Sob Contrato
Sob Contrato
Por: Evilyn Sá
A Proposta

Valentina D’Ávila cruzou as pernas com elegância, os saltos altos ecoando pelo piso de mármore enquanto atravessava o salão espelhado da sede da D’Ávila Empreendimentos. O blazer vinho moldava seu corpo com perfeição, e o batom vermelho era a armadura que usava para disfarçar o cansaço. Ela havia se preparado por anos para este momento.

— Que comece a guerra — sussurrou para si mesma, empurrando a porta do escritório do avô.

Do outro lado da mesa, Aristides D’Ávila, seu avô e presidente do império, observava com os olhos frios e calculistas. Ele tinha a expressão de quem estava prestes a dar uma sentença, não uma promoção.

— Sente-se, Valentina.

Ela o fez, mantendo a postura impecável.

— Eu revisei seu plano de reestruturação. Excelente. — Ele fez uma pausa. — Mas há um detalhe que a impede de assumir a presidência.

O sangue gelou em suas veias.

— Qual detalhe? — perguntou com voz firme.

— A cláusula 12 do testamento da sua avó. — Ele deslizou um documento em sua direção. — "Para assumir a presidência da D’Ávila Empreendimentos, a sucessora deve estar legalmente casada, a fim de garantir estabilidade pessoal e visão familiar nos negócios.”

Valentina encarou as palavras como se fossem um soco.

— Isso é uma piada?

— Uma cláusula legalmente válida. Você tem até o final do mês para se casar. Ou o cargo passa para o próximo da linha: seu primo, Alberto.

Ela prendeu a respiração. Alberto era incompetente, além de machista. Não havia chance de deixá-lo destruir o que ela levou anos para construir.

— E se eu casar por contrato?

— Desde que o casamento seja legal e comprovado, não me importa a motivação.

Valentina se levantou, o coração martelando no peito. O mundo corporativo estava cheio de tubarões, mas ela era uma rainha. E uma rainha encontraria uma solução.

Naquela mesma noite, o nome que cruzou sua mente fez seu estômago revirar: Dante Marini.

Seu rival de faculdade. Seu oponente mais arrogante. Seu ex… quase tudo.

Alto, perigoso e dono da Marini Corp — um homem que sabia exatamente como provocá-la e, pior, como fazê-la perder o controle.

Ela digitou seu número com os dedos trêmulos.

— Dante? Aqui é Valentina D’Ávila.

— Que honra — respondeu ele, com a voz grave e irônica. — A princesa caiu da torre?

— Preciso de você.

— Isso já é um ótimo começo. Mas diga, D’Ávila... é trabalho, guerra... ou proposta de casamento?

Ela respirou fundo.

— Um pouco dos três.

O restaurante era sofisticado demais para um jantar informal, e Valentina sabia disso. Escolhera aquele lugar propositalmente. Se fosse fechar um acordo com Dante Marini, precisava controlar o ambiente — e os olhares.

Ela chegou pontualmente às oito. Usava um vestido preto justo, de cetim, que destacava suas curvas e confiança. O cabelo preso em um coque impecável, a maquiagem leve... mas os olhos? Eram de guerra.

Dante já a esperava.

Encostado no encosto da cadeira, vestia um terno cinza escuro perfeitamente alinhado, o colarinho aberto e a arrogância estampada no sorriso.

— Você está linda, como sempre. — Ele se levantou ao vê-la e beijou sua mão, prolongando o contato só para irritá-la.

— Não estou aqui para joguinhos, Marini.

— Pena. Sempre fui ótimo neles.

Ela sentou-se, ignorando o olhar de aprovação do garçom ao ver os dois juntos. Pareciam um casal poderoso. Bonitos demais para serem reais. Falsos demais para serem felizes.

— Vou ser direta — disse Valentina. — Preciso de um marido. Até o fim do mês.

Ele arqueou uma sobrancelha.

— E pensou logo em mim? Me sinto lisonjeado.

— Pensei em alguém que não fosse grudento, que não tivesse esperanças românticas, e que, acima de tudo, soubesse guardar segredo.

