Capítulo 4

Ricardo

Fui avisado que a nova colega começaria hoje. Esperava que fosse alguém que realmente gostasse de trabalhar. Eu não tinha problema em ensiná-la, só queria que não fosse preguiçosa.

Depois do almoço, finalmente fomos apresentados.

Flávia. Esse era o nome dela.

Expliquei o que achei necessário para o primeiro dia. Ela se mostrou atenciosa, interessada, absorvendo tudo com atenção.

Mas algo mais me chamou a atenção.

Ela era bonita. Muito bonita.

Não que eu reparasse nas colegas de trabalho, mas Flávia realmente se destacava. Tinha uma voz doce, educada, um jeito delicado.

Porém, limitei meus pensamentos. Iríamos trabalhar juntos todos os dias. Eu não podia ficar reparando nela. Além disso, ela usava uma aliança, indicando que era casada. 

Durante toda a semana, trabalhamos juntos e pude perceber que ela aprendia rápido. Por isso, na próxima segunda-feira, já estaria pronta para receber as primeiras tarefas.

Eram cinco da tarde quando me despedi dela. Peguei minhas coisas e segui para casa. O fim de semana foi tranquilo; não sai, apenas aproveitei para organizar tudo, já que na próxima semana precisaria trabalhar presencialmente todos os dias por conta da nova funcionária.

No sábado, acordei sem pressa, aproveitando a manhã para tomar um café reforçado e colocar algumas coisas em dia. Depois, passei boa parte do tempo organizando a casa—arrumei gavetas esquecidas, dei uma nova disposição aos móveis e até revisei alguns papéis que estavam acumulados. Foi uma sensação boa ver tudo mais arrumado. No final da tarde, preparei algo para jantar e relaxei assistindo a um filme.

O domingo seguiu o mesmo ritmo tranquilo. Tirei algumas horas para descansar, ouvir música e pensar na semana que estava por vir. Separei minhas roupas para os dias presenciais e fiz uma lista mental das tarefas que precisaria adiantar. No fim do dia, fechei o final de semana com um bom filme.

Na segunda-feira, saí cedo de casa para evitar o trânsito. Cheguei à empresa antes do horário, o que me permitiu tomar o café da manhã com calma antes de seguir para minha sala. Lá, revisei minha agenda e me preparei para receber a nova funcionária.

Trinta minutos depois, ouvi batidas na porta.

— Entre — respondi.

Ela entrou e cumprimentou:

— Bom dia, Ricardo.

Hoje pareceu ainda mais bonita do que na semana passada. Claro, sua aparência sempre foi agradável, mas havia algo a mais. Seus cabelos pretos emolduravam seu rosto de maneira elegante, a franja longa caía suavemente na lateral. O estilo impecável e o perfume discreto completavam sua presença.

Foco, Ricardo. Isso não é apropriado, ainda mais considerando que ela é casada.

Saí dos meus pensamentos e a cumprimentei:

— Bom dia, Flávia. Por favor, sente-se.

Apresentei a ela alguns documentos que deveria começar a avaliar. Flávia examinava tudo com atenção, absorvendo cada detalhe. Pedi que compartilhasse seu ponto de vista sobre o que havia entendido e o que poderia ser melhorado. Para minha surpresa, suas ideias eram precisas e perspicazes, cada observação traz um novo olhar para os processos.

— Esse balanço está errado — disse ela, circulando um campo no papel.

Olhei com mais cuidado e, de fato, havia um erro. Ela percebeu algo que tinha passado despercebido por mim, demonstrando uma habilidade analítica impressionante.

— Muito bem, Flávia, você está certa, realmente há um erro — disse a ela, reconhecendo sua observação precisa.

— Posso trazer meu computador para cá? — perguntou.

— Claro que pode.

Ela saiu e, pouco depois, voltou com seu computador. Compartilhamos uma planilha e começamos a revisar os relatórios, marcando os erros encontrados e confirmando os dados corretos. Flávia demonstrava grande eficiência e atenção aos detalhes. Quando o relógio marcou meio-dia, já havíamos avançado bastante.

— Flávia, pode parar agora e ir almoçar. Às duas, voltamos e continuamos.

Ela apenas acenou em concordância e saiu da sala. Fiquei ali mais um tempo organizando alguns documentos e, depois, também segui para o almoço.

Almocei rapidamente e logo voltei para o escritório. Antes de retomar o trabalho, chequei alguns e-mails e dei uma olhada no celular. O tempo passava sem pressa até que ouvi uma batida na porta—Flávia havia voltado, meia hora antes do horário combinado.

— Pode entrar — disse.

Ela se aproximou da mesa e, ao perceber que ainda estávamos adiantados, sugeri:

— Ainda falta meia hora, Flávia. Se quiser, pode aproveitar esse tempo para resolver algo que precise.

— Não, já fiz tudo o que precisava. Mas, se estiver incomodando, posso sair — respondeu.

— De forma alguma — respondi, tranquilizando-a.

Decidi adiantar algumas informações importantes para ajudá-la na familiarização com o trabalho.

— Bom, vou te enviar alguns e-mails com materiais essenciais para você conhecer melhor os clientes.

Enviei alguns documentos e, sem perder tempo, ela começou a analisá-los com atenção. Seu olhar sério acompanhava a tela do computador, e, vez ou outra, fazia perguntas pontuais. Enquanto falava, eu percebia seus dedos ágeis digitando algumas anotações—seu nível de concentração e organização era admirável.

— Certo, Flávia, podemos voltar à planilha.

Retomamos a revisão dos documentos, e como sempre, Flávia mantinha sua atenção absoluta em cada detalhe. Pontuava os erros que identificava, fazia perguntas sempre que surgiam dúvidas e demonstrava uma análise cuidadosa de cada dado.

— Ricardo, esses dois relatórios acredito que estão incompletos. Não possuem informações claras, diferentemente dos outros — disse, apontando as linhas da planilha que correspondiam aos relatórios.

Mais uma vez, ela tinha razão. Ao conferir os documentos com mais atenção, percebi que realmente havia inconsistências ali. Seu olhar analítico era impressionante, e naquele momento, tive a certeza de que teríamos uma excelente parceria de trabalho.

Reconhecendo a perspicácia de Flávia, abri um dos relatórios incompletos para examinar mais de perto.

— Você tem razão, essas informações estão vagas — admiti, passando os olhos pelas linhas do documento. — Precisamos encontrar os dados corretos para complementar isso.

Flávia digitou algo rapidamente em seu computador e, após alguns segundos, olhou para mim com um leve sorriso.

— Acho que posso resolver isso. Vou cruzar essas informações com outros relatórios e ver se consigo preencher as lacunas.

Fiquei impressionado com sua iniciativa. Ela não hesitava em buscar soluções e demonstrava uma segurança admirável no que fazia.

— Excelente ideia, Flávia. Se precisar de alguma orientação, me avise.

Ela acenou positivamente e se concentrou na tela do computador, enquanto eu revisava outros documentos ao lado. Por alguns minutos, a sala ficou em silêncio, preenchida apenas pelo som dos teclados sendo pressionados e o leve zumbido do ar-condicionado.

Até que, de repente, Flávia se virou para mim com um brilho nos olhos.

— Ricardo, acho que encontrei um padrão aqui. Veja isso!

Ela inclinou a tela do computador para que eu pudesse visualizar melhor, e, ao analisar os dados, percebi que sua observação fazia sentido.

— Impressionante, Flávia. Seu olhar analítico realmente faz a diferença.

Ela sorriu, satisfeita.

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