Nos últimos tempos, nosso contato tinha se tornado rápido, quase apressado. Eu entendia que fazia parte da mudança com a chegada do nosso filho, mas queria que, aos poucos, tudo voltasse ao normal.
Nosso beijo se aprofundou, carregado de sentimentos. Eu queria que ele soubesse o quanto o amava e, ao mesmo tempo, precisava sentir o seu amor.
Ele passou a mão em minha perna e disse:
— Amor, não podemos fazer nada, lembra?
— Mas não estamos fazendo nada demais — respondi.
Eu só precisava dele, do carinho dele, eu estava carente.
Posicionei minhas pernas, uma de cada lado do corpo dele, e ficamos ali por um bom tempo, apenas sentindo a presença um do outro, eu conseguia senti-lo e sabia que aquilo seria uma tortura para ele.
— Linda…
Ele estava ofegante, eu sabia que precisava parar, mas não queria, eu não queria sair dali. Era importante saber o quanto ele ainda me desejava.
Depois, fomos para o quarto. Nos deitamos, e eu encostei minha cabeça em seu peito, aproveitando aquele instante de aconchego e proximidade. Sem pressa, apenas sentindo o calor e o conforto de estarmos juntos—até que, naturalmente, adormecemos.
Uma semana se passou, e lá estava eu novamente, esperando por mais um jantar a dois. Chovia lá fora, e faltavam apenas 20 minutos para ele chegar. Mas esses 20 minutos se tornaram 1 hora. Depois 2. Depois 3.
Até que a notícia veio.
Meu marido estava ferido, em uma cama de hospital. O chão desapareceu sob meus pés. Eu estava perdida, sem saber o que fazer, sem conseguir raciocinar.
Foram dois dias de pura agonia, de esperanças misturadas ao medo, de preces silenciosas e lágrimas que não cessavam.
Até que a pior notícia chegou.
Ele não havia resistido.
Ele se foi.
Ele nos deixou.
Eu não sabia como seguir, como cuidar daquele bebê sozinha. Eu só sabia chorar. Chorar. Chorar.
— Flávia, você precisa levantar.
Eu ouvia a voz da minha sogra ao longe, mas era como se ela estivesse falando de um lugar muito distante. Eu não conseguia. Simplesmente não conseguia fazer nada.
Amamentava meu filho e, depois, voltava a me deitar. Era tudo o que eu tinha forças para fazer. O resto do mundo parecia ter parado ao meu redor, mas, ao mesmo tempo, continuava girando sem mim.
Meus sogros e meus pais cuidaram de tudo—do enterro, de mim, do meu filho. Eu apenas existia, sem saber como agir.
Eu tinha 27 anos. Estava sozinha. Com um bebê nos braços. O homem mais maravilhoso que já conheci havia ido embora. Como eu poderia continuar?
O tempo passava, mas eu continuava perdida.
— Filha, nós precisamos conversar — disse minha mãe, se aproximando da cama. — Faz três meses que o Bruno faleceu. Eu imagino o quanto dói, pois só a possibilidade de perder você ou seu pai já é um sentimento horrível.
Ela fez uma pausa, me olhando com carinho, como se tentasse medir a melhor forma de continuar.
— Mas agora você tem outra pessoa que depende de você. O Caio é apenas um bebê, ele precisa da mãe dele, ele precisa de você, filha. E daqui a pouco sua licença acaba… como será?
Ela suspirou e sorriu, como quem tenta trazer um pouco de luz para uma realidade difícil.
— Você já reparou que ele já sorri? Que já faz muitos barulhos?
A voz dela se suavizou, como um convite ao acolhimento.
— Filha, você precisa ficar bem. Por você. E pelo seu filho.
Eu sabia que precisava seguir em frente, mas como?
inha sogra arrumava toda a casa, minha mãe lavava minhas roupas e preparava comida, enquanto meu pai e meu sogro vinham aos domingos para o almoço. Aos poucos, as coisas iam se ajustando, mas ainda doía—e era difícil.
Então, naquela manhã, pela primeira vez, meu filho sorriu para mim.
Aquela carinha fofa, o cabelinho caindo sobre o rosto… Ele era a coisa mais linda do mundo. E ele precisava de mim.
Foi ali, naquele instante, que percebi que, apesar da dor, eu ainda tinha motivos para continuar.
Voltei a trabalhar quando Caio completou seis meses. Minha sogra tirou férias do trabalho para cuidar dele até que eu encontrasse uma escola. Encontrei uma perto de casa e tentei conciliar tudo com meus horários.
E, de alguma forma, as coisas estavam dando certo.
Até agora.
Dois anos se passaram. Dois anos sem ele. Dois anos tentando ser forte todos os dias—por mim e pelo meu filho.
Agora, eu enfrento um novo desafio. Já não conseguia mais conciliar meu horário de saída do trabalho com o horário da escola. Encontrei uma opção perfeita, com um horário que se encaixava melhor na nossa rotina, mas era mais cara. As escolas municipais iam até às quatro da tarde, e eu não sabia o que fazer.
Eu podia pagar, mas tudo ficaria no limite. Não queria gastar minhas economias. Precisava de uma promoção ou de outro emprego.
Eu era responsável, dedicada, sabia que trabalhava bem. Mas como eu não fazia parte do "grupo", as coisas nunca foram tão fáceis para mim.
Cheguei em casa, dei banho no Caio, coloquei um pijama nele e o deixei desenhando na sala enquanto tomava um banho rápido. Depois, preparei nosso jantar.
Ele era uma criança incrível—gentil, educado, parecia que sabia exatamente quando eu estava triste. Nesses dias, vinha me abraçar com suas mãozinhas pequenas, como se quisesse dizer que tudo ficaria bem. Ele era o melhor filho que alguém poderia ter.
Após o jantar, sempre nos sentávamos no sofá. Eu perguntava sobre seu dia, sua professora, as crianças da escola. Era o nosso momento, e por mais que o tempo fosse escasso, eu queria mantê-lo sempre.
Quando Caio dormia, eu arrumava a cozinha, estudava e, se conseguisse, tentava ler um pouco. Foi numa dessas noites, enquanto olhava algumas coisas no computador, que encontrei uma vaga de emprego com um salário melhor. Além do convênio médico e auxílio alimentação, oferecia um auxílio-creche que cobria quase o valor integral da escola que eu havia encontrado.
Seria um sinal?
Analisei todos os benefícios, conferi os requisitos—e eu me encaixava. Então, sem hesitar, enviei meu currículo.
Agora, era esperar.