Mundo de ficçãoIniciar sessãoAmélia nasceu cercada por luxo, fama e expectativas. Filha da maior estrela do cinema britânico e de um magnata do entretenimento, sua vida sempre esteve sob os holofotes, palcos, entrevistas, recitais… Até que tudo desabou. A morte precoce de sua mãe e um acidente que feriu gravemente suas mãos a afastaram do piano, da arte e do futuro brilhante que o mundo esperava dela. Sem coragem para revelar a verdade ao pai, Amélia viveu anos presa a uma imagem que já não conseguia sustentar. E quando ele a força a tocar em um baile, ignorando sua dor, ela finalmente decide fugir. Fugir do sobrenome. Fugir das expectativas. Dois anos depois, longe dos flashes e vivendo sob identidade simples, Amélia encontra refúgio em um emprego inesperado: babá do filho de Damian Blake, o magnata da tecnologia e do entretenimento digital mais poderoso da Inglaterra. Damian é reservado, brilhante, controlador… e completamente quebrado por um passado que mantém enterrado a qualquer custo. Ele construiu um império, mas não consegue tocar nas próprias cicatrizes. E Amélia é tudo o que ele não deveria querer: jovem, doce, sonhadora, e dona de uma luz que atravessa as defesas dele com facilidade perigosa. O que começa como convivência se transforma em tensão. A tensão vira desejo. E o desejo, inevitavelmente, ameaça despertar fantasmas que nenhum dos dois está pronto para enfrentar. Enquanto Amélia luta com as lembranças dolorosas do que perdeu, Damian enfrenta o trauma que o tornou o homem que ele é. Mas o passado não fica enterrado por muito tempo, e quando alguém que deveria permanecer distante reaparece, tudo que eles construíram começa a ruir. Entre segredos, medo e um amor que nasce onde não deveria, Amélia e Damian descobrem que algumas cicatrizes só podem ser curadas quando duas almas despedaçadas escolhem se encontrar.
Ler maisO verão já havia começado em Londres, e com ele, a temporada de festas de gala.
Amélia encarava a arara cheia de vestidos dos mais variados tons enquanto respirava fundo, tentando não surtar antes da hora. Deveria ter ouvido seu subconsciente alertando de que aceitar o convite do seu pai seria um problema, ainda mais quando ele ainda não sabia a verdade sobre suas mãos. Ela escolheu um vestido verde menta de tecido leve e caimento elegante. Parou diante das luvas de cetim do mesmo tom e soltou um riso baixo e amargo. Era curioso que seu pai acreditasse que ela havia desenvolvido misofobia, quando o verdadeiro motivo das luvas era muito mais doloroso que o simples medo de germes. Ao vestir-se, encarou o reflexo no espelho: o decote reto, os ombros levemente caídos, o drapeado suave no busto e as alças finas que quase desapareceram sobre a pele clara faziam o vestido parecer um tomara que caia delicado. Linda, sim. Mas era uma beleza cansada, e ela sabia disso. Richard entrou no camarim e encarou a filha de cima a baixo — Essa cor não combina muito com você, Lia. — Richard abriu ainda mais a porta e deixou a equipe de produções entrar. — Mas tudo bem, não temos tempo para você se trocar. Apenas faça uma boa maquiagem, quero que você esteja impecável. Você irá brilhar de outra forma. Um frio percorreu a espinha da garota e ela encarou as mãos. Seu pai murmurou alguma coisa para o maquiador e saiu para terminar de se arrumar enquanto sua equipe cuidava do resto. Quase três horas depois, Amélia estava pronta e cansada. Richard sorriu e entregou-lhe uma máscara branca e delicada. — Vamos? O baile começa em breve. Temos convidados para recepcionar. Amélia apenas pegou a máscara e colocou. Não queria estar ali. Odiava tudo relacionado à empresa do pai, ainda mais porque a empresa a lembrava constantemente da sua falecida mãe e como tudo começou a ruir depois que ela se fora. — Evite falar com os investidores, quero que passe despercebida até o momento que eu te chamar. — Richard sorriu caminhando com a filha ao lado. — O CEO da NovaCore Group estará lá, e quero conseguir investimentos dele. — NovaCore Group? — Amélia perguntou confusa, só então se importando com o que o pai falava. — Essa não é aquela empresa de tecnologia criada em um fundo de garagem? — Era uma empresa de fundo de garagem no começo, mas hoje é a maior empresa de streaming e inteligência artificial do país. — Richard sorriu e abriu a porta do grande salão. — Se eu conseguir que o senhor Blake invista no meu negócio, a Hartlight Studios irá se tornar a maior indústria de entretenimento no mundo. — E por que não trouxe a Miranda ou as gêmeas para