Título: O Império da Vingança Autora: Val Veiga Gustavo Oliveira foi dado como morto após um acidente de avião. Durante anos, permaneceu em coma, ouvindo tudo — inclusive a maior traição da sua vida. Seu melhor amigo, Caio, casou-se com Bianca, sua esposa, e criou seu filho como se fosse dele. O pior? Caio sabia que Gustavo estava vivo. Agora, renascido com uma nova identidade e um único propósito, Gustavo está disposto a destruir tudo o que Caio construiu… e reconquistar o que foi arrancado dele. Mas no meio do caos, ele conhece Lorena — a médica que salvou sua vida e pode ser o único elo com a parte dele que ainda sente. Entre o desejo de vingança e a chance de recomeçar, Gustavo vai descobrir que nem toda verdade vem à tona sem deixar cicatrizes… e que, no final, o coração pode escolher um caminho que a mente nunca planejou. Quem ele será quando a vingança acabar? O homem que perdeu tudo… ou aquele que aprendeu a amar de novo?
Ler maisQuarto 312 — Hotel SerramarNarrado por Lorena MelloO vapor do banho ainda cintila sobre a pele quando o baby-doll preto desliza como tinta fresca.Na penumbra do abajur, Gustavo dorme na poltrona — camisa aberta, barba por fazer, braços pesados sobre a vida que ele jurou tomar de volta. Aproximo-me devagar: perfume de sabonete clínico, pulsação que duvida dos próprios passos. Antes de tocá-lo, o ombro dele espasmeia; soldado que pressente trincheira.— Dormi quanto? — a voz sai rouca, raspando pedra.— O suficiente pra perder o jantar e metade da minha paciência. — Reacomodo a alça fina. — Vou pedir gordura antes que a cozinha feche.Disco o serviço de quarto: hambúrguer duplo, fritas, onion rings, milk-shake de paçoca com chantili (minha vitória) e espresso duplo pra manter o gladiador desperto.---Quinze minutos depoisO “bing” do elevador ainda ecoa no corredor quando abro a porta — baby-doll preto, gota de água teimosa descendo pela coxa.O entregador — vinte e poucos, sorriso
Madrugada de terça — 02h47Quarto 312, Hotel SerramarNarrado por Gustavo Henrique Oliveira AndradeA meia-luz do abajur corta o quarto em dois: metade num amarelo fatigado, metade num breu pesado de segredo.Lorena respira fundo, enroscada no edredom; o som leve lembra que alguém ainda acredita em mim.Na mesa, camisa aberta, o laptop arde como lamparina de aço.No ecrã, a planilha-armadilha: cada aba um gatilho apontado para a cabeça de Caio.---1 — Fechar o arZETA_STOP. Um toque via Luxemburgo e a Zeta Offshore congela todo embarque de sondas.Sem peça em dólar, a A&C Global engasga; no 31.º dia o caixa vira poeira.2 — Desencavar a dívidaDebênture 2017, cláusula 7.3: estouro de 3× EBITDA = vencimento em bloco.Sem suprimento? Estoura fácil. Credor único: Navarro Capital (eu em reflexo).Cobrança vai às 11h30 de quarta: R$ 180 mi em cinco dias. Insolúvel.3 — Executar a reputaçãoNo pendrive que Lorena esconde entre gaze e esparadrapo, o laudo real da KTB Auditores — estoque fan
[NARRADO POR BIANCA ANDRADE VASCONCELOS]Dois anos e quatro meses.O número parece tatuado na minha pele: 28 — as velas que apago todo dia para manter Gustavo vivo na memória e morto no calendário.Era sexta-feira. Chuva fina, trânsito lento. Eu já tinha guardado a bolsa para ir embora quando Caio encostou na minha mesa com um sorriso de contrato fechado:— “Hoje o pessoal da holding assinou a expansão. Vem comemorar? Bar novo na Lapa, só nós dois.”Quis recusar. Ainda sinto o cheiro do jazigo quando o vento muda.Mas alguma coisa em mim cansou de velar quem não volta.Peguei o casaco. Fui.Lâmpadas penduradas, tijolo aparente, aroma de gim com alecrim.Caio pediu dois Negronis antes de eu sentar. Ergueu o copo:— “Às portas que se abrem… e às que a gente decide não fechar nunca mais.”Respondi com meio gole. O amargor foi menor que o susto de perceber que eu conseguia — finalmente — engolir sem que o nome Gustavo agarrasse a garganta.Rodada após rodada, o gelo derreteu mais rápido q
