Flávia
Aline me ajudou tanto naquela semana com o Caio que eu nem sabia como agradecer. Ofereci dinheiro como forma de pagamento, mas ela recusou sem hesitar.
Ela sempre esteve ao meu lado, e constantemente dizia o quanto eu era sortuda por ter uma amiga como ela.
— Flávia, amiga é para essas coisas — repetia. — Além disso, sabe que pode contar comigo para o que precisar… até para sair à noite e conhecer uns gatinhos por aí!
Era o jeito dela, sempre brincando, tentando me convencer a relaxar e aproveitar mais. Mas não, eu não estava preparada para isso. Meu foco era cuidar de mim e do meu filho.
— Amiga, você precisa se divertir também. Conhecer alguns homens, beijar na boca, e se sentir à vontade… bem, quem sabe outras coisas?
Eu apenas ria. Não me imaginava com outro homem além do Bruno. Além disso, eu tinha um filho pequeno—não dava para confiar facilmente em outra pessoa.
Aline balançou a cabeça, divertida com minha reação.
— Você acha que nunca vai estar pronta para isso, mas quando menos esperar, pode acontecer — disse com um sorriso cúmplice.
Revirei os olhos, rindo.
— Não sei, amiga. Minha vida está tão focada no Caio, no trabalho… Nem sei se consigo imaginar outra pessoa ao meu lado.
Ela cruzou os braços, me observando com aquele olhar típico de quem não ia desistir do assunto.
— Tudo bem, eu entendo. Mas sabe de uma coisa? Você merece felicidade em todas as áreas da vida. Não estou dizendo pra sair correndo atrás de um namorado, mas pelo menos se abrir para possibilidades.
Pensei por um momento. No fundo, sabia que Aline só queria o meu bem.
— Talvez… um dia — respondi, meio hesitante.
Ela sorriu, satisfeita.
— Isso já é um começo!
Eu estava gostando do trabalho. Ricardo era muito atencioso, explicava tudo com clareza e demonstrava paciência, o que facilitava o aprendizado. No entanto, ele era bastante sério, e às vezes isso me deixava um pouco desconfortável. Mas era o jeito dele, não tinha como mudar.
Ele raramente sorria, mas sempre mantinha a educação e a gentileza. Quando estávamos muito concentrados em alguma tarefa, ele costumava sair por um instante e voltava com um copo de suco ou algum lanche para a tarde. Além disso, insistia para que eu fizesse pausas ao longo do dia, ressaltando a importância de descansar entre as demandas. Eu apreciava esse cuidado, mas, ao mesmo tempo, não queria abusar e correr o risco de parecer preguiçosa.
Finalmente chegou o dia do primeiro pagamento, e junto com ele vieram os benefícios: auxílio-creche, vale-alimentação, vale-refeição e auxílio home office. Eu estava no céu!
Aquele salário realmente faria diferença, trazendo mais conforto e estabilidade para minha vida e a do meu filho. Agora, eu poderia proporcionar uma melhor qualidade de vida para nós, sem tantas preocupações. O vale-alimentação, em especial, era um grande alívio—não precisaria mais retirar parte do salário para as compras do mercado.
Era um novo começo, cheio de possibilidades.
Com o salário na conta e os benefícios garantidos, senti um alívio genuíno pela primeira vez em muito tempo. Era uma sensação de segurança, de saber que poderia dar ao meu filho uma rotina mais tranquila, sem tantas preocupações financeiras.
Minha prioridade era organizar tudo direitinho, planejar os gastos e garantir que o dinheiro seria bem aproveitado.
Mesmo assim, ao fim do dia, enquanto olhava a tela do computador, uma ideia começou a surgir. Talvez eu pudesse fazer algo diferente no fim de semana, algo só para mim e para o Caio. Um passeio, uma refeição especial, um momento só nosso para celebrar essa nova fase.
No sábado, acordei animada com a ideia de fazer algo especial com Caio. Fomos ao mercado e escolhi algumas coisas simples para montar um piquenique—sucos, pães, frutas e alguns biscoitos que ele adorava.
Depois, seguimos para o parque. O dia estava agradável, com o sol suave iluminando tudo ao redor. Espalhei a toalha na grama enquanto Caio corria animado pelo espaço aberto, explorando cada canto. Brincamos juntos, corremos atrás de uma bola e rimos muito. Era gratificante vê-lo tão feliz, aproveitando cada momento sem preocupações.
Quando percebi que ele começava a ficar cansado, decidimos voltar para casa. Ele dormiu no caminho inteiro, rendido depois de tanta diversão.
Ao chegarmos, ele despertou, ainda sonolento. Dei um banho rápido nele, deixei que escolhesse um filme para assistir e servi um pedaço de bolo. Enquanto ele se acomodava no sofá, fui tomar um banho rápido também.
