O cartório cheirava a papel antigo e decisões irreversíveis.
Valentina chegou com quinze minutos de antecedência, como sempre fazia. Usava um conjunto social branco que contrastava com o batom vinho nos lábios. Impecável. Intocável. Mas por dentro, estava em ebulição. Casamento. Uma palavra que sempre evitou, que considerava um fardo, agora era o único caminho para o trono corporativo. Ela ajeitou os documentos na pasta quando ouviu o som da porta se abrindo. Não precisou olhar para saber quem era. Dante Marini. Chegou com a arrogância de sempre, os olhos escuros cheios de ironia. Vestia preto, como se fosse a própria tentação. — Achei que fosse me deixar plantado. — Ele se aproximou e puxou uma cadeira ao lado dela, não à frente. Como se já fossem um casal. — Não seja tolo, Dante. Eu sou uma mulher de palavra. E você, um homem de aparência. — Apelou para elogios agora? Vai acabar me pedindo mais que casamento. Ela bufou, ignorando o comentário. O tabelião chegou com a papelada, e os dois assinaram cada folha com frieza e precisão. Como se estivessem assinando um contrato de negócios — o que, de certa forma, era exatamente isso. No entanto, quando chegou a hora de entregar as alianças simbólicas, Dante segurou a mão dela com firmeza. — Está tremendo, D’Ávila? — Está se iludindo, Marini? Mas a verdade era que sua pele parecia pegar fogo com aquele toque. Os dedos dele acariciaram os dela de leve, e o olhar firme a desarmava, centímetro por centímetro. — Vai ter que se acostumar com isso — murmurou ele, deslizando a aliança em seu dedo. Valentina fez o mesmo, com movimentos calculados, ignorando o calor que subia pelo pescoço. Quando o tabelião declarou-os legalmente casados, houve um breve silêncio. Um eco pesado de tudo o que estavam prestes a enfrentar. Eles saíram dali sem festa, sem beijo, sem sorrisos. Apenas com um novo papel em mãos... e o peso da convivência que viria. De volta à cobertura que dividiria com Dante durante os seis meses de contrato, Valentina caminhava pelos cômodos de mármore e vidro com olhos analíticos. Era tudo moderno, masculino e sofisticado demais para o seu gosto. Ele apareceu atrás dela, tirando o paletó com um movimento fluido. — Bem-vinda ao lar, esposa. Vai querer um tour? — Só quero o quarto de hóspedes. Sozinha. — Sobre isso… — Ele apontou para uma única suíte principal. — Só há um quarto. A cobertura foi projetada para casais que não têm segredos. E eu não tive tempo de reformar. — Que conveniente. — Que excitante, você quer dizer. — Ele se aproximou, parando a centímetros do rosto dela. — Vai dormir comigo, D’Ávila? Ou prefere o sofá? Valentina sustentou o olhar dele, desafiadora. — Se chegar perto demais, eu mordo. Ele sorriu, abrindo a porta da suíte com um gesto cavalheiresco. — Promessa tentadora. Ela entrou, sem dar mais uma palavra, ciente de que aquele jogo só estava começando — e de que cada cláusula emocional que tentasse impor... ele faria questão de testar. A suíte era ampla, elegante e perigosamente íntima. Valentina deixou sua mala sobre uma poltrona de couro bege e respirou fundo. O quarto era um convite ao pecado: cama king-size com lençóis negros, espelhos nas laterais e uma luz amarelada suave que parecia transformar tudo em desejo. Ela foi até o closet, tentando manter a mente no lugar. Sabia que Dante não recuaria tão facilmente. E foi com esse pensamento que, ao sair do banheiro com uma camisola de cetim azul-marinho, deu de cara com ele encostado na moldura da porta, de calça de moletom e sem camisa. Sem. Camisa. Valentina travou no lugar por um segundo a mais do que gostaria. Dante era escultural. Tinha o corpo de alguém que não só treinava, mas que nasceu para provocar. Tatuagens discretas, ombros largos, abdômen definido… e aquele sorriso malicioso que ele usava como arma. — Belíssima escolha de roupa, senhora Marini — disse ele, com um brilho nos olhos. — Está tentando me enlouquecer no primeiro dia? — Você não é tão impressionável quanto finge. — Ela caminhou até a cama e deitou-se de lado, pegando um livro como escudo. — Boa noite. — Nem um boa-noite com beijo? Que esposa fria. — Ele entrou no quarto, caminhando lentamente até o outro lado da cama. Ela bufou, folheando o livro sem realmente ler. Dante deitou-se ao lado, girando o corpo para encará-la. — Está com medo de mim, Valentina? Ela fechou o livro e virou-se de frente para ele, os olhos faiscando. — De você? Jamais. Tenho medo do que você quer fazer comigo. — E se eu não quisesse só fazer… mas mostrar? O silêncio entre os dois se estendeu como um fio prestes a arrebentar. — Somos um contrato, Dante. Não uma história de amor. — Eu sei. — Ele aproximou o rosto lentamente, a respiração roçando o pescoço dela. — Mas contratos também têm… cláusulas adicionais. Valentina segurou o queixo dele com firmeza e olhou direto em seus olhos. — Uma cláusula: toque só se eu permitir. Dante sorriu. — Então me dê permissão. Ela hesitou. Por um segundo — só um segundo — permitiu que seus dedos deslizassem pelo abdômen dele, traçando a linha da tatuagem abaixo das costelas. A pele era quente, viva, e o arrepio que percorreu seu próprio braço a assustou. Ela recuou de imediato. — Boa noite, Marini. Dante não insistiu. Apenas deitou-se, virado de lado, com um sorriso que dizia mais do que palavras. Ela apagou a luz, tentando ignorar o calor no corpo. Mas sabia. Sabia que aquele primeiro toque fora o começo do fim da sua resistência. E que o homem ao seu lado seria sua perdição… contratualmente ou não.