Mundo ficciónIniciar sesiónAmélia Bennet nasceu cercada por luxo, fama e expectativas. Filha da maior estrela da Inglaterra e do magnata Richard Bennet, ela cresceu entre palcos, filmes e aplausos, aprendendo desde cedo a tocar piano e encantar multidões. Mas a vida de Amélia muda para sempre quando sua mãe morre e um acidente traumático machuca suas mãos, impedindo-a de tocar piano e afastando-a de tudo que amava. Após um baile em que seu pai a obriga a tocar sem saber a verdade sobre suas mãos, ela decide recomeçar a vida longe do sobrenome do pai e do glamour. Dois anos depois, Amélia aceita trabalhar como babá do filho de Damian Blake, o magnata da tecnologia e entretenimento digital mais poderoso de Londres. Entre a rotina com o menino, gestos silenciosos e pequenos detalhes que só ele percebe, surge uma conexão intensa, silenciosa e impossível de ignorar. Mas Damian parece saber mais do que deveria sobre o passado de Amélia e sobre o império do seu pai. Será que Amélia descobrirá a verdade antes que seja tarde demais, ou já está envolvida em algo maior do que imagina?
Leer másO verão já havia começado em Londres, e com ele, a temporada de festas de gala.
Amélia encarava a arara cheia de vestidos dos mais variados tons enquanto respirava fundo, tentando não surtar antes da hora. Deveria ter ouvido seu subconsciente alertando de que aceitar o convite do seu pai seria um problema, ainda mais quando ele ainda não sabia a verdade sobre suas mãos. Ela escolheu um vestido verde menta de tecido leve e caimento elegante. Parou diante das luvas de cetim do mesmo tom e soltou um riso baixo e amargo. Era curioso que seu pai acreditasse que ela havia desenvolvido misofobia, quando o verdadeiro motivo das luvas era muito mais doloroso que o simples medo de germes. Ao vestir-se, encarou o reflexo no espelho: o decote reto, os ombros levemente caídos, o drapeado suave no busto e as alças finas que quase desapareceram sobre a pele clara faziam o vestido parecer um tomara que caia delicado. Linda, sim. Mas era uma beleza cansada, e ela sabia disso. Richard entrou no camarim e encarou a filha de cima a baixo — Essa cor não combina muito com você, Lia. — Richard abriu ainda mais a porta e deixou a equipe de produções entrar. — Mas tudo bem, não temos tempo para você se trocar. Apenas faça uma boa maquiagem, quero que você esteja impecável. Você irá brilhar de outra forma. Um frio percorreu a espinha da garota e ela encarou as mãos. Seu pai murmurou alguma coisa para o maquiador e saiu para terminar de se arrumar enquanto sua equipe cuidava do resto. Quase três horas depois, Amélia estava pronta e cansada. Richard sorriu e entregou-lhe uma máscara branca e delicada. — Vamos? O baile começa em breve. Temos convidados para recepcionar. Amélia apenas pegou a máscara e colocou. Não queria estar ali. Odiava tudo relacionado à empresa do pai, ainda mais porque a empresa a lembrava constantemente da sua falecida mãe e como tudo começou a ruir depois que ela se fora. — Evite falar com os investidores, quero que passe despercebida até o momento que eu te chamar. — Richard sorriu caminhando com a filha ao lado. — O CEO da NovaCore Group estará lá, e quero conseguir investimentos dele. — NovaCore Group? — Amélia perguntou confusa, só então se importando com o que o pai falava. — Essa não é aquela empresa de tecnologia criada em um fundo de garagem? — Era uma empresa de fundo de garagem no começo, mas hoje é a maior empresa de streaming e inteligência artificial do país. — Richard sorriu e abriu a porta do grande salão. — Se eu conseguir que o senhor Blake invista no meu negócio, a Hartlight Studios irá se tornar a maior indústria de entretenimento no mundo. — E por que não trouxe a Miranda ou as gêmeas para te acompanharem? — Amélia perguntou com um certo amargor na boca. — Porque as gêmeas não são minhas filhas de sangue, e Miranda... não tem tanta classe como você. Sua mãe a ensinou muito bem como se portar em festas desse nível. — Ele ajeitou a própria máscara, o olhar frio. — Além disso, tenho um anúncio esta noite. E envolve