Mundo ficciónIniciar sesiónGabriela sempre acreditou que sua vida tinha um caminho claro — até o dia em que Daniel a deixou no altar, destruindo não só o casamento, mas sua confiança no amor e em si mesma. Anos depois, o passado bate à sua porta de um jeito inesperado: Daniel reaparece, agora casado com a mãe dela. Morar sob o mesmo teto com quem a abandonou parece impossível, mas Gabriela descobrirá que, às vezes, os planos de Deus são escritos nas entrelinhas do sofrimento e da esperança. Entre segredos, mágoas e um amor que insiste em renascer, Gabriela terá que decidir se aceita a promessa quebrada ou se encontra forças para construir um futuro novo — e surpreendente.
Leer másGabriela sentia o tecido branco escorregar suavemente por seu corpo enquanto a costureira ajustava os últimos detalhes do vestido. O silêncio no quarto era preenchido apenas pelo som do zíper subindo, lento, como se anunciasse um novo começo.
Era o dia do seu casamento.
Tudo havia sido preparado com cuidado. Desde as flores brancas na igreja até a música que ela e Daniel escolheram juntos, seis meses atrás, entre risos, enquanto comiam pizza sentados no chão da sala.
Ela respirou fundo diante do espelho. Estava linda. Pelo menos por fora. Por dentro, uma inquietação surgia como nuvens pesadas antes da tempestade.
Desde a noite anterior, Daniel não respondia às mensagens. A mãe dela dizia que era nervosismo de homem. O padrinho garantiu que ele estava com tudo sob controle.
Mas algo, no fundo do coração de Gabriela, gritava diferente.
Fechou os olhos por um instante. Lembrou-se do primeiro beijo com Daniel, da vez que ele a esperou três horas no hospital quando o pai dela foi internado. Dos bilhetes escondidos no armário. Dos "para sempre" sussurrados ao telefone.
Ela queria confiar.
Às 17h28, o telefone da sala tocou.
Gabriela estava com o véu sobre os ombros, pronta para descer, quando ouviu a tia atender e chamá-la. “É ele”, disse baixinho, entregando o telefone com um olhar estranho.
— Oi, amor — disse Gabriela, com a voz trêmula, tentando sorrir.
Silêncio do outro lado.
— Daniel? Tá tudo bem?
— Gabi... eu... não posso.
Ela não entendeu. Ficou parada, como se o mundo tivesse congelado em volta dela.
— Como assim?
— Eu não consigo. Não tô pronto. Me perdoa.
Ele desligou.
O silêncio que veio depois foi ensurdecedor.
Gabriela soltou o telefone. A respiração ficou curta. Sentia o coração bater nos ouvidos, nas mãos, nas pernas que quase cederam.
A tia correu, a mãe gritou alguma coisa, mas ela não ouviu.
Ela caminhou até o espelho. A imagem refletida parecia uma boneca de porcelana prestes a quebrar.
O vestido perfeito. O cabelo preso com flores. Os olhos vazios.
Daniel a deixara no altar.
Duas horas depois, os convidados já haviam ido embora. A igreja vazia, as flores recolhidas, e a lembrança de uma cerimônia que nunca aconteceu ficou como um retrato rasgado no fundo da memória.
Gabriela ficou no quarto, sentada no chão, com o véu nas mãos.
Sua mãe bateu na porta, entrou sem esperar resposta.
— Ele vai se arrepender, minha filha...
— Já é tarde — sussurrou Gabriela. — Tarde demais.
Semanas se passaram.
Gabriela evitava sair. Passava os dias lendo os Salmos em voz baixa, como quem procura respostas escondidas nas entrelinhas da dor. Deus não falava. Pelo menos não com palavras. Mas havia uma força invisível que a empurrava a seguir.
Até que uma manhã, sozinha no banheiro, o teste de farmácia marcou duas linhas.
Grávida.
Ela sorriu e chorou ao mesmo tempo. Por um instante, pensou em contar a Daniel. Em dar a ele a chance de saber.
Mas uma lembrança cortou como navalha: "Eu não posso."
Ele escolheu sair.
Ela escolheu se proteger.
Gabriela arrumou as malas em silêncio.
Deixou um bilhete para a mãe. “Preciso de tempo. Estou bem, te amo mãe, me perdoa por isso!.” E desapareceu da cidade com o que havia de mais precioso: a vida crescendo dentro dela.
Três anos depois...
Gabriela agora era professora em uma escola pequena no interior. Criava sua filha, Manuela, com carinho e fé. Ainda sentia os reflexos do abandono, mas aos poucos, reconstruía a própria alma com a simplicidade dos dias e o amor puro de Manu.
O passado, ela acreditava, tinha ficado enterrado.
Mas estava errada.
Muito em breve, a vida traria de volta aquilo que ela tentou esquecer. E desta vez, não seria tão fácil fugir.
