Início / Romance / Um Filho, Um Marido E Nada de Amor / Capítulo 3: Encontramos o Pequeno Jovem Mestre
Capítulo 3: Encontramos o Pequeno Jovem Mestre

A atmosfera na recepção do Eton Bar era sufocante, quase irrespirável.

Funcionários, seguranças, gerentes — todos alinhados em silêncio, com os rostos marcados pelo pavor. A notícia havia se espalhado como fogo: o pequeno herdeiro da poderosa Família Riddel havia desaparecido dentro do prédio.

Sentado no centro da sala, em um sofá de couro escuro, Pitter Riddel parecia esculpido em pedra. O olhar frio, sem qualquer traço de emoção, era ainda mais assustador que um grito. Seu silêncio pesava como chumbo sobre os ombros de todos.

Alguns tremiam visivelmente. O suor escorria pelos rostos como se estivessem prestes a enfrentar uma sentença irreversível.

Diante dele, ajoelhado no chão, chorava Pietro, seu irmão mais novo. Desesperado.

— Irmão... me perdoe! Foi culpa minha! Eu... eu não devia ter trazido o Théo pra cá! Se algo acontecer com ele... eu nunca vou me perdoar!

As palavras mal haviam saído de sua boca quando Pitter se levantou de forma brusca e desferiu um chute direto no peito de Pietro. O som seco do impacto ecoou pela sala. Um estalo. Um gemido contido. E um silêncio mortal.

Pietro caiu para trás, tossiu com força, mas voltou a se ajoelhar, de cabeça baixa, engolindo a dor. Ele sabia que merecia. Sabia que aquele momento podia ser o fim da sua liberdade — ou pior, da confiança da própria família.

Foi então que uma batida suave soou na porta.

O chefe do bar correu para abrir. De início, não viu ninguém. Mas ao olhar para baixo, congelou.

— P-pequeno jovem mestre...! — murmurou, a voz trêmula.

Lá estava Théo.

Sujinho, com os cabelos bagunçados, mas são e salvo.

— Théo! — gritou Pietro, correndo para abraçá-lo. — Graças a Deus! Onde você se meteu, moleque?

O alívio caiu sobre a sala como uma chuva morna. Todos exalaram ao mesmo tempo, como se tivessem escapado de um desastre.

Mas Pitter ainda não havia se movido.

Ele se aproximou com passos firmes, afastando Pietro com um simples gesto. Abaixou-se diante do filho.

— O que aconteceu? — perguntou, direto, firme, como sempre.

Théo, com os olhos brilhando, agarrou a mão do pai e tentou puxá-lo.

— Huh... huh! — insistia, apontando para cima, a voz rouca pela febre e esforço.

Pitter hesitou. Sentiu no ar um leve aroma. Era delicado... como flores silvestres sob o orvalho da noite. Familiar. Quase dolorosamente familiar.

Mas Théo não lhe deu tempo. Continuava puxando, apressado, como se cada segundo contasse.

Pitter então o ergueu nos braços e seguiu na direção que o menino apontava. Pietro e os demais vieram atrás, confusos e ainda sem entender o que estava por vir.

No último andar, pararam diante de uma porta trancada — um velho depósito.

Théo desceu e correu até ela, batendo com os punhos pequenos, os olhos cheios de urgência.

— O que tem aí dentro? — murmurou Pietro, inquieto.

— Abram — ordenou Pitter, sem elevar a voz, mas sem margem para dúvidas.

O chefe do bar virou-se para a gerente.

— Abra. Agora!

Ela hesitou por um segundo, o rosto pálido como cera. Pillar havia ordenado que Amara ficasse ali até o fim da audição. Mas como contrariar um Riddel?

Tremendo, ela pegou a chave. A fechadura rangeu. E a porta se abriu.

No chão, iluminada por um feixe pálido vindo da claraboia, estava Amara. Inconsciente.

— Mas o que... quem é essa mulher?! — gritou o chefe, atônito.

— E-eu não sei! — mentiu a gerente, gaguejando. — Quando olhei... não tinha ninguém!

Pitter observava em silêncio, seus olhos percorrendo cada detalhe da cena. A escada tombada. A janela estreita. O corpo frágil da mulher. E o olhar protetor de seu filho, que se postava diante dela como um pequeno guardião.

Théo abriu os braços, impedindo que qualquer um se aproximasse dela.

Pitter estreitou os olhos. Algo naquela mulher... algo que ele não conseguia explicar... o puxava como uma corrente invisível.

— Quem é ela? — sussurrou Pietro, intrigado.

Pitter não respondeu.

Deu apenas um passo à frente. E ali, diante da mulher caída, o aroma que antes lhe causara inquietação agora o invadia por completo. Era o mesmo perfume de um passado que ele jurava ter enterrado.