você, não elas. O coração de Amélia vacilou, mas ela se manteve em silêncio. Sabia que não adiantava discutir com o pai. No grande salão, os lustres de cristal refletiam tons dourados sobre os convidados mascarados. O piano no centro tocava uma melodia leve, e o ar era perfumado com flores brancas e champanhe. Amélia se afastou, procurando refúgio em um canto mais tranquilo. Achava tudo ridículo, o baile, os discursos, o espetáculo. O evento inteiro não passava de uma vitrine para caçar investidores com a desculpa de promover o novo filme da Hartlight. Ela observava os músicos contratados tocando piano se perdendo na melodia, sentia falta de tocar piano, e vê-los tocando majestosamente a deixava com inveja. O salão parecia ter parado no tempo para Damian. Vestido verde menta, luvas delicadas que cobriam metade do seu braço e uma máscara que cobria seu rosto, mas não escondia o olhar que parecia não pertencer àquele lugar. Damian a viu antes mesmo que ela percebesse. Não sabia o nome dela, tampouco queria saber naquele momento. Havia algo no modo como ela observava o salão e o piano, como se buscasse uma saída invisível, algo que o prendeu de forma imediata. Aquela linda mulher parecia estar deslocada naquela festa, assim como ele. — Está fugindo de alguém? — Damian perguntou, a voz grave, rouca, como o som de um segredo contado ao pé do ouvido. Ela se virou. O homem à sua frente tinha ombros largos, um terno escuro perfeitamente ajustado e olhos azuis de um tom tão intenso que pareciam absorver a luz. Por um instante, Amélia se esqueceu de respirar. — Talvez. — Amélia respondeu com um sorriso curto, recobrando os sentidos. — Ou de todos. Damian riu baixo e estendeu a mão. — Aceita dançar comigo? Assim podemos fugir de todos juntos. Ela hesitou por um instante, o suficiente para a música mudar enquanto ela procurava o pai. O aviso do pai ecoava em sua cabeça: "passe despercebida". Então tocou a mão dele. Foi um toque leve, mas o suficiente para acender algo. O tipo de contato que o corpo reconhece antes da mente. — Não costuma dançar com estranhos? — Damian perguntou enquanto a conduzia. — Costumo não dançar. Com ninguém. — Amélia o olhou, o olhar brincando entre curiosidade e receio. — E você? — Costumo não vir a eventos. Ainda mais quando é um baile em pleno século 21. A resposta fez os dois rirem, e por um momento o mundo pareceu menos pesado. O perfume dela, a respiração dele, o som abafado dos passos e da música, tudo se misturava em algo que nenhum dos dois quis entender. Damian percebeu uma pequena marca de nascença em seu ombro, apagado pela maquiagem que tentava cobrir como se fosse uma imperfeição em seu corpo delicado. — Você parece gostar de música, ficou um bom tempo encarando o pianista. — O piano e as mãos dele, na verdade. — Disse dando um leve sorriso para Damian. — Gosto… Gostava de tocar piano até alguns meses atrás. Amélia encarou as mãos entrelaçadas no pescoço do homem a sua frente e suspirou. Damian sentiu o clima ficando um pouco tenso e pigarreou chamando sua atenção. — Seu nome — ele disse, quando a música começou a desacelerar. — Posso saber? Ela abriu a boca para responder, mas o nome de Richard Bennet foi anunciado, e ela congelou. Os olhos dele buscaram os dela, mas a expressão dela mudou. Parecia medo, talvez vergonha. — Preciso ir. — ela murmurou, recuando um passo. — Foi… uma boa dança. Obrigada. Damian respirou fundo olhando sua mão enquanto Amélia se afastava, como se agora algo faltasse ali. De longe, viu a doce e delicada mulher indo para o lado de Richard Bennet. Ela parecia tão pequena e indefesa ao lado daquele homem que colocava as mãos em seus ombros como se ela fosse um troféu para ele. Damian se perguntou se ela não seria uma das atrizes ou cantoras que seriam reveladas naquela noite e temeu pensando no que ela podia ter passado para estar ali. Aquele olhar de medo e vergonha não saiam de sua cabeça. — Queridos companheiros de profissão. — Richard começou. Encarando cada um dos rostos mascarados, procurando algum que pudesse ser o dono da NovaCore Group. — Estamos