Deise vai para uma nova escola, em que conseguiu uma bolsa de estudos graças a patroa de sua mãe. Sendo a única negra em uma escola tradicional paulistana, enfrenta os desafios de se adaptar a uma nova realidade. Entre as idas e vindas da escola, descobriu o amor. E que crescer era um processo doloroso e inevitável. Mesmo sempre estando acompanhada, Deise se sentia solitária em sua vida. Com apoio de seus entes próximos, já na vida adulta, ela terá a chance de viver verdadeiramente o amor.
Ler mais1999
Às cinco da manhã, o rádio relógio de Deise tocou o alarme. A adolescente de quinze anos esticou o braço e apertou o botão para desligar o despertador. De imediato se levantou para tomar um banho. Seu padrasto já havia saído para trabalhar. Sua mãe ainda dormia.
A jovem estava ansiosa e rapidamente terminou o banho e se arrumou vestindo uma de suas roupas preferidas: uma calça jeans bag da cor azul, uma camiseta com estampa do time de basquete Charlotte Hornets e tênis skatista. Com o devido esforço, ajeitou seu cabelo crespo em um rabo de cavalo alto.
Providenciou seu próprio café da manhã, visto que a mãe não se levantava antes das sete da manhã. Pão com manteiga e mortadela e um copo de café foram seu desjejum. Rapidamente se alimentou e por fim foi escovar os dentes antes de sair.
A mochila com seu material já estava arrumada desde o dia anterior. A pegou e posicionou nas costas.
Deise recolheu o dinheiro que a mãe havia deixado em um antigo cinzeiro que havia sobre a estante da sala para pagar suas passagens e lanche na nova escola.
Era por volta das seis da manhã quando Deise saiu de seu apartamento rumo ao ponto de ônibus. Fez uma caminhada tranquila pelas ruas do bairro até chegar no ponto que ficava na rua principal do bairro, cujo nome era uma homenagem a um imigrante armênio que se estabeleceu na mesma localidade em que Deise vivia.
Naquele horário, ainda era possível conseguir entrar no veículo de transporte público, mesmo que já estivesse abarrotado. Dificilmente a jovem mulata conseguia passar pela roleta até que o ônibus chegasse ao seu ponto final que era a estação de metrô Conceição.
Como era seu primeiro dia de aula, ainda precisava enfrentar a fila no caixa do metrô para comprar o bilhete de passagem. Por ser uma segunda-feira e início de mês, a fila estava grande, porém o atendimento era rápido e não levou nem dez minutos para que a jovem estivesse já dentro do vagão do metrô em direção ao seu destino.
A viagem era rápida e frenética com o entra e sai de passageiros apressados rumo aos seus compromissos diários. Em menos de vinte minutos, Deise desceu na estação São Joaquim e foi para sua nova escola, que ficava há uns quinhentos metros da estação.
Já sabia bem o caminho, pois, tinha vindo com sua mãe no dia da matrícula e entrevista, visto que havia sido beneficiada com uma bolsa de estudos em um colégio tradicional paulistano.
Após a saída da estação do metrô, desceu pela rua lateral e poucos minutos depois já estava na porta do Colégio Franciscano.
Deise se sentia nervosa. Observou todos ao seu redor. O movimento era grande na rua e não dava para ter certeza quem eram os alunos do colégio visto que não se usava uniforme no mesmo.
Se aproximando da entrada, Deise viu dois rostos familiares e acenou timidamente. Os dois adolescentes que também a reconheceram apenas fizeram um movimento discreto inclinando suas cabeças à frente, em sinal de cumprimento à distância.
Eram os primos Marcos e Cícero. A mãe de Deise trabalhava como diarista na casa de ambos e graças a mãe de Marcos, Deise conseguiu sua bolsa de estudos naquele estabelecimento.
De origem humilde, e sempre tendo estudado em escola pública, Deise estava introspectiva e com receio de interagir com os outros alunos.
Ouviu-se o sino e o portão da escola foi aberto simultaneamente. Junto aos demais, a garota entrou e pela sinalização nos corredores encontrou sua turma. Havia apenas uma turma de cada ano do ensino médio. Os corredores do colégio eram estreitos e as salas, apesar de grandes, tinham um espaço de locomoção reduzido pelo excesso de carteiras.
Havia cerca de quarenta alunos na sala de Deise. A maioria eram meninos.
Observando ao seu redor, não demorou muito para que a jovem se desse conta de que era a única aluna não branca naquela sala.