Dante sorriu. O tipo de sorriso que derretia defesas — e calcinha, se ela não tivesse uma mente de aço.

— E o que ganho com isso?

Ela deslizou um envelope para ele. Dentro, havia um contrato simples: casamento com validade de seis meses, aparições públicas, fotos conjuntas, uma cerimônia simbólica e... uma cláusula de privacidade.

— Você receberá uma compensação financeira ao final do acordo, além de acesso temporário a alguns dos nossos contatos internacionais. Sei que está expandindo a Marini Corp para o mercado europeu.

Dante folheou as páginas com calma, mas seus olhos estavam nela o tempo todo.

— Nenhuma cláusula sobre sexo? Que curioso...

Valentina cruzou os braços.

— Isso não é parte do acordo.

— Mas vai ser inevitável. Você me quer, D’Ávila. Sempre quis.

Ela riu, um som seco e elegante.

— Querer não é o mesmo que cair. Eu sei muito bem quem você é, Dante.

— Ótimo. E mesmo assim está me pedindo em casamento. — Ele fechou o contrato. — Aceito.

Ela arregalou os olhos.

— Assim? Sem discutir valores, sem revisar as cláusulas?

— Não preciso de dinheiro. Mas você... — Ele se inclinou, os olhos mergulhando nos dela — ...vai me pagar de outro jeito.

Ela manteve a expressão firme, mesmo com o arrepio que percorreu sua espinha.

— Isso é um jogo perigoso, Marini.

— E você acabou de me convidar pra brincar.

Valentina apertou os dedos sob a mesa, tentando conter o impulso de jogar o vinho tinto no rosto dele. Dante sempre soube provocá-la — e agora usava isso como arma.

— Escute bem, Marini — disse ela, com a voz baixa e firme. — Esse contrato não tem espaço para jogos, nem para... distrações. O que eu quero é claro. Casamento. Aparência. Fim.

— E o que eu quero? — Ele apoiou os cotovelos na mesa, entrelaçando os dedos. — Porque, querida, se vamos dormir sob o mesmo teto, usar alianças e mentir para o mundo inteiro... quero mais do que um “fim”.

— Defina “mais”.

— Uma convivência... real. Nada de você me trancar fora do quarto ou agir como se eu fosse um incômodo. Se quer enganar o mundo, terá que fingir bem. Em todos os aspectos.

Os olhos dela estreitaram.

— Você quer dormir na mesma cama que eu?

— Quero que pareça verdadeiro. Isso inclui dividir espaços, intimidade, toques... até onde você conseguir levar essa encenação.

— Encenação, hein? — Ela sorriu, venenosa. — Então me diga, Dante... vai aguentar ficar tão perto de mim sem tentar passar dos limites?

Ele inclinou-se, a voz rouca e perigosamente baixa:

— Eu vou passar dos limites. A questão é... você vai deixar?

Ela arqueou uma sobrancelha, disfarçando o arrepio que percorreu seu corpo. Aquilo era exatamente o que temia — e o que, secretamente, seu corpo ansiava.

— O contrato terá uma cláusula nova. Nada de envolvimento físico sem consentimento explícito.

Dante riu, jogando-se para trás na cadeira.

— Você é inacreditável. Controladora até o fim.

— E é por isso que eu dirijo um império, Marini. E você... ainda tenta alcançar o meu nível.

Ele a encarou por um instante, sério. Depois, seu sorriso diminuiu.

— Talvez agora eu finalmente te ultrapasse.

Ela se levantou, pegando a bolsa com a mesma frieza com que dava ordens em uma sala de reunião.

— Amanhã às dez, no cartório. Assinamos os papéis. Traga seu documento e... sua melhor mentira.

Antes de sair, ela se inclinou e murmurou:

— Isso é só um jogo para você, Dante. Mas para mim? É poder. E eu não perco.

Ele ficou observando enquanto ela saía, os quadris marcando cada passo decidido. Levou a taça de vinho aos lábios e sorriu, como se estivesse saboreando mais que a bebida.

— Você vai se perder em mim, D’Ávila. E quando perceber... vai ser tarde demais.

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