Lily, outrora uma atriz promissora, abandonou tudo para proteger o homem que amava das garras de seu passado sombrio. Agora, 15 anos depois, ela vive sob uma nova identidade, como médica em um hospital em Cannes. Sua vida tranquila é abalada quando o destino coloca seu ex-marido, um ator famoso, em seu caminho mais uma vez. Após salvá-lo de um acidente de carro, ela se vê arrastada de volta ao mundo que deixou para trás. Confrontada com as sombras de seu passado, Lily deve encontrar a coragem para enfrentar a verdade e revelar as feridas que tentou esconder, não apenas para salvar a si mesma, mas também para proteger outras vítimas inocentes.
Leer másLily.
O brilho deslumbrante das lantejoulas prateadas em meu vestido refletia-se no espelho do quarto do casal. A luxuosa limusine, elegantemente estacionada à porta de casa, aguardava-me para conduzir ao Dolby Theatre, em Los Angeles. Aos 21 anos, encontrava-me indicada para um prestigioso prêmio da Academia de Cinema de Hollywood, sendo reconhecida como a melhor atriz coadjuvante. Nesse momento crucial da minha carreira, eu brilhava como a estrela mais radiante no vasto céu da indústria cinematográfica. Contudo, por trás desse sonho, uma realidade sombria e deteriorada se escondia, revelando-se por entre as cortinas e câmeras.
Mesmo após estar elegantemente trajada, optei por abandonar o deslumbrante conjunto de brilho. Despojei-me das joias suntuosas e do vestido, aproveitando o fato de que Jack, meu parceiro e talentoso ator, já havia seguido para a cerimônia antes de mim. Fui rápida em dar seguimento ao meu meticulosamente planejado plano de fuga. Deslizei a mala preparada de debaixo da cama, mudei meu visual ao adotar uma peruca preta e lisa, e recolhi os documentos falsificados obtidos no mercado clandestino para a viagem. Desci para o carro, adotando a nova identidade de Lily e deixando para trás o nome Sara Jim. Em menos de meia hora, já estava no hangar do aeroporto internacional, pronta para embarcar no avião fretado. O motorista contratado exclusivamente para esse trajeto foi recompensado para desaparecer, mantendo meus atos em absoluto sigilo.
O avião particular decolou uma hora após minha partida do aeroporto de Los Angeles. Antecipava que Jack só perceberia minha ausência ao notar que meu rosto não estava entre as indicadas. Nosso relacionamento era mantido em estrito segredo, escapando assim das incômodas lentes dos paparazzi que perturbam a vida dos famosos. Na aeronave, brindei com champanhe e, ao mesmo tempo, chorei pela difícil decisão que tomei. Deixá-lo não foi algo simples, mas naquela época era a única solução viável. Hoje, após 15 anos desde que me afastei, meu coração ainda palpita descompassadamente ao relembrar daqueles momentos tão intensos.
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Anos Depois...
Em meio à tranquilidade da lanchonete do hospital principal de Cannes, eu tentava relaxar, após realizar uma cirurgia de seis horas. A pequena Béatrice de apenas quatro anos fora vítima de um grave acidente e eu havia lutado arduamente para salvá-la. Meu corpo doía sob os holofotes cirúrgicos e o cheiro de formol impregnava meu jaleco. O cansaço era tão grande que não percebi o lugar encher-se em poucos minutos, enquanto alguém ligava a TV. Meus pensamentos estavam focados na salada e no suco, o estômago roncava no compasso da fome, depois de mais de oito horas sem nada comer.Nesse momento, Candance entrou como sempre descontraída.
