Capítulo 3

O recesso de Carnaval finalmente tinha chegado. Sábado pela manhã, Deise despertou às oito da manhã. Sua mãe também estava se levantando. Não eram muito de conversar, então, Deise ficou assistindo televisão na sala enquanto sua mãe providenciava o café da manhã. A garota assistia atenta ao desenho do pica-pau. Não se cansava de ver as mesmas histórias que se repetiam nas manhãs de sábado.

Enquanto isso, Maria colocou a garrafa de café na mesa, pão francês, açúcar e flocos de milho. Deise adorava café desde muito pequena. Maria ofereceu a bebida para sua filha quando ela ainda tinha três anos. 

Deise herdou os hábitos da mãe de molhar algum alimento no café. Naquela manhã, a jovem escolheu comer um pão quente com manteiga, que a mãe esquentava em uma frigideira e o café misturado com flocos de milho. Os flocos de milho, ao se misturarem com o café, absorviam a bebida e se tornavam cremosos e açucarados devido ao excesso de açúcar que Deise colocava no café.

Com uma colher, a adolescente saboreou seu desjejum. Em outras ocasiões, Deise também costumava embeber com café, pão francês, biscoitos tipo maizena ou biscoitos água e sal. 

O padrasto não estava em casa como sempre. Ele também trabalhava aos sábados e não fazia questão de retornar cedo. Deise praticamente só o via aos domingos. Era como se não vivessem juntos. Era como se fossem completos estranhos. Para a garota, era bom não ver com tanta frequência André, pois a impressão que tinha era de que ele não gostava dela.

Após se alimentar, Deise saiu e foi ficar na área do condomínio em que vivia. Várias crianças já corriam e brincavam pelo gramado do condomínio da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano).

Deise avistou algumas crianças menores e como os conhecia se aproximou.

— O que vocês estão fazendo? — Deise perguntou sorridente.

— Brincando de casinha. Quer brincar com a gente? — Paulinha respondeu, olhando para cima, visto que estava sentada no chão.

Deise sempre foi muito gentil e brincalhona com as crianças pequenas de seu condomínio. Todas a adoravam e frequentemente a chamavam para brincar, seja de bola, de pique-esconde, patins, bonecas, pião, bola de gude, vai-e-vem, bambolê, bicicleta, mola maluca, b**e-b**e, pipa ou qualquer coisa que lhes passasse em sua imaginação.

— Quero sim! — Deise se posicionou ao lado de Paulinha que logo colocou uma boneca no colo da mais velha..

— Essa é minha filha. Você vai ser a babá dela enquanto eu faço a comidinha dela, tá?

— Tá certo! Eu vou ninar ela, porque eu acho que ela vai chorar. — Deise acolheu a boneca em seus braços como se fosse um bebê de verdade.

Paulinha, Felipinho, o irmão de Paulinha, e Deise brincavam juntos tranquilamente até que uma pessoa os surpreendeu.

— Paula! Felipe! Peguem seus brinquedos e subam agora. — A voz grave do homem soou como um trovão para os pequenos assustados.

Os dois irmãos não pestanejaram e obedeceram ao pai que tinha acabado de chegar de mais uma ronda noturna. Edson estava trajando seu típico uniforme cinza de policial militar e encarava  Deise, com aparência ranzinza. 

Após seus filhos se afastarem, Edson se dirigiu a Deise e esbravejou com a garota.

— Você não tem mais idade para brincar de boneca! Meninas da sua idade arranjam namorado!

Deise ficou assustada com a agressividade de Edson. Não compreendeu por que ele se incomodou tanto com o fato dela estar brincando de bonecas.

O policial cansado logo se retirou para seu apartamento.

Deise suspirou e estava prestes a voltar para casa, quando encontrou sua melhor amiga descendo para o pátio.

As duas se abraçaram. Miriam e Deise estudaram juntas do quinto ao oitavo ano do fundamental e construíram uma amizade sólida e verdadeira.

— Estava com saudades de você. — Miriam estava sorridente.

— Também senti sua falta. É estranho a gente não estudar mais juntas. — Deise ergueu a amiga no colo e girou duas vezes com ela.

— Verdade. Mas me conta: como é sua escola nova e os garotos? — Miriam repousou no chão e ansiava por ouvir as novidades da melhor amiga.

— A escola é estranha, ninguém usa uniforme e tem poucos alunos. Fica num prédio apertado e a gente vai para a rua no recreio.

— Que da hora! — Miriam nem conseguia imaginar como seria um colégio como Deise descreveu.

— É da hora e estranho ao mesmo tempo. Os meninos são legais, tem um papo diferente dos garotos da nossa antiga escola. Sei lá, é tudo tão diferente, não sei nem como explicar direito.

— Entendo você! Agora estamos no ensino médio, amiga. — Miriam pareceu cabisbaixa, por um instante.

— É! Como estão as coisas lá no Conde? — Deise se referiu ao atual colégio estadual em que Miriam estava estudando.

— É uma loucura! Quatro turmas de cada ano e tem um pessoalzinho meio barra pesada.

— Ninguém merece! — Deise lamentou por Miriam.

— É! Aquele lixo de sempre. Escola pichada, tudo caindo aos pedaços, professores fingindo dar aula e vários tempos livres.

— Que saco! — Deise tinha péssimas lembranças dos tempos livres que tinha na escola.

— É! Sorte a sua ter ido para um lugar melhor. Você parece chateada. Aconteceu alguma coisa? — Miriam conhecia bem as reações de Deise.

— O pai da Paulinha me criticou por eu estar brincando com a filha dele. Disse que sou grande demais para brincar de boneca. Que o certo era eu estar namorando.

— Aquele cara é um canalha! Não liga para ele! Vou te contar uma coisa, promete que não conta para ninguém! Sabe a babá da Catarina e do João que moram no meu andar?

— Sei. — Deise estava atenta aos cochichos de Miriam.

— Então, eu ouvi ela dizer para a Heloísa que ela está ficando com o Edson.

— Jura! Será que é verdade? — Deise custou a acreditar no fato revelado.

— Acredito que sim, pois comecei a prestar mais atenção nela. Quando a Geise sai da casa da Catarina, coincide com o horário que o Edson desce para ir trabalhar.

— Minha nossa! Mas ela deve ter nossa idade, não é? — Deise cochichava em assombro.

— Sim! Ela tem dezessete e estuda no Conde à noite. Eu perguntei como quem não quer nada para a Helô e ela confirmou.

— Que safado! — Deise estava indignada.

— Concordo. Ele é desses caras que correm atrás de adolescentes. E fica lá naquela pose toda de policial bonzinho.

— Menina, a esposa dele é tão legal. Que chato isso. Ela deveria saber. — Deise pensou em todas as vezes que Márcia foi gentil com ela.

— Também acho. — Miriam concordou.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App