Flávia sempre acreditou ter encontrado o amor da sua vida. Desde a adolescência, Bruno esteve ao seu lado — primeiro como amigo, depois como namorado e, enfim, como marido. Juntos, construíram uma vida cheia de planos, conquistas e amor. Quando descobriram que seriam pais, a felicidade parecia completa. Mas o destino, cruel e inesperado, levou Bruno em um trágico acidente de moto, apenas um mês após o nascimento do filho do casal. Dois anos se passaram desde aquele dia. Entre fraldas, madrugadas em claro e a rotina de um trabalho exigente, Flávia tenta se reconstruir. A dor ainda está presente, mas ela aprendeu a silenciar o choro quando precisa sorrir para o filho. Amar de novo? Não. Ela acredita que seu coração foi enterrado junto com Bruno. Mas tudo muda quando Ricardo entra em sua vida. Gentil, atencioso e encantador, ele é um colega de trabalho que, aos poucos, vai ocupando espaços que Flávia achava que estariam fechados para sempre. Ela não quer se apaixonar. Ela tem medo. Medo de sofrer, de perder, de viver novamente o que já perdeu uma vez. Será que o amor pode nascer outra vez onde tudo parece ter acabado?
Leer másBruno era o menino mais lindo que eu já tinha visto. Nossos pais eram amigos, e, por isso, passamos a conviver bastante. Ele era legal, atencioso, e aos poucos comecei a olhar para ele de um jeito diferente. Mas, é claro, eu nunca diria nada—não queria estragar nossa amizade.
Um dia, voltando da escola, Bruno perguntou se poderia me acompanhar até em casa. Eu aceitei sem hesitar, afinal, era uma oportunidade de ficarmos mais próximos. O caminho foi tomado por uma conversa animada sobre a aula, como sempre. Mas, ao chegarmos ao portão da minha casa, ele pegou minha mão e, com um olhar sério, perguntou:
— Você aceita ser minha namorada?
Meu coração disparou. Eu queria—claro que queria!—mas não esperava aquela pergunta. Então, antes que eu pudesse responder, ele apertou minha mão com mais firmeza e perguntou, com um sorriso nervoso:
— Posso te beijar?
Eu disse sim. Foi um beijo rápido, mas cheio de significado, e eu gostei. A partir daquele dia, não nos separamos mais. Namoramos por todo o ensino médio, estudamos juntos na faculdade e, após a formatura, realizamos o sonho de casar.
Bruno sempre foi um parceiro incrível—carinhoso, dedicado, trabalhador. Ele cuidava de mim, da nossa casa, do nosso futuro. E eu estava feliz.
— Flávia, eu te amo.
— Eu também amo você.
Com Bruno, tudo era leve. Nossa vida seguia de maneira harmoniosa—tínhamos empregos bons e estávamos progredindo financeiramente. Toda sexta-feira era o nosso momento especial: saímos para jantar e nos desligamos da rotina. A noite sempre terminava com nós dois entrelaçados, curtindo a presença um do outro.
Dois anos se passaram desde o nosso casamento e, em uma manhã de sábado, recebi uma notícia que mudaria nossas vidas—eu estava grávida! O coração disparou, e as lágrimas vieram antes mesmo de eu conseguir processar o que aquilo significava. Segurando o teste em mãos, eu chorava de emoção, e ao contar para Bruno, chorei ainda mais. Ele, tomado pela mesma felicidade, começou a chorar também. Entre lágrimas e sorrisos, me abraçou, me beijou—estávamos transbordando alegria com a chegada do nosso bebê.
Minha gestação foi tranquila. Continuei trabalhando normalmente, enquanto Bruno, além de suas responsabilidades profissionais, fazia questão de cuidar da casa e se programava para estar presente em todas as consultas e exames. Nosso bebê estava saudável, e tudo parecia seguir da melhor forma.
Mesmo nos momentos em que eu me sentia menos bonita, Bruno nunca deixava de me elogiar. Sempre dizia o quanto me achava linda, como se quisesse me lembrar da minha própria beleza. E, apesar das mudanças físicas, nossa intimidade se fortaleceu durante a gravidez. Ele me fazia sentir desejada, admirada. Era cuidadoso, atento, e nunca deixava de demonstrar o quanto me amava.
Então, numa madrugada chuvosa, com 39 semanas de gestação, acordei sentindo um desconforto estranho. Não sabia explicar o que era, mas algo estava diferente. Me remexi na cama, tentando encontrar alívio, mas nada parecia melhorar. O sono não vinha, e uma sensação inquietante começou a tomar conta de mim…
— Bruno, eu estou passando mal.
— O que está sentindo?
— Não sei, estou meio enjoada.
— Melhor irmos para a Maternidade.
Pegamos as coisas que havíamos organizado e seguimos para a maternidade. E naquela manhã, nosso menino nasceu, lindo e saudável.
Caio era lindo, fofo, nem nos meus maiores sonhos podia imaginá-lo tão perfeito.
— Amor, ele é lindo.
— Sim, ele é.