— Levem-na para um médico. Agora — disse, a voz mais baixa, mas carregada de comando.

— Senhor Riddel, isso... isso está fora do padrão... — murmurou o dono do bar, perdido em pensamentos e medo.

Pitter ignorou. Seus olhos, agora frios como gelo, percorreram os rostos dos presentes, parando na gerente culpada. Em silêncio, ele já havia entendido tudo. A escada. A janela. A criança. O tempo. A febre. A negligência.

E a mulher.

Sem dizer mais nada, curvou-se e pegou Amara nos braços.

Ela estava leve, mais leve do que ele esperava. E seu corpo morno, desfalecido, parecia se encaixar no dele como se aquele abraço tivesse sido desenhado muito antes de existir.

O perfume agora era mais forte. Não um aroma qualquer, mas um sussurro do destino. Um lembrete.

Algo que ele havia perdido. Ou alguém.

Théo observava, calado. Os olhos grandes, cheios de emoção.

E embora não dissesse uma só palavra, era como se pensasse alto:

“Se eu fosse maior... teria carregado ela sozinho.”

- Primeiro Hospital Popular da Capital -

Quando Amara abriu os olhos, o sol já filtrava pelas janelas do hospital. O quarto estava silencioso, exceto pelo leve som do monitor cardíaco que piscava em um ritmo tranquilo. Sua cabeça ainda latejava, mas o que mais chamou sua atenção foi a presença de um homem ao lado da janela.

Ele estava sentado de maneira aparentemente relaxada, com as pernas cruzadas, mas sua postura era firme demais para passar despercebida. Vestia um terno impecável, feito sob medida, que moldava perfeitamente seus ombros largos e sua cintura fina. O colarinho branco da camisa estava fechado até o último botão — um detalhe simples, mas que deixava clara a rigidez de seu caráter.

Apesar da luz suave que invadia o quarto, havia uma frieza ao redor dele. Uma presença densa, como se aquele homem carregasse consigo o peso de algo que ninguém mais poderia entender.

Amara o encarou, tentando entender quem era. Ele ergueu o rosto devagar, revelando olhos profundos como o oceano em dia de tempestade. Um olhar tão gelado e preciso que fez sua pele se arrepiar.

Engolindo em seco, ela arriscou perguntar:

— Com licença... como eu vim parar aqui? E o menino… você viu um garotinho? Tem uns quatro, cinco anos. Muito branco, pele macia… quietinho… e muito fofo.

O homem não reagiu de imediato. Apenas arqueou levemente uma sobrancelha e desviou o olhar para o lado, como se respondesse com os olhos antes mesmo de abrir a boca.

— Está se referindo ao Théo? — disse ele, em um tom calmo, porém firme.

Instintivamente, Amara virou o rosto na direção que ele indicava — e seu coração disparou. Ali, ao lado de sua cama, havia um pequeno berço hospitalar. Dentro dele, o mesmo menino que ela havia encontrado no depósito dormia tranquilamente, com um crachá de identificação amarrado à mão.

— Sim! — sussurrou aliviada. — Então o nome dele é Théo?

Ela esticou a mão, tocando suavemente a testa da criança. A febre havia baixado. Estava a salvo.

Mas junto ao alívio, veio o peso da culpa. Como ela tinha deixado aquele menino sair sozinho daquele bar? Era um lugar perigoso, barulhento, e ele mal falava. Ela havia falhado. Felizmente, ele estava bem agora.

Virou-se para o homem ao lado da janela, ainda tentando juntar as peças:

— Você é… o pai dele?

Mas antes mesmo de ouvir a resposta, já sabia. Era impossível não notar a semelhança entre os dois. Os olhos, o contorno do rosto… Théo era uma miniatura daquele homem.

— Pai — confirmou ele, com um único aceno de cabeça.

Antes que Amara pudesse dizer mais alguma coisa, outra voz, animada e destoante da frieza do ambiente, surgiu ao seu lado:

— Moça bonita! Que bom que você acordou! Eu sou Pietro Riddel. Segundo tio do Théo!

Ela levou um susto e recuou levemente. Seus olhos se arregalaram ao ouvir o nome.

— Pietro Riddel?

Aquele nome não era qualquer um. Pietro era conhecido por toda a cidade — dono da Astros & Strellas Entertainment, famoso tanto pelos negócios quanto pelo carisma. A aparência chamava atenção, mas era sua forma encantadora de falar que o tornava inesquecível.

Amara olhou de Pietro para o homem ao lado da janela. Tudo começou a se encaixar.

O homem sério e imponente era Pitter Riddel. O mesmo Pitter Riddel que a imprensa chamava de "imperador sem coroa" da capital — um homem poderoso, reservado, praticamente inacessível.

E Théo… o menino que ela havia protegido e carregado nos braços…

Era o filho dele.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App