O que você faria se ao chegar à igreja no dia do seu casamento, em vez de seu noivo, você encontrasse um estranho com sua imagem que afirma ser seu verdadeiro noivo e você descobre que caiu na armadilha de sua sogra? É o que acontece com Ivory Cloe, que vê seu casamento perfeito se transformar em um espeelho. Seu noivo... não era o noivo que ela acreditava conhecer! Em um piscar de olhos, Ivory passa do auge do triunfo para um abismo de desgraça, perdendo tudo por causa das armadilhas de sua sogra. O que você acha que Ivory fará? Forçada a escolher entre um casamento sem amor e a desolação da indigência, Ivory deve navegar por este novo mundo de traições e segredos. Recuperará o controle de seu destino ou sucumbirá à armadilha de sua sogra?
Ler maisExausta pelo trabalho, caí rendida sem me dar conta sobre minha mesa. Pouco a pouco, minha respiração se tornou entrecortada, ecoando no silêncio do escritório. As imagens começaram a se suceder na minha mente uma após a outra; eram flashes de um porão. A escuridão do lugar se entrelaçava com meus próprios medos, um labirinto de sombras que brincava com a fronteira da realidade.
A fria mesa pressionava contra minha bochecha, a textura áspera e a umidade se infiltravam em meus sentidos como se eu realmente estivesse lá. Com o rosto sulcado por lágrimas que destilavam um medo visceral, observava como a porta se fechava inexoravelmente. A escuridão que me cercava não deixava ver nada. Novamente comecei a chorar desesperadamente, a implorar para que me soltassem, que não me obrigassem a cometer aquele pecado. Gritava com terror e desespero clamando por ajuda. O sabor metálico do medo preenchia minha boca enquanto lutava para escapar sem conseguir. O cheiro de mofo e desesperança parecia impregnar o ar que respirava. A sensação de estar presa, de lutar pela minha própria sobrevivência, era avassaladora. Podia sentir como lutava para me manter viva não apenas por mim, mas pela nova vida que crescia dentro de mim, sem sucesso. O terrível pesadelo se sobrepunha à clareza do meu escritório; as grades de uma diminuta janela do porão se transformavam em os vergalhões de sombra projetados pelas persianas do meu despacho. A comida trazida pela minha captora se confundia com a lembrança dos almoços compartilhados em silêncio com minha mãe. A desesperança pairava sobre mim, densa como a neblina de um amanhecer melancólico. Tinha que encontrar uma saída, não apenas por mim, mas também pela inocente vida que se formava em meu ventre. As paredes pareciam se fechar, cada pedra fria um testemunha muda. As sombras brincavam entre si, formando figuras que desafiavam toda lógica: figuras humanas distorcidas pelo medo e pela escuridão, sussurros que se perdiam no eco do porão. Tentava gritar, mas minha voz se afogava no vazio, um sussurro a mais no coro silencioso do terror. O escritório voltava a mim em fragmentos: o tic-tac do relógio, o piscar de uma luz defeituosa, a cadeira que rangia levemente sob meu peso. Mas o porão nunca se afastava totalmente; era uma presença constante cercada de sombras que iam e vinham, sem rostos, com o olhar vazio... Não, me solta, me solta! — Ivory…, Ivory…! —Uma forte sacudida me fez saltar e endireitar-me na cadeira. Eu havia adormecido depois de uma longa jornada de trabalho. — O que está acontecendo? Por que você chorava? Ainda sem entender que estava acordada, olhei para minha melhor amiga e assistente, Amelie, que me observava preocupada. Minha testa estava sulcada por pérolas de suor e meu olhar ainda refletia o terrível sonho que, há um tempo, me atormentava. — Outra vez com esse pesadelo? —perguntou minha amiga enquanto me entregava um copo de água. — Obrigada por me acordar, Amelie —respondi, bebendo a água—. A cada dia não sei se o que experimento é um sonho, um pesadelo, uma lembrança ou uma premonição. — A que você se refere com isso de lembrança? Lembrança de quê? —perguntou Amelie, sentando-se à minha frente. — Não sei! Era muito pequena; acompanhava minha mãe a todos os trabalhos em casas de gente rica. Mas havia uma casa que era tenebrosa, e as empregadas diziam que sempre ouviam alguém chorando atrás das paredes do porão —contou-lhe, voltando a pegar a água com a mão trêmula—. Mamãe me afastava de lá cada vez que me via com o ouvido colado àquela parede. Juro que ouvia alguém chorando! Bom... isso eu acho. Não sei..., outras vezes acho que era mamãe dentro daquele lugar, e eu com ela; ou sou eu. Não sei...! É horrível. O pior é que sonho a mesma coisa sempre, repetidamente, desde que minha mãe