— Lily, Lilly. Você está bem? Nossa Lily, você está um trapo! Como foi o caso? — Questionou, parada ao meu lado, olhando para a sala ao redor, colocando um café nas minhas mãos. Contei a ela sobre os desafios da cirurgia. — Você realmente está bem? — Perguntou com preocupação.— Sim, estou. Por quê? Que aglomeração é essa na lanchonete?— Amiga, em que mundo você vive? Hoje é o dia de abertura do Festival de Cannes. A cidade está fervilhando com artistas magníficos. — Sorri nervosamente, pois não fazia sentido pensar em festividades naquele momento.— Saí de casa sem comer e quando cheguei já estava uma correria aqui no hospital, terminei de fazer uma cirurgia de quase seis horas. A criança tem apenas quatro anos e quer que eu me lembre do festival de cinema de Cannes, Candance?— Que mau-humor é esse! A criança está viva, graças a você, doutora.Imediatamente, percebi a grosseria na minha voz quando falei com ela. Candance, após resmungar uma resposta à altura, mordeu o sanduíche mais forte do que o normal, ainda de pé, parada ao meu lado. Isso indicava sua insatisfação.— Peço desculpas — falei, acariciando a sua mão — e sente-se comigo. Estou cansada e você sabe como fico depois de uma cirurgia, especialmente ao envolver uma criança.— Não precisa se desculpar. Você está estressada. Foca apenas no trabalho. Lily, há quanto tempo não se diverte com um homem? Qual é o problema de assistir atores famosos desfilando no tapete vermelho? Você precisa relaxar, mulher. Na vida, nem tudo é trabalho. Existe vida além desse hospital. Por acaso você já parou para pensar nisso.— Ok, ok. Sugiro, então, que aproveitemos o brilho do tapete vermelho.Olhei para a televisão que Candance e metade do hospital assistia… A sala estava lotada de mulheres em êxtase. Foi quando na TV vi a imagem de Jack Alton, meu antigo amor do passado que acabara de chegar e percorria o corredor principal. Meu coração disparou ao reconhecê-lo depois de tanto tempo.— Lindo, não é mesmo, Lily? — Questionou minha amiga, observando meus olhos fixos na tela. Meus olhos estavam presos ali, sem poder desviar o olhar. Ele estava mais velho, mas ainda era deslumbrante. Seu sorriso aberto trouxe lembranças de como ele costumava sorrir para mim, especialmente nas manhãs tumultuadas, quando os dois estavam envolvidos em gravações, roteiros e mídia.Pisquei com rapidez, tentando escapar da pergunta de Candance.
— Não o conheço. Você sabe que é raro eu assistir filmes, seriados e coisas do tipo. — Vou perguntar novamente, amiga. Em que mundo você vive? — Vivo no mundo do trabalho, que amo, aliás. E, ocasionalmente, algum tipo de relacionamento e muitas leituras. Você sabe o quanto gosto de ler. — Mas me diz, mesmo assim, olhando agora pela televisão. Ele é incrível! Já imaginou se eu o conhecesse pessoalmente? — Candance suspirou, quase como em um devaneio. — Acha que viveria um conto de fadas? — Respondi seriamente, mas com um sorriso travesso. — Tipo a Cinderela. Você seria a gata-borralheira e ele o príncipe rico, charmoso e bonito.Ela soltou uma gargalhada. — Não, só tiraria uma foto mesmo. Também sorri. Ela tinha esse dom; mesmo sendo séria e, às vezes, carrancuda, Candance conseguia sempre me arrancar um sorriso. Voltei a olhar para a tela e agora meus olhos estavam fixos nas imagens dele sozinho, em poses cada vez mais deslumbrantes. — Lily, você não está se apaixonando pelo Jack, não é? Não tire os olhos da tela. Veja todas as mulheres no refeitório. É uma competição acirrada. — Ela brincou. Pensei rápido e decidi que era hora de ir embora. Levantei-me e dei um beijo estalado na bochecha da alta mulher, de cabelos claros, olhos verdes e pele clara como a neve. — Aproveite a visão do seu ator. Preciso descansar e ir para casa dormir. — Passo lá para irmos trabalhar juntas. — Sim, comandante. — Brinquei, fazendo sinal de concordância. — Quero dizer, hoje estou de plantão. Tomarei café na sua casa. Minha antiga residência, à beira do mar, na avenida principal, era meu refúgio.LilyDeli nos chamou para um chá na cozinha e depois nos levou ao local onde ela havia decorado a festa com painéis de filmes da Disney, inclusive os antigos personagens, de nossas memórias de infância. Era um local arejado, mas fechado, não tinha perigo de estragar todo o esforço de minha mãe adotiva, agora avó coruja.Candance entrou para o quarto cedo, coloquei Carol para dormir e liguei para Jack. — Oi, amor.— Oi, parece cansado.— Muito. Tive que ensaiar em dobro para poder ficar mais dias com vocês.— Aqui, você descansará e está tudo pronto para a sua partida?— Sim, inclusive Dawson está bem ansioso. Acho que ele está com muita saudade de Candance.— Não tenho dúvidas disso, eles se amam! Hoje ela me contou o real motivo por que não sai daqui. Tem a ver com o pai, que fez de tudo para ela estudar medicina, mas sem conseguir realizar o próprio sonho de ser médico.— Acho que não será preciso, ela não terá que sair daí.— Como assim, o que está me escondendo?— Não estou escon
