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Capítulo 7 ― A Fagulha da Resistência

Naquela noite, diante do espelho, Dayse encarou a mulher que a observava de volta.

Ainda havia resquícios de uma menina, traços de um passado que não combinava com sua nova realidade:

Os cabelos escorriam pelas costas como um rio calmo demais.

Os olhos, grandes demais, inocentes demais, agora estavam apagados, como janelas sem luz. 

As lágrimas vieram. Silenciosas. Sem ruído. Não eram de dor. 

Eram de vazio. 

"Você pertence a um projeto."

O eco da frase de Luna reverberava dentro dela como um veredicto imutável. 

Mas pela primeira vez, Dayse se perguntou: até onde um nome pode apagar uma pessoa? 

O desejo de desaparecer a envolveu. Mas ela não sucumbiu. 

Secou as lágrimas com precisão mecânica e apagou a luz. 

Não dormiu. Apenas esperou, deitada, olhos abertos, encarando o teto como quem busca respostas nas sombras.

E quando o sol tingia a névoa da manhã, seu corpo já estava desperto. Não pelo alarme, mas pelo próprio corpo, que se recusava a descansar.

Dayse se levantou devagar, ignorando o café na bandeja. Conhecia o cardápio. Conhecia o padrão. 

Abriu o guarda-roupa e, em vez do uniforme branco sem alma que Luna deixava pronto todos os dias, escolheu um vestido leve, discreto, mas indiscutivelmente feminino.

Roupa de gente. 

Não de cobaia. 

Às 7h01, como um relógio que jamais falha, a porta se abriu com precisão quase teatral. Luna atravessou o limiar sem hesitar, sem bater, como se o espaço já lhe pertencesse.

  — Está pronta? 

Dayse sorriu. Não um sorriso qualquer, mas daqueles que mudam o ar ao redor. 

— Estou, mas hoje quero tomar café com calma antes dos exames. Preciso estar forte. 

Luna franziu a testa. 

— O cronograma diz que… 

— Ele pode ser flexível ou preferem que eu passe mal durante a coleta de sangue?  — Dayse rebateu, a voz firme, mas com um toque de desafio que parecia ecoar algo mais profundo, como se cada palavra fosse um escudo contra a vulnerabilidade que ela se recusava a mostrar.

Luna mediu. Calculou. Cedeu. Um pequeno deslize no controle. 

Após o café, Dayse seguiu para o consultório com passos leves. Mas algo dentro dela crescia. 

Durante o exame, rompeu o protocolo: 

— Doutor, o que são esses remédios que estou tomando? 

Ele ergueu os olhos por um breve instante, como se a pergunta tivesse sido uma afronta inesperada. Seu olhar era rápido, quase frio, antes de retornar aos papéis em suas mãos.

— Não é apropriado discutir isso aqui — respondeu, seco, como quem encerra um assunto antes mesmo de começá-lo.

— Por que não? — insistiu Dayse.

Nenhuma resposta. 

Mas um incômodo surgiu (a ideia de estar sendo usada em algum experimento começou a se insinuar em sua mente), deixando-a inquieta.

Já era noite quando Luna conduziu Dayse ao quarto. Antes de entrar, a pergunta escapou: 

— Por que você está aqui, Luna? 

A mulher manteve a máscara da compostura intacta. 

— Porque é minha função. 

— Não isso. — Dayse insistiu, sustentando o olhar. Quero dizer por que continua cumprindo ordens, vendo mulheres como eu passarem por isso? 

Luna hesitou. Apenas por um instante. 

E foi suficiente para que Dayse enxergasse algo

Uma faísca de humanidade escondida atrás do verniz impecável do profissionalismo. 

Uma rachadura na fortaleza impecável de Luna. 

Talvez, Luna também estivesse presa em algo maior do que ela própria. 

— Boa noite, Sra. Bellucci. 

— Boa noite para você também, Luna. 

Dayse não sorriu por fora. Mas por dentro, algo mudara, como quem finalmente entende que até os castelos mais imponentes e intransponíveis cedem às rachaduras do tempo. 

Antes de apagar a luz, desafiou o silêncio da noite: 

"Todo castelo guarda seus segredos. Vai ser fascinante desvendar cada um nesta mansão de mistérios."

E ao fechar os olhos, pela primeira vez, não sonhou com o passado. 

Sonhou com o futuro.

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