Suspirou fundo e tentou relaxar. Foi surpreendida por uma voz delicada.
— Oi! Tudo bem?
— Oi. Estou sim. — Deise respondeu sorrindo.
— Me chamo Thaizza e você?
— Me chamo, Deise.
— O que você está achando da escola? — Thaizza puxou sua carteira para se aproximar de Deise.
— Ah! Sei lá. É estranho. Nem parece que estou numa escola.
Thaizza gargalhou.
— Logo você acostuma.
— Você já era aluna aqui?
— Não! É meu primeiro ano. E que eu saiba de todos aqui, pois essa escola é apenas de ensino médio.
— Ah! Entendi.
Um professor entrou, interrompendo a conversa das duas garotas e ganhando a atenção de todos os presentes.
As primeiras aulas seriam de física. O professor iniciou a aula com uma revisão. Para Deise, não era uma revisão, pois nunca tinha estudado notação científica. Para sua sorte, o professor explicou o tema com muita clareza e passou exercícios no quadro.
Enquanto tentava resolver as atividades propostas, Deise achou o tema complexo. Thaizza a cutucou pedindo ajuda.
Deise não se incomodou em passar as respostas para a recém conhecida. Contudo, Thaizza foi verificar as respostas de outra garota que estava sentada à sua esquerda.
Assim conheceram Aline, uma descendente de japoneses, baixinha, com rosto arredondado e cabelos lisos na altura dos ombros, de olhos bem puxados e mascando um chiclete. Aline se gabava de ter estudado em excelentes colégios e dizia saber resolver os exercícios. As respostas da jovem nipo-brasileira estavam conflitando com as de Deise.
Diante do currículo invejável de Aline e na crença da inteligência superior dos japoneses, Thaizza apagou as respostas que havia copiado de Deise e colocou as mesmas de Aline.
Deise ficou chateada com a situação. Revisou suas respostas e acreditava estar certa. Manteve tudo como estava.
Thaizza nem sequer lhe dava mais atenção. Só acompanhava a conversa de Aline e Viviana que também havia se aproximado para comparar respostas.
Após o tempo determinado pelo professor terminar, o homem de cerca de cinquenta anos se aproximou do quadro para fazer a correção.
Qual não foi a surpresa das três garotas ao se darem conta de que haviam errado todas as questões.
Thaizza bufou e se virou para Deise, falando:
— Poxa! As suas respostas é que estavam certas!
Deise apenas sorriu, satisfeita por ter compreendido a atividade proposta e por ter acreditado em si mesma..
Deise entrou em casa, chorosa, e foi logo procurar a mãe.— Mãe! Você pode desembaraçar meu cabelo?Maria estava na lavanderia, pendurando as roupas e nem sequer viu o estado em que a filha estava.— Ah! Filha! Precisa ser hoje? — Maria respondeu desanimada, imaginando o trabalho que vinha pela frente.— Sim, mãe! — Deise insistiu.— Mas isso demora demais! E me cansa. Você sabe, não é? — Maria bufou e continuou colocando as roupas para secar.— Por favor, mãe! Eu não estou conseguindo mais pentear direito. Está muito embolado. — Deise se aproximou da mãe, suplicando.— Ah! Está bem. Depois do almoço eu faço.— Obrigada, mãe! — Deise abraçou a mãe pelas costas.Deise tinha o cabelo extremamente fino e ressecado, o que facilitava o surgimento de nós no cabelo e o embaraçamento. Maria sempre penteou o cabelo da jovem, mas já estava cansada da tarefa e nos últimos tempos estava deixando a menina se virar sozinha.Deise não sabia como cuidar do cabelo de uma forma que facilitasse seu dia
Na manhã seguinte, Deise despertou às dez da manhã. Não se recordava de que horas havia adormecido. Provavelmente, em algum momento da madrugada, sua mãe desligou a televisão do quarto.Se espreguiçando e bocejando, Deise levantou. O banheiro estava ocupado. O restante da casa estava vazio.Deise foi até a geladeira para pegar água e se alegrou ao ver que André tinha comprado meia peça de mortadela. A garota adorava comer mortadela com pão ou mesmo nas refeições, seja frita ou em sua forma padrão. Sua mãe também era ávida pela iguaria de origem italiana.Pelo menos uma vez ao mês, André comprava a peça, visto que a família comia em todas as refeições, então tornava-se econômico para o homem que era o provedor da casa. O padrasto de Deise havia feito compras logo cedo, deixou-as no apartamento e saiu para encontrar os amigos.Quando Maria saiu do banho, já encontrou a filha devorando um pão com cinco fatias de mortadela e tomando café que ela mesma tinha feito para as duas.Maria se r