Fiquei dois dias no hospital, sempre com Bruno ao meu lado. Ele não desgrudava de nós dois, estávamos completamente apaixonados pelo nosso bebê. Aqueles primeiros momentos juntos eram mágicos, carregados de amor e admiração.
No dia da alta, organizamos nossas coisas, nos despedimos do ginecologista e do pediatra e, finalmente, seguimos para casa. Ao chegar, fui recebida por um cenário perfeito: a casa impecável, tudo no lugar, comida pronta. Bruno, como sempre, havia pensado em cada detalhe.
No começo, as noites eram desafiadoras. Estávamos aprendendo a ser três agora—eu amamentava, ele ficava com o bebê para que eu pudesse descansar, e depois se deitava ao meu lado. Apesar das dificuldades, eu adorava nossa rotina.
Claro, ninguém tem uma vida perfeita, mas a nossa parecia chegar bem perto disso. Quando Bruno voltou a trabalhar, confesso que me senti um pouco sozinha. Durante o dia, precisava me virar com o bebê e, ao mesmo tempo, queria manter a casa minimamente organizada. Sabia que ele chegaria cansado, então tentava deixar tudo em ordem, mesmo que ele sempre dissesse que arrumaria quando chegasse.
Além disso, eu queria me olhar no espelho e me sentir bonita. Queria que, ao abrir a porta, ele me visse e me achasse bonita também.
Naquela tarde, enquanto o bebê dormia, aproveitei para organizar a cozinha e a sala. Revirei o armário em busca de algo especial—queria preparar um jantar diferente para nós. Era sexta-feira, e desde o nascimento do bebê, nossas sextas nunca mais tinham sido as mesmas. Mas eu não queria que tudo mudasse.
Tomei um banho rápido, arrumei o cabelo, amamentei nosso filho e, antes de me vestir, escolhi uma camisola bonita, rendada. Sabia que não poderíamos fazer nada, mas, mesmo assim, eu me sentia linda. Passei uma maquiagem leve, ajeitei a mesa e, então, tudo estava pronto. Agora, era só esperar Bruno chegar.
Com nosso filho no carrinho, sentei-me na sala, observando a porta, ansiosa pela sua chegada. Até que, finalmente, ele entrou.
— Boa noite, amor — disse, me aproximando.
Ele levantou os olhos e me olhou dos pés à cabeça, analisando cada detalhe, e foi nesse olhar que encontrei exatamente o que procurava.
— Você está maravilhosa — ele disse, antes de me dar um beijo nos lábios.
E era exatamente assim que eu me sentia sob o olhar dele—maravilhosa.
— Vou tomar banho e já volto — completou, se afastando.
Enquanto ele estava no banheiro, dei uma última olhada na comida e depois chequei nosso filho, que dormia tranquilo. Então, me sentei e fiquei esperando.
Quando Bruno voltou, sentou-se ao lado de Caio, passou um tempo com ele e depois fomos jantar.
— Conversamos sobre o nosso dia — claro que eu não tinha muitas novidades, ele já conhecia minha rotina. Mas eu gostava de ouvi-lo falar sobre o trabalho, sobre os pequenos acontecimentos. Depois, falamos sobre o fim de semana.
O bebê ainda era pequeno, então não saímos muito, mas tentávamos fazer algo especial em casa para tornar os dias leves e agradáveis.
Após o jantar, ele lavou a louça e guardou tudo, enquanto eu ficava na sala escolhendo algo para assistirmos. Assistimos a uma série que havia estreado naquela semana.
Depois, amamentei o bebê, e ele o trocou e o levou para o berço.
Dez minutos depois, voltou para a sala. Ficamos ali, apenas nós dois, assistindo à TV, aproveitando um momento juntos.
Me aproximei mais dele e sentei em seu colo, envolvendo minhas mãos em seu pescoço antes de beijá-lo. Eu precisava daquilo—mais do que imaginava.