aqui hoje para celebrar o lançamento do filme “Ecos do Passado”, um lindo filme que se passa no século XX, o baile de máscaras hoje é inspirado no filme. Amélia estava com as mãos em punhos ao lado do corpo, se perguntando o que seu pai estava tramando e o que ela tinha a ver com aquilo. Qual era o motivo do pai dela a colocar no palco a poucos passos dele? — Mas além do lançamento do filme, quero que deem as boas-vindas a uma excelente pianista. — Richard apontou para Amélia e a luz focou nela, fazendo seu coração acelerar. — Amélia Bennet, minha filha e de Catherine. A minha nova estrela. A nova pianista da HartLight Studios. Amélia arfou cambaleando para trás. Aquilo não podia estar acontecendo, seu pai se quer havia conversado com ela sobre aquela possibilidade. Ele não podia fazer aquilo. Damian viu o nervosismo da mulher que havia dançado minutos atrás e sentiu o peito apertar. Ela era filha do magnata da indústria de filmes e músicas. — Amélia toca piano desde os seus sete anos. — Richard continuou voltando a olhar para frente. — Antes de Catherine falecer, ela me fez prometer que eu ajudaria nossa tão amada e preciosa filha encontrar seu caminho no mundo do piano.MENTIROSO! MALDITO MANIPULADOR! A mente de Amélia gritava em ódio pela mentira que o pai estava contando, odiando ele usar o nome da sua falecida mãe como uma arma para ganhar simpatia dos investidores. — E hoje, minha amada filha fará uma demonstração do seu talento. — Richard esticou a mão para sua filha e sorriu esperando que ela pegasse. Mas Amélia não se moveu e então seus olhos brilharam com lágrimas se formando. Richard franziu o cenho e se aproximou sorrindo forçado. — Não me faça passar vergonha, Lia. — Richard disse entre dentes apertando o braço de Amélia sob a luva. Amélia fez uma careta de dor e deixou uma lágrima escorrer. — Toque aquele maldito piano. — Eu não posso. — Sussurrou sentindo seu corpo tremer. — Se não tocar aquele piano, eu irei deserdá-la e farei questão de expulsá-la de casa. — Apertou ainda mais o braço de Amélia. — Papai, está me machucando. — Choramingou baixinho. — Toque. Aquele. Maldito. Piano. Amélia encarou o pai sem o reconhecer. O homem que dizia a amar e proteger havia morrido quando se casou com a sua madrasta, agora, o homem a sua frente era apenas um empresário sem escrúpulos. — Eu não vou tocar. — Amélia disse tentando não deixar a voz tremer. — Não precisa me expulsar eu mesma saio daquela maldita casa. E então puxou o braço do aperto do pai e se virou pronta para sair daquele salão de festas. Ela não olhou para trás, não conseguia. Não queria ver o olhar do pai. Amélia correu para o camarim e pegou seu celular e carteira sem olhar para trás, correu até a saída procurando por um táxi. — Por favor, para a rua XXX. — Amélia pediu ao motorista assim que entrou no carro e não o olhou diretamente, queria silêncio em meio ao turbilhão da sua mente. Será que se contasse a verdade sobre o motivo dela não tocar mais piano, ele entenderia? Não, ela sabia que não. Richard estava tão cego pelo amor que tinha por Miranda, que sequer se importaria se ele soubesse a verdade.Exatos dois anos após aquele baile, Amélia sorria verdadeiramente ao entregar o copo de um expresso duplo ao senhor à sua frente. — Tenha uma excelente noite! — Acenou para o senhor e suspirou limpando uma pequena gota de suor na testa. Pediu licença para Lucca, o outro funcionário do pequeno café, e foi ao banheiro. Lavou o rosto e encarou as mãos. Simon havia a ajudado a diminuir as cicatrizes grotescas, agora elas não passavam de linhas e relevos na mão, muito mais fácil de lidar com as pessoas agora que elas não ficavam encarando suas mãos. Porém, provavelmente nunca mais iria tocar sem sentir dor. Seu nervo ulnar e mediano haviam sido parcialmente lesionados. Simon havia dito que ela tinha tido sorte do cirurgião ser péssimo com anatomia, pois ele não tinha chegado nem próximo ao nervo radial que poderia ter paralisado suas mãos para sempre. Ainda era difícil realizar algumas tarefas do dia a dia, mas com a fisioterapia que Simon ela conseguia se sentir confiante para s