Miriam e Deise tinham planos para desmascarar Edson. Mas que não poderiam prosseguir naquele dia. As jovens foram interrompidas pela mãe de Miriam que a chamou para se arrumar. A família de Miriam frequentava uma igreja Batista e eram muito rígidos na criação dos cinco filhos. Miriam era a filha mais velha e tinha quatro irmãos. Geralmente os meninos estavam sempre por perto, a vigiando, a mando do pai. Gustavo, Elias, Jonas e até o menorzinho Pedrinho se mantinham firmes em sua missão de acompanhar Miriam para onde quer que ela fosse.Deise nunca se importou com a presença deles. Para a amiga de Miriam, eles eram meninos divertidos e de convivência agradável. Também eram muito inocentes e quando Miriam e Deise queriam falar sobre algo particular, com facilidade conseguiam afastá-los, mesmo que temporariamente. Gustavo, que era dois anos mais novo que Miriam, amargava uma paixonite por Deise que jamais teve conhecimento dos sentimentos do garoto.Seguindo o plano que tinham, Deise ret
O recesso de Carnaval finalmente tinha chegado. Sábado pela manhã, Deise despertou às oito da manhã. Sua mãe também estava se levantando. Não eram muito de conversar, então, Deise ficou assistindo televisão na sala enquanto sua mãe providenciava o café da manhã. A garota assistia atenta ao desenho do pica-pau. Não se cansava de ver as mesmas histórias que se repetiam nas manhãs de sábado.Enquanto isso, Maria colocou a garrafa de café na mesa, pão francês, açúcar e flocos de milho. Deise adorava café desde muito pequena. Maria ofereceu a bebida para sua filha quando ela ainda tinha três anos. Deise herdou os hábitos da mãe de molhar algum alimento no café. Naquela manhã, a jovem escolheu comer um pão quente com manteiga, que a mãe esquentava em uma frigideira e o café misturado com flocos de milho. Os flocos de milho, ao se misturarem com o café, absorviam a bebida e se tornavam cremosos e açucarados devido ao excesso de açúcar que Deise colocava no café.Com uma colher, a adolescent
Thaizza e Deise chegaram juntas à escola. Encontraram-se na estação Conceição. Conhecendo melhor a nova colega, Deise descobriu que Thaizza embarcava na estação Jabaquara e que moravam em bairros vizinhos.Thaizza era uma garota alegre, desinibida, de baixa estatura, loira de cabelos lisos um pouco abaixo dos ombros e sardas. Além disso, Thaizza era muito vaidosa. Gostava de vestir calças jeans de cintura baixa e camisetas baby look. Sempre estava perfumada e chamava a atenção por onde passava. Tinha muita facilidade em se aproximar das pessoas e fazer amizades.Graças a Thaizza, Deise logo fez amizade com Aline e Viviana. Estavam sempre juntas. Quando era a hora do intervalo, os jovens podiam sair na rua para lanchar, pois o Colégio Franciscano não contava com espaço para recreação ou se quer tinha uma cantina.Tudo era novidade para Deise que vinha de colégio público e ainda não sabia direito como agir. Apenas seguia as colegas.As três meninas foram em uma doceria e enquanto Thaiz
1999Às cinco da manhã, o rádio relógio de Deise tocou o alarme. A adolescente de quinze anos esticou o braço e apertou o botão para desligar o despertador. De imediato se levantou para tomar um banho. Seu padrasto já havia saído para trabalhar. Sua mãe ainda dormia.A jovem estava ansiosa e rapidamente terminou o banho e se arrumou vestindo uma de suas roupas preferidas: uma calça jeans bag da cor azul, uma camiseta com estampa do time de basquete Charlotte Hornets e tênis skatista. Com o devido esforço, ajeitou seu cabelo crespo em um rabo de cavalo alto. Providenciou seu próprio café da manhã, visto que a mãe não se levantava antes das sete da manhã. Pão com manteiga e mortadela e um copo de café foram seu desjejum. Rapidamente se alimentou e por fim foi escovar os dentes antes de sair. A mochila com seu material já estava arrumada desde o dia anterior. A pegou e posicionou nas costas. Deise recolheu o dinheiro que a mãe havia deixado em um antigo cinzeiro que havia sobre a esta
Último capítulo