“Às vezes, respirar fundo é um ato revolucionário.” — (Anotação de R.)
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Antes do pôr do sol, o grupo de mensagens cifradas apita no aparelho preto. Joana atende, ouve, anota uma linha, e enfim sorri: pequeno, funcional. Rafael olha por cima do ombro.
— O promotor aceitou a entrada noturna — ela diz. — A gente protocola às 22h. O juiz de plantão é o bom. Mandados saem até 1h. Cumprimento às 6h, simultâneo. Clínica, Casa, escritório.
Eu fecho os olhos por um segundo. Não pra rezar. Pra encaixar os órgãos no esqueleto.
— Eu não vou — falo, e é uma promessa a mim mesma. — Agora é com a justiça. Mas estarei aqui. Com o telefone ligado. Com as portas trancadas. E com a janela aberta.
Rafael recolhe as pastas como quem recolhe pássaros que voltarão com provas novas. Alexandre me encara mais um segundo do que seria socialmente aceitável.
— Você fez muito mais do que qualquer vítima tem obrigação de fazer — ele diz, e dessa vez a palavra não me arde.
— Eu não sou só vítima — respondo. — Eu