morreu. Não será uma lembrança? — Uma lembrança? Como pode ser uma lembrança, Ivory? —disse Amelie—. Sua mãe começou a não levar você com ela antes dos cinco anos; como você vai se lembrar de algo assim? Lembre-se que ela te deixava com minha mãe. Você também não ficou presa em um porão; é um pesadelo! — Não será uma premonição? —perguntei assustada. — Ivory! Você não é supersticiosa —tentou me acalmar Amelie, realmente preocupada comigo. O sonho voltava a mim de diferentes maneiras, mas sempre apresentava uma jovem suplicando para ser salva. Às vezes, outras figuras se perdiam na escuridão enquanto minha mãe me escondia. Parecia que todas as lembranças, sonhos ou pesadelos haviam ressurgido na minha mente à medida que a data do casamento se aproximava, e já não contava com minha doce mãe para me ajudar a esquecer. — Você deveria considerar a possibilidade de consultar um psicólogo —insistiu minha amiga— e deixe de atender a cada capricho da sua sogra. Te digo, Ivory, aquela mulher não me inspira confiança. Acorde, não é quem parece ser; eu vi como muda a expressão ao sair daqui. — Outra vez com isso, Amelie? Sou uma mulher afortunada. Perdi minha mãe, mas o destino me deu uma segunda. Amaya é a sogra que todas gostariam de ter —expressei, levantando-me da cadeira—. Ela é perfeita e você deveria ser grata; foi ela quem me convenceu a expandir minha cadeia de lojas de luxo naquela área e de te colocar à frente. — Você tem certeza de que ela não tenta te afastar de mim? —perguntou Amelie, acompanhando-me até onde um manequim exibia um impressionante vestido de noiva—. Ela sabe que sou a única que fala com sinceridade e te impede de continuar dando mais dinheiro. Acorde, Ivory; se você esperar muito para fazê-lo, pode ser tarde demais. Parada, abracei minha melhor amiga com afeto. Tinha consciência de que tudo que Amelie dizia era por meu bem-estar. Mas minha sogra havia sido muito generosa comigo. É verdade que pedia dinheiro com frequência, mas eu tinha em sobra; por que não compartilhar? — Você não viu Ilán? —perguntei, separando-me dela, para mudar de assunto. — Não sei porque ultimamente não o vejo com frequência e só manda mensagens e presentes. — Ivory, você tem certeza de que ele quer se casar com você? Vejo-o muito afeiçoado àquela amiga da sua sogra que trouxe para me substituir —insistiu Amelie, que desconfiava de todos. — Deixe de desconfiar de todos, Amelie! Melhores namorados não poderia encontrar, o que você tem que fazer é ficar feliz por mim —disse, vendo como se segurava para não continuar falando. — Vou ficar bem, você verá, serei a mulher mais feliz do mundo. Você já viu alguma vez uma sogra como a minha? — Ivory, não quero ser obstinada. Mas, você não viu a foto na revista de homens de negócios onde Ilán aparece? Parece que não são os mesmos... — Amelie, pare de desconfiar! Isso é ridículo o que você insinua —proteste, embora tivesse visto a cor dos olhos diferentes; ele disse que era o reflexo da luz. — Vou me casar com o homem dos meus sonhos. Meu príncipe encantado. — Não há pior cego do que aquele que não quer ver —murmurou para que eu não a ouvisse.Olhei para Ilán e me sentia nervosa, embora tentasse disfarçar falando e fazendo coisas sem parar. Com certeza, antes, com uma ligação, eu poderia buscar um lugar luxuoso como eu faria, mas agora éramos pobres. Ou assim eu achava. Não queria que a mãe dele descobrisse onde estávamos ainda; por isso, não era inteligente nos hospedarmos em um hotel. —Aqui não nos encontrarão —disse ao ver como ele me observava sem falar; era algo silencioso—. Você não fala muito. Tudo bem, não te odeio. Bem..., talvez um pouquinho. Brinquei para ver se ele se relaxava, mas na verdade estava muito nervosa. Ele parecia estar aproveitando a vida com sua inesperada esposa, ou seja, eu, que continuava com o trabalho da casa. Sob seu olhar, fui estendendo os lençóis sobre a cama com cuidado. Com cada dobra e cada ajuste, as arestas do pobre entorno se suavizavam e o lugar começava a se sentir menos como um abrigo temporário e mais como um verdadeiro lar. —Vê? Não está nada mal —disse, mostrando ao meu r
