Capítulo 2

Thaizza e Deise chegaram juntas à escola. Encontraram-se na estação Conceição. Conhecendo melhor a nova colega, Deise descobriu que Thaizza embarcava na estação Jabaquara e que moravam em bairros vizinhos.

Thaizza era uma garota alegre, desinibida, de baixa estatura, loira de cabelos lisos um pouco abaixo dos ombros e sardas. Além disso, Thaizza era muito vaidosa. Gostava de vestir calças jeans de cintura baixa e camisetas baby look. Sempre estava perfumada e chamava a atenção por onde passava. Tinha muita facilidade em se aproximar das pessoas e fazer amizades.

Graças a Thaizza, Deise logo fez amizade com Aline e Viviana. Estavam sempre juntas. 

Quando era a hora do intervalo, os jovens podiam sair na rua para lanchar, pois o Colégio Franciscano não contava com espaço para recreação ou se quer tinha uma cantina.

Tudo era novidade para Deise que vinha de colégio público e ainda não sabia direito como agir. Apenas seguia as colegas.

As três meninas foram em uma doceria e enquanto Thaizza e Aline compravam guloseimas, Deise ficou apenas observando os itens da loja, encabulada por não poder comprar nada naquele dia, pois sua mãe não havia lhe dado dinheiro.

Um funcionário da loja se aproximou da garota e ficou a encarando. Deise se sentiu desconfortável, pois o homem com feições mal humoradas só acompanhava a movimentação dela. Deise resolveu sair e esperar na rua. Enquanto isso, Thaizza e Aline se divertiam na loja, escondendo algumas balas em seus bolsos.

Após as duas garotas saírem do estabelecimento, encontraram Deise e seguiram rumo a entrada do colégio. Aline avistou dois garotos e fez um comentário:

— Aqueles meninos estudam aqui também. 

— Acho que eles são do terceiro ano. — Thaizza respondeu.

— Eu conheço eles. — Deise surpreendeu suas acompanhantes.

— Sério! — Aline falou, incrédula.

— Sim! Minha mãe trabalha de diarista na casa deles. Foi a mãe do Marcos que conseguiu uma bolsa aqui para mim. Eles são primos.

— Você bem que poderia nos apresentar, não é? — Thaizza ficou animada. Estava muito interessada em interagir com os meninos de outras turmas.

— Acho que sim! — Deise respondeu sem convicção. 

— Então vai lá! — Thaizza a encorajou.

— Tipo, agora? — Deise ficou nervosa.

— É! — Thaizza deu um gritinho.

Deise estava receosa. Apesar de conhecer Marcos e Sávio, não era íntima deles. O contato entre eles sempre foi muito superficial. Envergonhada, Deise se aproximou dos dois rapazes que logo a notaram.

— Oi gente! Tudo bem com vocês? — Deise acenou para os jovens primos.

— Sim! — Marcos respondeu gentilmente. Sávio nada falou.

— Vocês estão no terceiro ano, não é? — Deise se esforçava para iniciar um diálogo.

— É! O que está achando do colégio? — Marcos se prontificou na conversa, percebendo o nervosismo de Deise.

— Ainda estou me acostumando. Conhecendo as pessoas. Sabe, tem aquelas duas garotas ali que estavam comigo. Bem, elas querem conhecer vocês. — Deise não sabia mais o que dizer e foi direto ao ponto.

Os dois garotos se entreolharam e sorriram, pois já tinham notado as duas novatas.

— Legal. Fala para elas virem aqui! — Marcos respondeu sorridente.

Deise correu até as colegas e as três retornaram juntas para conversarem com os dois garotos. Aline e Thaizza já chegaram desinibidas, abraçando e dando um beijo no rosto dos jovens que estavam animados com a aproximação.

Descontraidamente, interagiram entre si, contudo, Deise se sentia completamente deslocada nos assuntos deles. Logo de cara, os quatro jovens descobriram o gosto em comum pela banda Green Day. Deise os conhecia, porém, não era uma banda que lhe chamava a atenção.

O sinal tocou e eles retornaram para as salas. Antes que o professor entrasse na sala, Deise foi chamada pela secretaria da escola.

— O senhor diretor gostaria de ter uma palavra com você.

A menina não fazia ideia do que se tratava a conversa e foi até a pequena sala do diretor do Colégio Franciscano.

Pediu licença e posicionou-se de frente para a mesa do senhor de cabelos grisalhos, alto e bem magro, que a fitou dos pés à cabeça.

— Então, você é a aluna que ganhou uma de nossas bolsas de oitenta por cento! — Adriano, um homem arrogante, não deixou de demonstrar seu descontentamento com a presença de Deise. — Essa roupa que você está usando é inadequada.

— O que há de errado com minha roupa? — Deise, automaticamente, olhou para sua camiseta branca que tinha uma estampa enorme de um personagem bem conhecido pelos jovens. 

— Bad Boy! Você é alguma coisa desse Bad Boy? — Adriano só faltava espumar de tanto rancor em suas palavras.

— Não, senhor! — Deise respondeu gaguejando.

— Então, por que está usando essa roupa ridícula? Isso não é jeito de vir para a escola. Nessa instituição ninguém se veste como um marginal. Você entendeu?

— Sim, senhor! — Deise abaixou a cabeça e sentiu os olhos se encherem de lágrimas.

— Esse é um colégio tradicional e duvido que você saiba o que é isso. Exijo disciplina e respeito de todos os alunos. A manutenção da sua bolsa depende do seu comprometimento e comportamento. Você será avaliada mensalmente. Qualquer coisa que você venha a fazer que me cause algum aborrecimento, é motivo para que eu seja obrigado a expulsá-la. Estamos entendidos?

— Sim, senhor! — Deise já nem conseguia mais encarar o diretor.

— Pode voltar para a sala! — Apesar do abalo de Deise, Adriano a considerava uma presença incômoda em sua instituição. 

Deise retornou, entristecida e chateada. Sentiu-se péssima, pois não entendia por que o diretor lhe havia chamado a atenção. Adriano estava indignado em receber uma bolsista de família humilde. Porém, não pode negar o pedido de Marise, mãe de Marcos, que era uma das mães que mais fazia doações para o Colégio Franciscano.

O resto das aulas transcorreu sem que ninguém percebesse o abalo de Deise. Thaizza se sentia tão à vontade no Colégio que já havia feito amizade com toda a turma. No horário da saída, praticamente todos os alunos do primeiro ano se dirigiram juntos ao metrô. Estavam animados com o feriado do Carnaval que estava próximo. Paulo estava fazendo comentários sobre as mulheres no carnaval e de repente soltou:

— Nós temos uma Globeleza na nossa sala!

Todos riram da fala despretensiosa de Paulo. Deise morreu de vergonha por ter sido comparada com uma mulher tão bonita e famosa. Naquela semana, Deise se aproximou mais de seus colegas que aderiram as gracinhas de Paulo que lhe dera esse apelido inesperado para a garota.

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