Flávia— Por que você não aproveita seu chefe bonito, Flávia? — Aline perguntou, rindo, me fazendo rir também. — Se você não quiser, apresenta ele pra mim.Soltei uma risada, balançando a cabeça.— Para com isso, Aline. Nem sei se ele é casado.— Ele usa aliança?Pensei por um instante e respondi com honestidade.— Não… pelo menos nunca vi.Ela sorriu de forma travessa.— Então isso já pode ser um sinal. Qual o nome dele? Vamos procurar.Achei engraçada aquela atitude dela, mas confesso que, no fundo, estava curiosa.Sentamos no sofá, cada uma com o celular na mão, e começamos a buscar. Primeiro encontramos uma rede social profissional. Ele havia estudado em boas universidades, falava três idiomas, tinha experiência em grandes empresas.— Ele é inteligente. — Aline comentou, analisando a tela com mais atenção.Depois, achamos outro perfil, mais pessoal. Poucas fotos dele, mas muitas de viagens, paisagens, lugares que visitou. Era um perfil discreto, sem muitas exposições.Mas o que ch
RicardoSeis meses trabalhando com Flávia. Seis meses observando sua inteligência, sua atenção aos detalhes, sua maneira precisa e direta de resolver problemas. Sua companhia no escritório era sempre agradável, tranquila, sem exageros.E, apesar de tudo, eu me pegava pensando no quanto ela era bonita.Foco, Ricardo. Você não deve olhar para uma colega de trabalho desse jeito.Ela era casada. Eu precisava parar com isso.Toda vez que essa ideia surgia na minha mente, eu a reprimia. Não era certo, não era apropriado. Mas, ultimamente, parecia impossível ignorar essa sensação incômoda. Eu não era assim.Naquela sexta-feira, estava decidido a espairecer, a me divertir, então aceitei o convite de alguns amigos e saímos à noite. O que eu não esperava era encontrá-la ali.Ela estava tão diferente do que via no trabalho. Mais solta, mais livre. Seu vestido curto deixava suas pernas em evidência, o batom intenso ressaltava ainda mais sua beleza. Era uma imagem completamente nova dela, e eu me
FláviaA música envolvia tudo, pulsando no peito, vibrando sob os pés.Aline me puxou para o meio da pista, animada como sempre. No começo, meus movimentos eram hesitantes—meus passos discretos, como se eu ainda estivesse tentando me adaptar àquela energia.Mas, aos poucos, algo mudou.A batida intensa, a eletricidade no ar, o jeito que as luzes coloridas dançavam ao nosso redor—tudo parecia me dizer que eu poderia simplesmente deixar ir.E, pela primeira vez em muito tempo, eu me permiti.Fechei os olhos por um instante e senti a música me guiar. Meu corpo se movia sem pensar, com leveza, sem preocupação. Uma sensação de liberdade tomou conta de mim, como se eu estivesse redescobrindo algo que tinha esquecido.Eu ri, espontaneamente, sem motivo. Apenas pelo prazer daquele instante.Então, num giro despreocupado, esbarrei em alguém.— Desculpa! — disse rápido, virando-me para encarar a pessoa.E quando levantei o rosto, vi que era Ricardo.O tempo pareceu desacelerar por um segundo. E
FláviaO dia no escritório estava correndo bem. Desde cedo, eu e Ricardo revisamos relatórios, ajustamos dados e conferimos informações. Tudo fluía de maneira natural, sem pressa, sem pressão.Até que seu fone desconectou do computador.A música, antes restrita a ele, preencheu o silêncio do ambiente. E foi aí que eu reconheci a melodia.— Essa música… — comentei, sem conseguir disfarçar a surpresa. — Eu adoro essa banda.Ele levantou os olhos, surpreso.— Sério? Achei que ninguém aqui conhecesse. Eu escuto sempre quando quero me concentrar.A conversa tomou outro rumo. Falamos sobre álbuns, letras e momentos marcantes. Pela primeira vez, Ricardo parecia realmente envolvido em um assunto fora do trabalho, e eu me peguei sorrindo mais do que o normal. Ele não estava tão sério como de costume—havia algo diferente em sua postura, um jeito mais relaxado, quase despreocupado. A tensão habitual, aquela rigidez profissional que ele sempre mantinha, parecia ter diminuído.Mas então, algo mudo
RicardoEu tinha muitas coisas para resolver, então decidi que essa semana trabalharia de casa. Enviei um e-mail para Flávia informando sobre a decisão e passando as tarefas que precisaria dela. Estaria disponível no chat caso precisasse de algo.Além do trabalho, minha vida pessoal também estava uma verdadeira bagunça—estava mudando de casa, organizando documentos, caixas, móveis. Ir até o escritório tomaria um tempo precioso, e, sinceramente, trabalhar remotamente seria a melhor opção no momento.O apartamento novo era grande, espaçoso, uma cobertura bem projetada. Por vezes me perguntava por que um lugar tão grande, já que eu morava sozinho. Mas a verdade é que queria mais. Queria namorar, casar, ter filhos. Para isso, era essencial ter um bom lugar para morar, um espaço que oferecesse conforto e estabilidade.Não gastava meu dinheiro com muitas coisas supérfluas, então nada melhor do que investir em um lar que representasse o futuro que eu desejava.A semana passou voando, e na se
FláviaA reunião começou como esperado—formal, objetiva e focada no trabalho. Ricardo, como sempre, manteve sua postura séria, explicando cada detalhe dos documentos e respondendo minhas dúvidas com clareza.No entanto, em determinado momento, ele pausou e olhou diretamente para mim, como se estivesse avaliando algo além dos números na tela.— Você tem feito um excelente trabalho, Flávia — disse, com um tom mais pessoal do que o habitual.Fui pega de surpresa. Ele nunca havia falado assim antes, sempre muito técnico e direto.— Obrigada, Ricardo — respondi, me sentindo-me um pouco desconcertada com a mudança na forma como me olhava.A reunião seguiu, mas aquela pequena mudança, aquele instante de reconhecimento, ficou pairando no ar.Ao final do dia, recebi uma nova mensagem dele no chat:"Boa tarde, Flávia. Bom trabalho hoje. A propósito, se precisar de alguma orientação extra sobre os relatórios, podemos marcar um tempo para conversar com mais calma."Algo ali parecia diferente. Ain
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