te acompanharem? — Amélia perguntou com um certo amargor na boca. — Porque as gêmeas não são minhas filhas de sangue, e Miranda... não tem tanta classe como você. Sua mãe a ensinou muito bem como se portar em festas desse nível. — Ele ajeitou a própria máscara, o olhar frio. — Além disso, tenho um anúncio esta noite. E envolve você, não elas. O coração de Amélia vacilou, mas ela se manteve em silêncio. Sabia que não adiantava discutir com o pai. No grande salão, os lustres de cristal refletiam tons dourados sobre os convidados mascarados. O piano no centro tocava uma melodia leve, e o ar era perfumado com flores brancas e champanhe. Amélia se afastou, procurando refúgio em um canto mais tranquilo. Achava tudo ridículo, o baile, os discursos, o espetáculo. O evento inteiro não passava de uma vitrine para caçar investidores com a desculpa de promover o novo filme da Hartlight. Ela observava os músicos contratados tocando piano se perdendo na melodia, sentia falta de tocar piano, e vê-los tocando majestosamente a deixava com inveja. O salão parecia ter parado no tempo para Damian. Vestido verde menta, luvas delicadas que cobriam metade do seu braço e uma máscara que cobria seu rosto, mas não escondia o olhar que parecia não pertencer àquele lugar. Damian a viu antes mesmo que ela percebesse. Não sabia o nome dela, tampouco queria saber naquele momento. Havia algo no modo como ela observava o salão e o piano, como se buscasse uma saída invisível, algo que o prendeu de forma imediata. Aquela linda mulher parecia estar deslocada naquela festa, assim como ele. — Está fugindo de alguém? — Damian perguntou, a voz grave, rouca, como o som de um segredo contado ao pé do ouvido. Ela se virou. O homem à sua frente tinha ombros largos, um terno escuro perfeitamente ajustado e olhos azuis de um tom tão intenso que pareciam absorver a luz. Por um instante, Amélia se esqueceu de respirar. — Talvez. — Amélia respondeu com um sorriso curto, recobrando os sentidos. — Ou de todos. Damian riu baixo e estendeu a mão. — Aceita dançar comigo? Assim podemos fugir de todos juntos. Ela hesitou por um instante, o suficiente para a música mudar enquanto ela procurava o pai. O aviso do pai ecoava em sua cabeça: "passe despercebida". Então tocou a mão dele. Foi um toque leve, mas o suficiente para acender algo. O tipo de contato que o corpo reconhece antes da mente. — Não costuma dançar com estranhos? — Damian perguntou enquanto a conduzia. — Costumo não dançar. Com ninguém. — Amélia o olhou, o olhar brincando entre curiosidade e receio. — E você? — Costumo não vir a eventos. Ainda mais quando é um baile em pleno século 21. A resposta fez os dois rirem, e por um momento o mundo pareceu menos pesado. O perfume dela, a respiração dele, o som abafado dos passos e da música, tudo se misturava em algo que nenhum dos dois quis entender. Damian percebeu uma pequena marca de nascença em seu ombro, apagado pela maquiagem que tentava cobrir como se fosse uma imperfeição em seu corpo delicado. — Você parece gostar de música, ficou um bom tempo encarando o pianista. — O piano e as mãos dele, na verdade. — Disse dando um leve sorriso para Damian. — Gosto… Gostava de tocar piano até alguns meses atrás. Amélia encarou as mãos entrelaçadas no pescoço do homem a sua frente e suspirou. Damian sentiu o clima ficando um pouco tenso e pigarreou chamando sua atenção. — Seu nome — ele disse, quando a música começou a desacelerar. — Posso saber? Ela abriu a boca para responder, mas o nome de Richard Bennet foi anunciado, e ela congelou. Os olhos dele buscaram os dela, mas a expressão dela mudou. Parecia medo, talvez vergonha. — Preciso ir. — ela murmurou, recuando um passo. — Foi… uma boa dança. Obrigada. Damian respirou fundo olhando sua mão enquanto Amélia se afastava, como se agora algo faltasse ali. De longe, viu a doce e delicada mulher indo para o lado de Richard Bennet. Ela parecia tão pequena e indefesa ao lado daquele homem que colocava as mãos em seus ombros como se ela fosse um troféu para ele. Damian se perguntou se ela não seria uma das atrizes ou cantoras que seriam reveladas naquela noite e temeu pensando no que ela podia ter passado para estar ali. Aquele olhar de medo e vergonha não saiam de sua cabeça. — Queridos companheiros de profissão. — Richard começou. Encarando cada um dos rostos mascarados, procurando algum que pudesse ser o dono da NovaCore Group. — Estamos aqui hoje para celebrar o lançamento do filme “Ecos do Passado”, um lindo filme que se passa no século XX, o