Amélia olhava ao redor maravilhada. Era um apartamento de 500m², duas suítes, dois banheiros privativos e varandas próprias, um lavabo de tamanho considerável, uma sala ampla e acolhedora, uma cozinha planejada e uma área gourmet que mais parecia ter saído de uma daquelas imagens do Pinterest. Um lindo e majestoso apartamento de luxo bem no coração de Londres.— Uau... — Amélia murmurou enquanto andava pelo apartamento. Tessa, jogada no sofá com as pernas cruzadas, observava enquanto a amiga admirava todo o apartamento. — Seus pais capricharam na escolha.— Não é? Mamãe mandou decorar… — Tessa disse abrindo um sorriso ao lembrar da animação da mãe.Tessa se levantou e foi até a amiga para mostrar o quarto que ela ficaria. — Inclusive a mamãe decorou esse apartamento pensando que você dormiria aqui ocasionalmente, então o segundo quarto foi decorado especificamente para você.Amélia arqueou as sobrancelhas, surpresa, enquanto seguia a amiga pelo corredor. Assim que a porta se abriu, s
Amélia brincava com a comida no prato, ainda vestindo a mesma roupa do evento. O brilho do tecido contrastava com o olhar vazio. Fiona havia pedido aos cozinheiros que preparassem o prato favorito da menina.— Querida, você pode tirar as luvas aqui em casa — disse Fiona com a voz suave, sentando-se à frente dela. — Pedi para as meninas higienizarem tudo: mesa, talheres, copos… Está tudo seguro, está bem?— Pode confiar — completou Simon com um sorriso acolhedor. — Eu mesmo acompanhei a limpeza.Amélia manteve o olhar fixo no prato, como se o simples ato de respirar fosse um esforço.— Lia, você sabe como o papai é meticuloso — disse Tessa, tentando aliviar o clima. Ela estendeu a mão e pousou-a sobre a da amiga. — Está tudo limpo, eu prometo.Mas o toque, em vez de acalmá-la, pareceu despertar algo.Amélia puxou as mãos de volta para o colo, tremendo. O ar ficou pesado, e as lembranças daquele dia voltaram com força. As lágrimas vieram sem aviso.— Lia… — Tessa sussurrou, preocupada.
Amélia atravessou o portão da imensa mansão Bennet sentindo as lágrimas caírem sem sua permissão. A casa estava vazia, fria e hostil. Nenhum sinal da madrasta ou das gêmeas, o que ela agradeceu internamente.Subiu as escadas apressada e correu até o seu próprio quarto. Abriu o closet e puxou as malas vazias com as mãos trêmulas. O coração batia acelerado, os pensamentos se embaralhavam. Quando finalmente conseguiu respirar, pegou o telefone e discou o número que conhecia de cor.Tessa estava deitada no sofá assistindo a um filme com a sua mãe quando o toque do telefone quebrou o silêncio da sala— Tess... — a voz de Amélia saiu entrecortada, o choro escapando sem controle.— Lia? — perguntou já erguendo o corpo, a preocupação evidente no tom. — Lia, o que aconteceu?Amélia sentou-se na beira da cama, uma das mãos pressionando o peito como se pudesse conter a dor. Seu pai não havia falado com ela sobre o anúncio que ele fez no baile, muito menos sobre como ele faria aquilo. Seu pai ape
O verão já havia começado em Londres, e com ele, a temporada de festas de gala.Amélia encarava a arara cheia de vestidos dos mais variados tons enquanto respirava fundo, tentando não surtar antes da hora.Deveria ter ouvido seu subconsciente alertando de que aceitar o convite do seu pai seria um problema, ainda mais quando ele ainda não sabia a verdade sobre suas mãos.Ela escolheu um vestido verde menta de tecido leve e caimento elegante. Parou diante das luvas de cetim do mesmo tom e soltou um riso baixo e amargo. Era curioso que seu pai acreditasse que ela havia desenvolvido misofobia, quando o verdadeiro motivo das luvas era muito mais doloroso que o simples medo de germes.Ao vestir-se, encarou o reflexo no espelho: o decote reto, os ombros levemente caídos, o drapeado suave no busto e as alças finas que quase desapareceram sobre a pele clara faziam o vestido parecer um tomara que caia delicado. Linda, sim. Mas era uma beleza cansada, e ela sabia disso.Richard entrou no camarim
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