Quando voltei, sentei ao lado dele e ficamos ali, assistindo juntos.
Essas eram, sem dúvida, as melhores tardes para mim. No entanto, eram justamente esses momentos tranquilos que traziam lembranças do passado—lembranças que ainda doíam.
Eu e Bruno costumávamos passar horas no sofá, assistindo séries e conversando sobre tudo. O jeito como ele me olhava, os comentários espontâneos, as risadas… Eram memórias boas, mas que ainda pesavam no coração.
Suspirei, tentando não me deixar levar pela saudade.
Olhei para Caio, concentrado no filme, e sorri. Ele era minha maior alegria, meu presente, meu futuro.
O fim de semana foi de descanso, e agora, com as segundas e sextas trabalhando em casa, minha rotina estava mais leve.
No domingo à tarde, dediquei um tempo para organizar tudo e começar a semana sem preocupações. Separei as coisas de Caio para a escola, deixei minhas próprias coisas prontas, preparei as refeições para os próximos dias e lavei todas as frutas, garantindo praticidade para a rotina.
A casa estava arrumada, tudo no lugar. Olhei ao redor e senti uma leve satisfação—com tudo organizado, só restava torcer para que a semana seguisse tranquila.
Com tudo pronto, finalmente me permiti sentar por um momento no sofá, tomando um chá quente enquanto observava a casa arrumada ao meu redor. Era uma sensação boa—Começar a semana com tudo organizado me dava uma certa tranquilidade.
Caio brincava no tapete, entretido com seus carrinhos, e eu o observava, refletindo sobre como nossa rotina havia mudado. Trabalhar de casa às segundas e sextas tornava tudo mais fácil, mas ainda assim, sempre havia aquela expectativa sobre como seriam os próximos dias no escritório.
Peguei meu celular e chequei alguns e-mails, garantindo que nada urgente havia surgido de última hora. Depois, abri o calendário e revisei os compromissos da semana, buscando me preparar mentalmente.
Suspirei e fechei os olhos por um instante.
— Vai ser uma boa semana — murmurei para mim mesma, tentando afastar qualquer ansiedade.
Caio se aproximou, deitando a cabeça no meu ombro.
— Mamãe, posso ver mais um episódio antes de dormir?
Sorri, acariciando seus cabelos.
— Pode sim, meu amor.
E assim, encerramos o domingo com a paz que eu tanto esperava.
Era segunda-feira de manhã. Depois de deixar Caio na escola, voltei para casa, me arrumei um pouco e liguei o computador para começar o dia.
Enquanto esperava a inicialização, meus olhos recaíram sobre minha mão. Ainda usava a aliança. Por alguma razão, não tinha coragem de tirá-la. Sentia que, ao removê-la, Bruno não faria mais parte de nossas vidas, o que no fundo era uma bobagem—ele sempre faria.
Respirei fundo e tentei afastar aquele pensamento. Assim que o computador ligou, abri os arquivos que precisaria ao longo do dia, peguei um copo de suco e comecei a revisar minha agenda.
Após o almoço, teria uma reunião com Ricardo. Ao abrir o chat, notei uma mensagem dele:
"Bom dia, Flávia. Por favor, dê prioridade a esses documentos. Qualquer dúvida, pode me chamar."
Li a mensagem duas vezes, absorvendo a informação. Mas, sem perceber, me peguei olhando para a foto dele no perfil do chat. Ele era bonito.
Sacudi a cabeça, como se precisasse de um lembrete para voltar ao foco. Peguei os documentos indicados e comecei a analisá-los.
Sacudi a cabeça, afastando a distração e me concentrando nos documentos que Ricardo havia enviado. Abri os arquivos e comecei a analisá-los, tentando absorver todas as informações antes da reunião.
O tempo passou rápido, e logo o relógio marcou a hora do almoço. Enquanto comia, minha mente ainda vagava entre as tarefas e a reunião que aconteceria mais tarde. Ricardo era sempre muito objetivo e direto, o que tornava o ambiente profissional bem sério. Ainda assim, ele era gentil, atento aos detalhes, e demonstrava preocupação com o bem-estar dos colegas.
Terminei o almoço e voltei ao computador, revisando novamente os documentos para garantir que não havia deixado escapar nada importante. Antes da reunião, decidi mandar uma mensagem para ele:
"Boa tarde, Ricardo. Já estou revisando os documentos. Nos vemos na reunião."
Poucos minutos depois, a resposta chegou:
"Ótimo, Flávia. Obrigado. Se precisar de algo antes, me avise."
Sorri levemente, percebendo o tom profissional, mas atencioso de sua mensagem. Respirei fundo e me preparei. A reunião seria um novo passo para me aprofundar no trabalho e, de certa forma, na dinâmica com Ricardo.
Mal sabia eu que, naquele dia, algumas coisas começariam a mudar.