Lily Eu parecia uma criança ansiosa esperando o presente de Natal. Andava de um lado para o outro no quarto da mansão, aguardando o ajuste do vestido de noiva. Eu estava um pouco mais cheinha, tudo bem que precisei tomar muito corticoide durante o tratamento, mas o corpo poderia já ter liberado, era o que eu mais desejava. A costureira chegou quando faltava apenas meia hora para a cerimônia. Optamos por algo simples, apenas para os amigos mais próximos. Por isso, escolhemos a própria casa de Lugano como cenário, no jardim, de frente para o lindo lago. Dr. Wallace e Dawson, os mais velhos, brigaram para ver quem entraria comigo e me entregaria para Jack. Tive que interferir e dizer que entraria com os dois. Dois adultos brigando já era demais. Oito meses haviam se passado desde o retorno do coma. Jack terminara de gravar o filme, e, acreditem, criei coragem e fui ao lançamento com ele. Eu era apenas a futura esposa, uma médica, uma pessoa comum, fora dos holofotes. Isso graças à entr
Eu já gravava com uma intensidade frenética. O corpo ainda se adaptava. Foram vários meses, e agora vivia ansioso por notícias de Sara/Lily. O medo maior era que o telefone tocasse e trouxesse a notícia devastadora. Contava os dias da semana. Para o diretor e produtor do filme, expus toda a verdade e firmei um acordo contratual. Gravaria até a sexta pela manhã, retornando para as filmagens na segunda à tarde. Era a forma que encontrei para estar perto dela, mesmo que fosse por breves instantes.Carly pediu para permanecer em Lugano e concordei. Sua sobrinha ajudava em casa, junto com outros parentes confiáveis, como o jardineiro e o piscineiro. Todos colaboravam. Não tinham conhecimento da minha rotina como Carly, mas estavam se saindo bem. Em troca, minha mãe adotiva mandava mensagens de manhã, à tarde e à noite, informando o boletim médico. Infelizmente, era sempre a mesma frase: 'A paciente está estável, sem pioras no quadro clínico'.Após o susto da parada cardíaca de Lily enquant
A experiência de quase morte que vivi trouxe um conjunto de visões inacreditáveis, além de sonhos de uma vida feliz e plena com o homem que amo. Não sei por quanto tempo permaneci vendo meu corpo. Foram alguns dias, e eu, sendo médica, sentia o físico se esvaindo e a alma presa nesse mundo de ilusões, mas sem querer ir embora.Quando Jack entrou no quarto, todo paramentado, bem abatido, com olhos inchados de tanto chorar e olheiras de noites de insônia, meu coração acelerou. Percebi que o corpo físico reagiu; os braços ficaram mais tensos, a pressão arterial caiu drasticamente. Eu mesma dizia para meu corpo inerte: 'Não morra, agora não. Já fiquei até agora aqui, não morra, por favor'. O problema foi o desabafo dele, quase acabou comigo; eu precisava reagir e voltar para ele urgentemente, foi quando dei uma parada cardiorrespiratória.Os médicos me estabilizaram, mas não deixaram mais ninguém entrar naquele dia para me ver. Só no outro dia, pude vê-lo. Eu queria tocá-lo, falar com ele
Eu ainda estava indo em direção à pista de decolagem. Liguei para ele e pude também me desculpar.— Jack, me desculpe. Desde ontem Lily não reage. E enquanto falava com você a notícia chegou. Venha em paz. Tenho certeza de que ela ficará bem, até você chegar. Sou um entusiasta da esperança.— Não se desculpe. O senhor fez a melhor coisa. Acordei para a realidade da perda. Só torço agora, para que caso aconteça o pior, eu consiga chegar antes.— Se fixe na esperança. Não tenha nenhum outro tipo de pensamento, a não ser esse. Tenha fé.— Obrigado, senhor.*****Antes de embarcar, mandei uma mensagem para Dr. Wallace e Carly, perguntando como Lily estava. Os dois responderam que já haviam entrado na UTI para vê-la, e que ela estava em estado muito grave. A torcida agora era para que eu chegasse a tempo, de pedir perdão a ela em vida.*****Mesmo em um voo tão longo não conseguia dormir. E eu estava proibido de beber, por causa de algumas fortes medicações que ainda tomava. Descumpri orde
Carly chegou a Lugano e apenas me enviou uma breve mensagem: ‘Cheguei’. Pela manhã, mamãe e Jeremy, para acabar com minha paz, apareceram em casa para tomar café da manhã comigo. Na verdade, eles só queriam especular se eu já sabia sobre Sara.— Filho, bom dia. Como vai? Já tomou café, está atrasado para o trabalho, ou tem tempo para nós?— O que querem aqui?— Tomar café com meu filho. — Respondeu mamãe.— E o que mais?— Nossa, Jack. Que desconfiança é essa? — Perguntou Jeremy.— Conheço vocês. Desde que voltei de Lugano, há meses, ficam me rondando para saber se estou bem ou se aconteceu alguma coisa. Querem saber se ainda amo a Sara?— Não, só achamos que ela aprontou algo para você, mais uma vez, e você voltou com o rabinho entre as pernas. Mas agora ela está pagando o preço por tudo que fez a você.— Como é, Jeremy? Você está me dizendo isso mesmo. Um ser humano, independente de quem seja, leva dois tiros à queima-roupa, por motivos fúteis, e você diz que ela merece. Sai da minh
Último capítulo