Meses haviam se passado desde a grande noite que mudara tudo. Gabriela, agora oficialmente casada com Miguel, acordava todos os dias com a sensação de que estava vivendo um sonho que antes parecia inalcançável.A pequena casa que escolheram para começar juntos não era luxuosa, mas transbordava amor em cada detalhe. Na cozinha, havia bilhetes que Miguel deixava antes de sair para os compromissos do filme: “Volto logo, meu amor”, “Não esqueça de sorrir hoje”. E, no escritório, pilhas de cadernos, provas de que Gabriela nunca deixou de escrever — pelo contrário, parecia ter encontrado sua verdadeira voz depois de tantas batalhas.O lançamento oficial do filme baseado no livro dela havia sido um sucesso estrondoso. O público se emocionava, chorava e aplaudia de pé. E, como se não bastasse, editoras de todo o país começaram a procurar
O auditório estava lotado. Luzes suaves iluminavam o palco onde, em poucos minutos, Gabriela subiria para lançar oficialmente seu livro. Ela mal acreditava que estava ali, depois de tantos altos e baixos.Na primeira fila, Thiago sorria como se fosse o dono da noite. Miguel, ao lado dele, parecia ainda mais nervoso que Gabriela.O coração dela disparava. E se as pessoas não gostarem? E se rirem do que escrevi?Quando o apresentador a chamou pelo nome, um silêncio reverente tomou o ambiente. Gabriela respirou fundo, ajeitou o vestido simples, mas elegante, e caminhou até o púlpito.— Boa noite. — A voz saiu trêmula, mas sincera. — Eu nunca pensei que estaria aqui. Esse livro não é apenas uma história, é parte da minha vida.Os olhos marejaram. — É sobre dor, sim. Mas também é sobre perdão, esperança e am
O sol da manhã atravessava as cortinas finas, pintando o quarto com tons dourados. Gabriela despertou com uma sensação estranha: um misto de leveza e medo. Leveza porque, finalmente, depois de semanas mergulhada em lembranças dolorosas, havia conseguido escrever a palavra perdão. Medo porque não sabia qual seria o próximo passo.O laptop ainda estava sobre a escrivaninha, aberto no último parágrafo. Gabriela se levantou devagar, aproximou-se e leu em silêncio:"Eu escolho perdoar."O coração se apertou. Aquela frase parecia simples, mas tinha o peso de toda a sua vida.— Eu também escolho — sussurrou, como se estivesse prometendo a si mesma.Enquanto isso, Miguel chegava mais cedo ao trabalho. O e-mail da empresa estrangeira estava destacado na sua caixa de entrada, aguardando resposta. O prazo final era naquela semana. Ele se recostou na cadeira,
O cursor piscava na tela, solitário. Gabriela fitava o parágrafo recém-escrito e sentia o coração disparar. Quanto mais escrevia, mais percebia que não estava apenas produzindo um livro: estava desenterrando partes de si mesma que havia enterrado por sobrevivência."Eu tinha oito anos quando ouvi pela primeira vez a palavra 'abandono'."As mãos tremiam. Ela fechou os olhos, lembrando-se da pequena menina escondida atrás da porta do quarto, ouvindo a discussão dos pais. O tom áspero, a dor de uma promessa quebrada. Tudo parecia tão vívido que quase sentiu o cheiro do café frio sobre a mesa e o ranger da madeira sob seus pés pequenos.Um nó apertou sua garganta. Era como se o diário da mãe tivesse arrancado a tampa de uma caixa de memórias que ela nunca quis abrir.No dia seguinte, durante as filmagens, Gabriela estava distra&i
As teclas do laptop soavam como batidas de coração acelerado. Gabriela escrevia sem parar, como se o diário da mãe tivesse destrancado uma represa de emoções. Palavras fluíam, costurando lembranças de infância com as revelações recém-descobertas."Minha mãe sempre dizia que segredos guardados demais se tornam correntes invisíveis. Hoje, sinto essas correntes se partindo."Ela parou por um instante, respirando fundo. Cada frase parecia sangrar, mas também curar. Era diferente de tudo o que já havia escrito. Ali não havia ficção, não havia personagens inventados — havia vida real, dor e esperança.Miguel entrou no quarto devagar, trazendo uma xícara de chá. Ele observou a tela, curioso.— Está escrevendo algo novo?Gabriela assentiu, sem desviar os olhos do texto.— É como se eu não tivesse escolha. Preciso colocar isso no papel antes que se perca.Ele apoiou a xícara na mesa de cabeceira e se sentou ao lado dela.— Então faça isso, amor. Mas faça por você, não por pressão.Ela sorriu c
As mãos de Gabriela tremiam enquanto seguravam o diário da mãe. As letras cursivas, levemente borradas pelo tempo, pareciam ganhar vida diante de seus olhos. Ela respirou fundo antes de se permitir ler."Minha querida filha, talvez um dia você encontre estas palavras. Se isso acontecer, é porque chegou o momento de saber a verdade."O coração de Gabriela disparou. Aquelas não eram anotações comuns, mas uma confissão. Virou a página, a respiração presa, e continuou:"Você cresceu acreditando que seu pai foi apenas um homem simples, trabalhador, que partiu cedo demais. Mas há coisas que escondi para proteger você e seu irmão. Seu pai esteve envolvido em algo maior, em decisões difíceis que nos afetaram profundamente."As linhas seguintes falavam de dívidas, de amizades perigosas e de escolhas que poderiam ter colocado a família em risco. Gabriela levou a mão à boca, tentando conter o soluço. Sua mãe suportara tudo sozinha, sem nunca deixar que os filhos percebessem o peso que carregava.





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