[NARRADO POR GUSTAVO HENRIQUE OLIVEIRA ANDRADE]
Três da manhã.
Cais leste da Marina do Flamengo.
O vento vinha forte, rasgando a pele, trazendo o cheiro de mar e ferrugem.
A cidade dormia — ou fingia que dormia.
Mas eu não.
Eu tava acordado.
Acordado e carregando dentro do peito a única certeza que ainda fazia sentido:
Eu não ia sair dali sem sangue nas mãos.
O coração batia forte.
No compasso da vingança.
No ritmo sujo do que eu tinha perdido.
**
Dirigi até lá sem pressa.
A estrada vazia passando como um borrão cinzento do lado de fora do carro.
O rádio desligado.
A lembrança ligada.
Cada respiração me lembrava dela.
Bianca.
**
O nome dela preso nos dentes como gosto de ferro.
A risada dela — aquela que eu nunca mais ouvi — batendo na cabeça como martelo.
E junto dessa porra toda... ele.
Caio.
O amigo.
O traidor.
O filho da puta que se enfiou na vida que era minha.
**
Eu nunca vi.
Nunca presenciei.
Mas o que a mente constrói, às vezes, dói mais do que qualquer prova.
Na minha cabeça,