capítulo 27

[NARRADO POR BIANCA ANDRADE VASCONCELOS]

Dois anos e quatro meses.

O número parece tatuado na minha pele: 28 — as velas que apago todo dia para manter Gustavo vivo na memória e morto no calendário.

Era sexta-feira. Chuva fina, trânsito lento. Eu já tinha guardado a bolsa para ir embora quando Caio encostou na minha mesa com um sorriso de contrato fechado:

— “Hoje o pessoal da holding assinou a expansão. Vem comemorar? Bar novo na Lapa, só nós dois.”

Quis recusar. Ainda sinto o cheiro do jazigo quando o vento muda.

Mas alguma coisa em mim cansou de velar quem não volta.

Peguei o casaco. Fui.

Lâmpadas penduradas, tijolo aparente, aroma de gim com alecrim.

Caio pediu dois Negronis antes de eu sentar. Ergueu o copo:

— “Às portas que se abrem… e às que a gente decide não fechar nunca mais.”

Respondi com meio gole. O amargor foi menor que o susto de perceber que eu conseguia — finalmente — engolir sem que o nome Gustavo agarrasse a garganta.

Rodada após rodada, o gelo derreteu mais rápido q
Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App