baile de máscaras hoje é inspirado no filme. Amélia estava com as mãos em punhos ao lado do corpo, se perguntando o que seu pai estava tramando e o que ela tinha a ver com aquilo. Qual era o motivo do pai dela a colocar no palco a poucos passos dele? — Mas além do lançamento do filme, quero que deem as boas-vindas a uma excelente pianista. — Richard apontou para Amélia e a luz focou nela, fazendo seu coração acelerar. — Amélia Bennet, minha filha e de Catherine. A minha nova estrela. A nova pianista da HartLight Studios. Amélia arfou cambaleando para trás. Aquilo não podia estar acontecendo, seu pai se quer havia conversado com ela sobre aquela possibilidade. Ele não podia fazer aquilo. Damian viu o nervosismo da mulher que havia dançado minutos atrás e sentiu o peito apertar. Ela era filha do magnata da indústria de filmes e músicas. — Amélia toca piano desde os seus sete anos. — Richard continuou voltando a olhar para frente. — Antes de Catherine falecer, ela me fez prometer que eu ajudaria nossa tão amada e preciosa filha encontrar seu caminho no mundo do piano.MENTIROSO! MALDITO MANIPULADOR! A mente de Amélia gritava em ódio pela mentira que o pai estava contando, odiando ele usar o nome da sua falecida mãe como uma arma para ganhar simpatia dos investidores. — E hoje, minha amada filha fará uma demonstração do seu talento. — Richard esticou a mão para sua filha e sorriu esperando que ela pegasse. Mas Amélia não se moveu e então seus olhos brilharam com lágrimas se formando. Richard franziu o cenho e se aproximou sorrindo forçado. — Não me faça passar vergonha, Lia. — Richard disse entre dentes apertando o braço de Amélia sob a luva. Amélia fez uma careta de dor e deixou uma lágrima escorrer. — Toque aquele maldito piano. — Eu não posso. — Sussurrou sentindo seu corpo tremer. — Se não tocar aquele piano, eu irei deserdá-la e farei questão de expulsá-la de casa. — Apertou ainda mais o braço de Amélia. — Papai, está me machucando. — Choramingou baixinho. — Toque. Aquele. Maldito. Piano. Amélia encarou o pai sem o reconhecer. O homem que dizia a amar e proteger havia morrido quando se casou com a sua madrasta, agora, o homem a sua frente era apenas um empresário sem escrúpulos. — Eu não vou tocar. — Amélia disse tentando não deixar a voz tremer. — Não precisa me expulsar eu mesma saio daquela maldita casa. E então puxou o braço do aperto do pai e se virou pronta para sair daquele salão de festas. Ela não olhou para trás, não conseguia. Não queria ver o olhar do pai. Amélia correu para o camarim e pegou seu celular e carteira sem olhar para trás, correu até a saída procurando por um táxi. — Por favor, para a rua XXX. — Amélia pediu ao motorista assim que entrou no carro e não o olhou diretamente, queria silêncio em meio ao turbilhão da sua mente. Será que se contasse a verdade sobre o motivo dela não tocar mais piano, ele entenderia? Não, ela sabia que não. Richard estava tão cego pelo amor que tinha por Miranda, que sequer se importaria se ele soubesse a verdade.A água na garrafa de Aaron já estava pela metade quando ele se recostou mais fundo no sofá, cruzando o tornozelo sobre o joelho. Damian permanecia na poltrona, o corpo largo relaxado de um jeito raro, embora o olhar ainda denunciasse que sua mente nunca descansava por completo.— Você percebe que essa casa fica insuportavelmente silenciosa quando Noah dorme e a Amélia não está aqui? — Aaron comentou, quase como quem pensa em voz alta. — Faz quase três anos que você contratou Amélia e eu já nem lembro o que é silêncio na sua mansão.Damian soltou um riso baixo surpreendendo até a si mesmo.— Percebo. — girou o copo outra vez. — Antes eu chamava isso de paz. Agora… parece vazio.— Olha só. — Aaron arqueou a sobrancelha. — O grande Damian Blake ficando sentimental.— Não espalhe isso. — Damian respondeu seco, mas havia humor ali. — Minha reputação agradece.Aaron riu de verdade dessa vez.— Falando sério — ele continuou —, é estranho te ver assim. Não digo pior. Só… diferente.— Diferent
O barulho da porta se abrindo veio acompanhado do som inconfundível de sacolas batendo umas nas outras.— Cheguei! — Amélia anunciou, já meio sem fôlego.Tessa estava jogada no sofá com o notebook apoiado nas pernas, assim que ouviu a voz de Amélia, ergueu o olhar e observou a amiga equilibrando duas sacolas grandes de mercado, uma delas quase escorregando do braço.— Lia? — Franziu o cenho. Amélia fechou a porta com o pé e soltou as sacolas no chão da cozinha, sorrindo como quem estava claramente escondendo algo.— O que foi?Tessa se levantou devagar, cruzando os braços.— Desde quando você chega em casa com compras? — apontou para as sacolas. — Você praticamente mora na mansão Blake agora.— Ei, isso soou como um julgamento. — Amélia fez uma careta divertida.— Soou como uma observação muito precisa — Tessa respondeu, arqueando a sobrancelha.Amélia suspirou, pegou uma das sacolas e começou a tirar os itens, colocando tudo sobre a bancada: arroz arbório, caldo de legumes, queijo p
