também vou conseguir sair daqui — ela disse, mais para si mesma.

Thiago não respondeu de imediato, mas seu rosto mudou — não de surpresa, mas de um respeito profundo. Parecia que, naquele silêncio, ele tinha entendido um pedido de ajuda.

― Se precisar de ajuda com algum encanamento teimoso ― disse ele, com um sorriso que parecia carregar histórias não contadas ― basta bater três vezes na tampa do registro da estufa. É como deixar um recado no vento. Eu sempre passo por lá antes de ir embora, então, qualquer mensagem que deixar, eu vou encontrar.

Antes que ela pudesse responder, Luna apareceu ao longe, do lado oposto do jardim, observando com olhos atentos.

Dayse disfarçou, abaixando-se calmamente, como se estivesse pegando uma folha caída no chão, fingindo apenas passear. Quando olhou novamente, Thiago já estava se afastando, sumindo entre os arbustos.

Ao entrar no quarto, Dayse colocou a rosa branca em um copo com água, um sorriso enigmático iluminando seu rosto. Claro que ela tinha algo em mente... Talvez uma fuga, com a ajuda do Thiago. Ela queria manter esse contato, porque sentiu que podia confiar nele e aquilo lhe dava esperança.

Alguns dias depois, Luna entrou no quarto com uma expressão diferente. O rosto ainda era o de sempre, mas havia algo nos olhos — um brilho quase satisfeito, quase triunfante.

― Você deverá estar pronta para amanhã ― disse ela, com uma frieza cortante.

― O senhor Bellucci volta no fim desta tarde. O médico acredita que esse seja o momento ideal para a concepção.

Dayse não respondeu imediatamente, absorvendo cada palavra. Luna, sem demonstrar qualquer emoção, continuou: haverá um banho especial com óleos e uma roupa adequada será providenciada.

A atmosfera estava carregada de tensão. Cada palavra de Luna parecia cortar o ar como uma lâmina afiada.

Dayse ficou sentada na poltrona, imóvel. Lá fora, o sol nascia, pintando o céu de laranja e azul, mas dentro dela tudo era cinza, pesado e sem cor. Ela respirou fundo, fechou os punhos e sentiu o peso das palavras de Luna como se fossem correntes invisíveis ao redor de seus braços.

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