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4- O Desconhecido da Esquina

O dia seguinte amanheceu nublado, mas Gabriela não se importava. Depois dos últimos dias, o clima cinza parecia até acolhedor. Silencioso. Menos cruel.

Enquanto Manu brincava com os lápis de cor no tapete da sala, Gabriela lavava a louça pensando em tudo que ainda precisava resolver: a nova rotina, o distanciamento da mãe, as perguntas que Manu começava a fazer sobre “o moço do parque”.

Ela precisava de ar.

Pegou uma jaqueta leve, avisou a filha que voltava logo e desceu as escadas do prédio com passos lentos.

O mercadinho da esquina parecia um bom lugar para pensar sem pensar. Caminhou até lá. Pegou pão, suco, algumas frutas. Estava no caixa quando a voz a surpreendeu.

— Gabriela, certo?

Ela se virou.

Miguel.

Camisa azul clara, mochila de lona no ombro, sorriso gentil.

— Sim… você é o vizinho. — Ela sorriu de leve, mais educada do que aberta.

— E entregador de sacolas, agora oficialmente — ele brincou. — Sua mãe disse que você gosta de maçã verde. Acertei?

Ela riu. Um pouco.

— Acertei, então.

— Sorte de principiante. — Ele pegou duas maçãs e colocou na cestinha dela sem pedir permissão. — Essas são por minha conta.

— Você sempre faz isso com todo mundo?

— Só com vizinhas com olhar triste e sorriso bonito.

Ela não respondeu. Mas também não recusou.

Do lado de fora do mercado, o céu estava ainda mais carregado. Uma chuva fina começou a cair. Miguel olhou para cima, depois para ela.

— Esqueci o guarda-chuva. Quer dividir o meu? — perguntou, abrindo um pequeno guarda-chuva vermelho.

Gabriela hesitou por dois segundos. E então… aceitou.

Caminharam juntos até a esquina. Não disseram muita coisa. Mas foi um silêncio confortável. Quando chegaram em frente ao prédio, Gabriela reparou em uma senhora tentando subir a calçada com uma sacola pesada.

Miguel parou imediatamente.

— Com licença — disse ele, indo até ela. — Posso ajudar?

A senhora sorriu, agradecida. Gabriela observava de longe. Ele não sabia que estava sendo observado. Nem parecia fazer aquilo para impressionar.

Quando ele voltou, Gabriela ainda estava parada, com o guarda-chuva agora na mão.

— Você não cansa de ser... gentil?

— Não. Ainda não me cobraram nada por isso — respondeu com um sorriso.

Ela riu, pela primeira vez em dias.

Antes de se despedir, ele olhou bem nos olhos dela.

— Você parece alguém que carrega muito sozinha.

Ela sentiu um nó na garganta.

— E você parece alguém que observa demais.

— Profissão antiga — ele sorriu. — Um dia te conto.

Ela entrou no prédio e não olhou para trás. Mas sorriu ao fechar a porta.

Nos dias que seguiram, Miguel parecia surgir nos lugares mais improváveis: na padaria, na praça, na feira do bairro. Sempre com um comentário leve, uma pergunta gentil, um olhar que não pressionava — apenas acolhia.

Gabriela começava a perceber algo estranho.

A presença dele... acalmava.

Diferente de Daniel, que sempre a deixava ansiosa, pisando em ovos. Miguel não dizia muito, mas fazia ela se sentir vista. Não julgada. Não cobrada.

Certa noite, sentada na varanda com um chá quente nas mãos, Gabriela pegou-se pensando:

Quem é ele, afinal?

Quase como resposta, o celular vibrou em seu colo.

Mensagem de número desconhecido:

“Boa noite, professora Gabriela. Aqui é da direção da Escola Semente Viva. Recebemos sua indicação. Podemos marcar uma entrevista? Nossa coordenadora ficou encantada com seu perfil.”

Gabriela franziu a testa. Não havia mandado currículo nenhum.

Quem indicou ela?

Desceu a tela. No final da mensagem, um nome: Miguel Cardoso.

Ela arregalou os olhos.

Ele sabia o nome completo dela. Sabia onde ela trabalhava.

E agora… ela sabia que ele escondia muito mais do que parecia.

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