O setor de tecnologia da NovaCore estava em pleno funcionamento naquela tarde. As paredes de vidro refletiam gráficos em movimento, números subindo e descendo em tempo real, enquanto servidores processavam milhares de acessos simultâneos vindos de diferentes partes do mundo.Tessa estava sentada diante de três telas, completamente concentrada. Em uma delas, o painel do sistema de streaming da empresa exibia métricas detalhadas: tempo de carregamento, taxa de retenção, picos de audiência, estabilidade dos servidores em horários críticos.Ela digitava rápido, focada, o cenho levemente franzido.— Tessa? — A voz masculina veio da entrada da sala.Ela ergueu os olhos e encontrou Aaron parado ali com o tablet em mãos e uma expressão profissional, como sempre em horário de trabalho.— Oi — respondeu, tirando uma das mãos do teclado. — Aconteceu alguma coisa?— O Damian pediu um relatório rápido do streaming. — Ele entrou, se aproximando. — Principalmente depois da atualização de ontem à noi
A rotina entre Damian e Amélia continuou quase a mesma coisa. Ela ia para a faculdade, da faculdade ia direto para a mansão Blake e após as cinco da tarde ela era dispensada do trabalho de babá. Mas agora a rotina tinha novas regras, regras que não permitiam nenhum toque prolongado, olhares demorados ou intimidade no horário de trabalho. Durante o horário de trabalho, Amélia era apenas a babá de Noah e Damian era apenas o chefe. Educado, distante, atento às necessidades do filho. Era um acordo que funcionava para eles. Mas bastava o expediente terminar para algo mudar.Os olhares se tornavam mais longos. Os sorrisos, mais fáceis. As conversas, menos medidas. Às vezes um beijo na cozinha quando Noah já dormia. Às vezes apenas a presença silenciosa um do outro no sofá, dividindo o mesmo espaço sem pressa. Às vezes algo mais.Não era um romance escancarado. Era algo construído com cuidado. Com consciência.Naquela manhã, Amélia chegou da faculdade um pouco antes do habitual. Noah brinc
O silêncio que se instalou entre eles não era desconfortável. Era denso. Carregado de tudo o que havia sido dito… e do que ainda não tinha encontrado coragem para sair.Damian permanecia sentado, os cotovelos apoiados nos joelhos, o olhar perdido em algum ponto do chão. Não havia pressa nele. Nem cobrança. Apenas cansaço, daquele tipo que vem de quem passou tempo demais tentando ser forte sozinho.Amélia foi a primeira a se mover.Aproximou-se devagar e sentou-se ao lado dele, sentindo o peso silencioso daquele homem que parecia carregar o mundo nas costas. Sem dizer nada, apoiou a mão em seu antebraço. Um toque simples. Cuidadoso. Quase um pedido de permissão.— Você não precisa enfrentar tudo sozinho — disse em voz baixa. — Não mais. Acho que… de alguma forma, eu posso ajudar.Damian fechou os olhos por um instante, como se aquelas palavras tivessem atravessado defesas antigas.— Eu passei anos acreditando que precisava dar conta de tudo sozinho — respondeu, a voz rouca. — Que, se e
Damian levou Amélia até o escritório e fechou a porta atrás deles com cuidado. O ambiente era amplo, elegante, silencioso demais. Ele se sentou na poltrona de couro atrás da mesa e, com um gesto contido, indicou o sofá à sua frente.Amélia obedeceu, sentando-se com as mãos entrelaçadas no colo.— Me desculpa — Damian começou, a voz baixa, controlada demais para alguém que claramente não estava bem. — Você foi embora esta manhã e eu sequer consegui me despedir direito. Quando voltou, eu já tinha saído… — Ele respirou fundo. — E imagino que esteja se perguntando quem era aquela mulher.— Damian… — Amélia falou com cuidado, sustentando o olhar dele. — Eu não acho que tenha o direito de questionar sua vida. Eu só… quero saber se você está bem.Ele soltou um riso curto, sem humor algum.— Você tem, sim. — levantou-se da poltrona de repente, apoiando as mãos na mesa. — Depois do que aconteceu entre nós, você tem o direito de saber até o saldo da minha conta bancária, se quiser.Amélia arreg





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