Estava realmente animada ao saber que poderia conseguir dinheiro para começar. Custou uma fortuna, então isso me levantaria. Eu o ofereceria ao melhor comprador, esperando que sua beleza e qualidade ainda pudessem atrair uma oferta decente. —Sinto muito, Ilán, mas preciso pegar emprestada uma de suas roupas, tudo bem? —Ilán apenas assentiu e me olhou maravilhado, como se eu fosse um objeto digno de admiração. Estou certa de que para um garoto rico como ele, isso parecia uma aventura. Seus olhos brilhavam ao me ver, e eu entendia. Eu tinha uma figura que desafiava as expectativas. Meu físico, embora esbelto e não particularmente alto, irradiava uma força inesperada. Costumava usar meu cabelo preso em um coque que escondia seu verdadeiro comprimento, um segredo bem guardado que revelava sua magnitude quando se soltava, honrando a memória do meu pai, que me pediu para nunca cortá-lo. Antes da promessa, costumava cortá-lo quase raspado, uma demonstração do meu espírito rebelde que ain
Voltei a dirigir o carro até encontrar uma casa de penhores. Depois de pechinchar por um tempo e conseguir um preço razoável pela joia, perguntei ao homem se ele conhecia algum aluguel barato por perto. Ele negou com a cabeça e disse que parecia ter visto de manhã, do outro lado do rio, um anúncio de aluguel. —Vamos, Ilán, não importa, vamos alugá-lo hoje; com certeza vale menos que um hotel —disse enquanto colocava o carro para andar, que por sorte estava cheio de combustível. —Está segura de que não é melhor um hotel? —perguntou Ilán, olhando com desconfiança para que lado da cidade estávamos indo, a dos de baixa renda. —Sei que isso é novo para você, Ilán, mas não tenha medo; eu conheço toda esta parte da cidade —garanti com confiança—. As pessoas são muito amigáveis. Ilán me ofereceu um olhar curioso enquanto cruzávamos a ponte. O anúncio que anunciava a disponibilidade da moradia pendia torto, como se estivesse prestes a se render diante do vento e do tempo, frente a uma
Com a determinação de quem cruzou um ponto sem retorno, continuava dirigindo com as mãos apertadas no volante, como se fosse meu ponto de salvação. Agora que a adrenalina havia passado, o medo começou a tomar conta de mim e a me fazer temer por meu futuro.—Está tudo bem, Ilán, não temas —repetia uma e outra vez, como se precisasse escutá-lo mais eu do que ele. Ilán permanecia em silêncio, sem deixar de me olhar; havia curiosidade e incredulidade na maneira como o fazia—. Você vai ver, nós dois conseguiremos juntos. Não deixarei que ela continue te usando para seu benefício. Mas esqueça sua vida anterior, você não continuará afundado em vícios.Através do retrovisor, vi Ilán franzir a testa ao me ouvir, mas ele não disse nada. Apenas ao encontrar nossos olhares, me dedicou um pequeno sorriso. Por que ele estava sorrindo? Estamos em sérios problemas! pensei, olhando para a frente e consciente do peso da decisão que havia tomado e da batalha que se aproximava ao ter minha sogra como ini
O padre, fazendo uma pausa para medir o peso do momento, continuou com mais convicção, como se a coragem inadvertida que eu mostrara me tivesse conferido uma nova firmeza. —Se alguém tem algo mais a dizer, que fale agora ou cale-se para sempre? —As palavras ecoaram em todo o espaço sagrado. —Eu, eu me oponho! —gritou Amaya. A surpresa se apoderou de todos; os presentes haviam sido convocados para o casamento de seu filho e agora eram testemunhas de seu espetáculo inconcebível. —Ilán é incapaz de formar uma família e agir como homem —declarou com uma frieza que gelou a atmosfera—. É um incapacitado, não pode tomar decisões razoáveis por si mesmo! Diante do espanto geral, a voz de Ilán emergiu com um eco de determinação que poucos lhe conheciam. —Mãe! Eu… eu aceito —balbuciou com dificuldade—. Se... se... se Ivory me aceita, eu também. A atmosfera na igreja se transformou em um turbilhão de emoções contraditórias, e a exclamação de Amaya apenas serviu para intensificar a c
Minha história de amor havia terminado. Atravessei a sala com meu olhar, finalmente encontrando os olhos do homem na cadeira de rodas, aquele suposto Ilán. Seus olhos eram um abismo escuro, mas naquela profundidade, percebi um brilho que não soube decifrar. —Mãe..., eu não... —Shh, cale-se Ilán —Amaya o interrompeu, esperando minha reação com um sorriso—. Finja estar ferido. Contemplava o sorriso triunfante de minha sogra, apertando os papéis em minha mão. Agora entendia o verdadeiro significado daquele conselho, no momento mais amargo e impiedoso da minha vida. Por um instante fugaz, o véu da confusão se levantou e a clareza inundou minha mente com a força de uma revelação. Eu havia sido manipulada e enganada. Olhei o sorriso triunfante de minha sogra, e compreendi naquele instante: ela estava esperando minha reação descontrolada para me jogar na rua. Pela primeira vez tudo se tornou claro, ela não havia terminado. Apenas não me conhecia, não me conhecia bem. Havia aguentado
Último capítulo