[NARRADO POR GUSTAVO HENRIQUE OLIVEIRA ANDRADE]Renan esticou as pernas no banco de concreto, a luz morta dos postes lambendo o cimento rachado.Assobiou de leve, ouvindo o eco morrer no vento, e mandou:— "Então faz assim, irmão: me apresenta essa doutora. Se tu não vai querer, vai que eu me apaixono."**O incômodo veio na hora.Não foi ciúme.Foi aquela fisgada de bicho, de território, de dívida que nem se explica.Virei o rosto devagar.O sorriso do Renan perdeu um pouco da coragem.**— "A fila pra falar com ela passa por mim. Guichê fechado até segunda ordem." — falei, a voz saindo arranhada.**Ele ergueu as mãos no ar:— "Calma, fantasma! Só queria apertar a mão da mulher que te remontou, caralho. Vai que ela me ensina a colar meus pedaços também."**Respirei fundo.O cheiro do mar misturado com a raiva era pesado demais.**— "Lorena tá ocupada mantendo meu coração batendo. Quando sobrar tempo, ela escolhe quem merece aula de cola."**Renan riu, balançando a cabeça:— "Só t
[NARRADO POR GUSTAVO HENRIQUE OLIVEIRA ANDRADE]Três da manhã.Cais leste da Marina do Flamengo.O vento vinha forte, rasgando a pele, trazendo o cheiro de mar e ferrugem.A cidade dormia — ou fingia que dormia.Mas eu não.Eu tava acordado.Acordado e carregando dentro do peito a única certeza que ainda fazia sentido:Eu não ia sair dali sem sangue nas mãos.O coração batia forte.No compasso da vingança.No ritmo sujo do que eu tinha perdido.**Dirigi até lá sem pressa.A estrada vazia passando como um borrão cinzento do lado de fora do carro.O rádio desligado.A lembrança ligada.Cada respiração me lembrava dela.Bianca.**O nome dela preso nos dentes como gosto de ferro.A risada dela — aquela que eu nunca mais ouvi — batendo na cabeça como martelo.E junto dessa porra toda... ele.Caio.O amigo.O traidor.O filho da puta que se enfiou na vida que era minha.**Eu nunca vi.Nunca presenciei.Mas o que a mente constrói, às vezes, dói mais do que qualquer prova.Na minha cabeça,
A luz suave do abajur filtrava uma penumbra morna pelo quarto.A lâmpada, meio amarelada, pintava sombras longas nas paredes, dançando preguiçosamente a cada mínima brisa.O relógio digital sobre a cômoda piscava: 02h47 da manhã.Lá fora, a cidade repousava em um silêncio profundo, pesado.As ruas vazias.As luzes apagadas nas janelas.O mundo dormia.Mas aqui dentro, cada parte de mim já estava acordada — e vibrando, como uma corda tensa prestes a se romper.**Só que o que me fez levantar da cama não foi o relógio.Nem a ansiedade que martelava nas costelas.Foi ela.Lorena.Dormindo ali, do meu lado.De camisola fina, enrolada no cobertor como se o frio lá fora não existisse.O cabelo espalhado no travesseiro, bagunçado e livre.O rosto, mesmo apagado pelo sono, ainda carregava uma serenidade absurda.Um tipo de paz que eu, sinceramente, nem lembrava mais como era ter.Fiquei alguns segundos só olhando.Respirando devagar.Tentando gravar aquela cena dentro da cabeça.**Dois anos.
Último capítulo