Capítulo 6

Flávia

A reunião começou como esperado—formal, objetiva e focada no trabalho. Ricardo, como sempre, manteve sua postura séria, explicando cada detalhe dos documentos e respondendo minhas dúvidas com clareza.

No entanto, em determinado momento, ele pausou e olhou diretamente para mim, como se estivesse avaliando algo além dos números na tela.

— Você tem feito um excelente trabalho, Flávia — disse, com um tom mais pessoal do que o habitual.

Fui pega de surpresa. Ele nunca havia falado assim antes, sempre muito técnico e direto.

— Obrigada, Ricardo — respondi, me sentindo-me um pouco desconcertada com a mudança na forma como me olhava.

A reunião seguiu, mas aquela pequena mudança, aquele instante de reconhecimento, ficou pairando no ar.

Ao final do dia, recebi uma nova mensagem dele no chat:

"Boa tarde, Flávia. Bom trabalho hoje. A propósito, se precisar de alguma orientação extra sobre os relatórios, podemos marcar um tempo para conversar com mais calma."

Algo ali parecia diferente. Ainda profissional, mas… talvez um pouco mais próximo do que antes.

E foi assim que tudo começou a mudar.

Após a reunião, conversamos sobre alguns detalhes do trabalho. Como nos encontraríamos pessoalmente no escritório em breve, teríamos a chance de revisar tudo com mais atenção.

Olhei o relógio e percebi que precisava ir.

— Ricardo, me desculpe, preciso sair agora para buscar meu filho na escola — falei, com um leve receio.

Sabia que muitas mulheres enfrentam dificuldades no ambiente profissional por conciliarem trabalho e maternidade. O medo de ser vista como alguém que "não daria conta" pairava sobre mim, mesmo sabendo que esse preconceito era cruel e injusto.

Mas, para minha surpresa, Ricardo apenas sorriu de forma compreensiva.

— Me desculpe, Flávia, eu que estou tomando seu tempo. Vai lá, até amanhã.

Seu tom era genuíno, sem qualquer julgamento. Isso me deu um alívio instantâneo.

Na terça-feira, cheguei ao escritório na hora certa, pronta para começar o dia. Como sempre, abri minha agenda, chequei os e-mails e revisei as tarefas pendentes. Eu não podia deixar nada passar.

Foi então que vi Ricardo entrando no escritório. Sério, como sempre, atravessou o espaço sem cumprimentar ninguém—nem mesmo a mim.

Por um momento, um pensamento me incomodou. Será que fiz algo errado? Será que ele ainda pensava no fato de eu ter saído mais cedo no dia anterior para buscar meu filho na escola?

Sacudi a cabeça, afastando essas dúvidas. Eu trabalhava bem, sabia disso. Eu reconhecia meu valor profissional e sabia que merecia estar ali.

O dia seguiu, e percebi que não tínhamos nenhuma reunião marcada. Ricardo também não me chamou para revisar nada, então, aparentemente, nossa interação seria mínima.

Então, no meio da manhã, recebi uma mensagem dele no chat:

"Flávia, poderia dar uma olhada nesses relatórios? Podemos conversar sobre eles mais tarde."

Li a mensagem duas vezes antes de responder, sentindo um misto de alívio e curiosidade.

"Claro, Ricardo. Vou revisar e te aviso quando estiver pronto."

Ele ainda confiava em meu trabalho. Talvez seu silêncio naquela manhã não tivesse nada a ver comigo.

Deixei o pensamento de lado e voltei minha atenção aos documentos. O dia ainda tinha muito a acontecer.

Passei a tarde toda concentrada nas minhas responsabilidades. O volume de trabalho foi intenso, e ao final do dia, já sentia o cansaço pesar. Ainda assim, estava satisfeita—tinha conseguido avançar bastante e concluído tudo com dedicação.

Assim que deu o horário, saí rapidamente do escritório, passei na escola para buscar Caio e seguimos para casa.

Chegando, dei um banho nele, e em seguida, brincamos um pouco. Seu riso leve preenchia o ambiente, e eu aproveitava cada segundo, sabendo o quanto esses momentos eram preciosos.

