Mais sacrifícios. Mais mentiras.
As semanas haviam trazido uma rotina morna, feita de pequenos passos e cuidados contínuos. A mamma estava de volta em casa, amparada entre almofadas e cobertores, com o sol da janela aquecendo seus pés e o cheiro de manjericão vindo da cozinha. À noite, eu dormia leve — ou fingia dormir. Cada barulho me fazia abrir os olhos.
Naquela madrugada, um grito rasgou o silêncio da casa.
Sentei na cama num pulo, o coração disparado. O segundo grito veio mais fraco, como um gemido abafado.
— Mamma?
Saltei dos lençóis, correndo pelo corredor escuro, tropeçando no tapete da entrada. A luz do quarto dela estava acesa, mas trêmula, como se o abajur tivesse sido derrubado.
— Mamma?! — abri a porta com força.
Ela estava no chão, caída ao lado da cama. Os olhos arregalados, a mão no peito, a boca aberta num esforço desesperado por ar.
— Dio mio… mamma! — me ajoelhei ao lado dela, segurando seu rosto. — Respira, mamma, por favor! Fica comigo!
Ela tentava, mas o ar não vinha. A pele pálida, quase azulad