Depois, servi o jantar. Enquanto ele comia, me peguei observando-o com carinho. Essas pequenas rotinas, nossa convivência diária, eram fundamentais para mim. Mais do que tudo, queria que Caio tivesse boas lembranças—que um dia olhasse para trás e se lembrasse do tempo que passamos juntos com carinho e felicidade.

— Meu amor, agora é hora de dormir — disse, pegando Caio no colo com carinho.

Levei-o ao banheiro, escovei seus dentes e o levei para o quarto. Esse era um dos momentos mais especiais do dia. Gostava de ler histórias para ele e cantar algumas músicas suaves, que sempre o deixavam tranquilo. Aos poucos, via suas pálpebras pesadas se fechando, até que, finalmente, adormecia.

Com ele dormindo, eu podia, enfim, tomar um banho com calma, sentir a água quente aliviar o cansaço do dia. Depois, tentava estudar um pouco, assistir a alguma coisa ou ler um livro—mas, na maioria das vezes, o sono me vencia antes que eu pudesse terminar qualquer uma dessas atividades.

Esse seria o fim de semana em que meus sogros ficariam com Caio, então Aline aproveitou para me chamar para jantar.

— Flávia, por favor, vamos! — insistiu, empolgada. — Você vai trabalhar de casa, seu filho vai estar com os avós, e você precisa se divertir. Vamos, não é nenhuma balada, é só um restaurante, um papo de amigas. Você merece!

Por um instante, pensei em recusar. Há tempos eu não saía, sempre priorizando minha rotina e meu filho. Mas Aline tinha razão—era hora de me distrair, comemorar o trabalho que estava indo bem e me permitir um momento leve.

— Tá bom, eu vou — respondi, arrancando um sorriso vitorioso dela.

No sábado, após deixar Caio com os avós, fui para casa e me arrumei com calma. Escolhi uma roupa confortável, mas que me fizesse sentir bem. Era estranho me preparar para sair sem precisar pensar em fraldas ou brinquedos na bolsa.

Cheguei ao restaurante e logo avistei Aline, já me esperando.

— Que bom que você veio amiga.

Enquanto jantávamos, conversamos sobre tudo—trabalho, sonhos, histórias engraçadas. Era bom sentir que, por algumas horas, eu podia apenas ser Flávia, sem preocupações.

E naquele momento, percebi: eu realmente merecia aquilo.

Enquanto jantávamos, Aline falava animada sobre os últimos acontecimentos da sua vida—o trabalho, os planos para viajar, até mesmo alguns encontros que teve recentemente.

— E você, Flávia? Como está se sentindo com tudo? — perguntou, me observando com atenção.

Parei por um instante, refletindo sobre a pergunta.

— Sabe, estou feliz. O trabalho está indo bem, Caio está ótimo… Acho que, depois de tudo, estou começando a encontrar um novo ritmo para minha vida.

Ela sorriu, satisfeita.

— Isso é tudo que eu queria ouvir.

Peguei minha taça e dei um gole no suco que havia pedido, senti-me bem naquele ambiente. Era leve, tranquilo, sem responsabilidades, pesando nos meus ombros.

— Mas e sobre você? Não sente falta de sair mais, conhecer gente nova? — Aline perguntou, com um olhar sugestivo.

Suspirei, já prevendo onde aquela conversa ia chegar.

— Não sei, amiga. Ainda não me vejo com outra pessoa… Bruno fez parte da minha vida por tanto tempo.

Aline apoiou os cotovelos na mesa, me encarando com ternura.

— Eu sei que não é fácil, e nunca vou te pressionar. Mas só quero que você saiba que, quando sentir que está pronta, o mundo ainda está aí. Você merece ser feliz em todos os sentidos.

Sorri, sentindo gratidão por sua preocupação genuína.

— Talvez um dia…

Namoro… Eu simplesmente não conseguia pensar nisso. Bruno foi meu único namorado, minha primeira paixão, o primeiro menino que beijei, o primeiro homem que me entreguei. Ele era a pessoa que eu amava.

Como eu poderia sequer imaginar outra pessoa ao meu lado? Eu nem sabia como começar. Sair, conhecer alguém, paquerar… namorar? Como se faz isso? Parecia um mundo completamente desconhecido agora.

E se eu tentasse? Ainda saberia beijar na boca?

Suspirei, sentindo uma mistura de saudade e incerteza. Talvez não fosse o momento.

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