Após o afastamento devastador de sua mãe, Mavi decide abandonar o brilho superficial do passado e se aproximar de um pai que mal conhece. Em uma pequena cidade marcada por silêncios e segredos, ela tenta reconstruir sua história, enfrentando não só as feridas da ausência paterna, mas também os olhares curiosos de uma nova realidade. O que Mavi não esperava era que um encontro impulsivo com um desconhecido despertaria nela um desejo arrebatador — e ainda mais surpreendente, que esse homem fosse Alexandre Xavier, o cirurgião mais respeitado da região... e o melhor amigo de seu pai. Entre encontros inesperados, olhares que queimam e conversas cortadas por silêncios gritantes, cresce um sentimento que nenhum dos dois consegue conter. Alexandre, sempre tão sereno e controlado, se vê tomado por uma fúria emocional incontrolável — um desejo que o tira do eixo, que desafia suas convicções e o arrasta para um abismo onde razão e paixão colidem. "O melhor amigo do meu pai é o meu amor" é uma história sobre limites, escolhas e amores que desafiam convenções. Até onde se pode ir por um amor que nasceu do impossível?
Leer másDe todos os pecados que aprendi a esconder, a gula era o mais inofensivo. Uma indulgência simples, quase inocente, que me permitia escapar, nem que fosse por um breve momento, da realidade sufocante em que vivia. No calor insuportável de um domingo carioca, meu refúgio era um copo generoso de sorvete de morango. Gelado, doce e quase inocente. Quase.
Sentada no sofá da sala, com o ventilador batendo em meu rosto, observava o movimento na piscina através da janela entreaberta. Minha mãe de biquíni laranja, rodeada de convidados bronzeados, risadas ocas, corpos molhados e taças de espumante. A típica cena das festas dela. Aquelas festas que sempre me faziam sentir como se fosse uma intrusa no mundo dela. O tipo de vida ao qual nunca consegui pertencer.
As risadas alheias me pareciam vazias, como se fossem apenas uma forma de preencher o silêncio desconfortável que sempre reinava entre nós. O copo de sorvete se esvaziava lentamente enquanto eu me perdia em pensamentos, tentando ao menos por alguns minutos esquecer o que me incomodava. A sensação de estar ali, mas ao mesmo tempo tão distante de todos, me consumia.
A primeira colherada ainda dançava na minha língua quando ouvi a porta se abrir. Um ruído familiar, mas que agora me soava ameaçador. Instintivamente, levei o copo de sorvete ao peito, como se protegê-lo pudesse me proteger também. Um reflexo bobo, mas era o que me restava.
— Aí está você, linda — disse Marcelo, entrando sem cerimônia. Pingando da piscina, com uma bermuda de sarja escura, a pele clara molhada e os fios negros encharcados e bagunçados. Ele se aproximou, com aquele sorriso largo demais, forçado demais, que me fazia ter vontade de fugir dali a cada vez que o via.
Cada passo dele deixava um rastro molhado no chão, e eu me encolhia um pouco mais, tentando controlar a ansiedade que começava a surgir, uma mistura de incômodo e insegurança.
— Eu... — tentei dizer, mas a voz me traiu. Apenas sorri, fraca, e continuei tomando o sorvete, tentando parecer indiferente, tentando me proteger da invasão que sabia que viria.
Marcelo se aproximou mais, agora perto demais. O cheiro de piscina e cerveja se misturava, me deixando tonta. Antes que eu pudesse reagir, ele tomou a colher da minha mão e a enfiou na própria boca, como se aquele pequeno gesto tivesse algum tipo de direito sobre mim.
— Humm... delícia! — Ele saboreou o sorvete como se estivesse buscando algo além do sabor. Seus olhos, no entanto, não estavam focados no sorvete, mas em mim. Analisavam meu corpo, sem disfarçar o interesse, até encontrarem os meus olhos e, finalmente, minha boca. Algo naquelas trocas de olhares me desconcertava. Eu sabia o que ele queria. Sabia o que ele pensava de mim.
Engoli seco, sentindo o gosto amargo da humilhação se espalhando pela minha garganta. O gesto dele era íntimo, invasivo, e eu não sabia o que fazer. Não sabia como reagir. Mas, no fundo, tudo o que eu queria era que ele saísse. Saísse dali. Saísse da minha vida.
— Não faça mais isso — murmurei, os olhos desviando do olhar dele.
— Ah, Mavi, é só sorvete... não precisa de drama — disse ele, com um sorriso cínico no rosto.
Eu forcei um sorriso, deixei o copo na pia e subir. Precisava sair dali, precisava me afastar, mas, antes que eu pudesse passar, ele bloqueou a passagem por um segundo.
— Pra que tanta pressa? Vai fugir de mim agora? — ele perguntou, com o olhar cravado em meus seios no top cinza. Aquelas palavras me fizeram tremer, mas eu apenas tentei seguir em frente, tentando não mostrar o quanto ele estava me afetando.
Ele deu um passo para o lado, como se nada tivesse acontecido, mas a tensão ficou comigo. No fundo, sabia que isso era só o começo. Eu só queria me afastar. Queria estar longe dele.
No quarto, tentei me concentrar. A ansiedade ainda me tomava, mas eu sabia que o final período acadêmico estava começando, e com ele, o período de avaliações, seminários que se aproximavam. Contudo, minha mente não conseguia focar nos estudos. A lembrança do olhar de Marcelo, sua atitude invasiva, se repetia em minha cabeça.
Os passos dele no corredor interromperam meu frágil momento de concentração. A sombra de seus pés se projetava por debaixo da porta, e logo o clique da maçaneta girando fez meu estômago se revirar. A maldita fechadura quebrada, agora me mostrava o quanto, o antes não precisava de travar, neste momento necessitava.
— Você ficou chateada com aquilo, né? — perguntou, encostado no batente.
— Marcelo, o que você tá fazendo aqui? — perguntei, tentando soar firme, embora meu coração estivesse disparado.
— A porta tava encostada, ficou chateada? — mentiu, logo se aproximou, encostando o quadril na minha cadeira. A pressão no meu ombro me fez sentir uma onda de desconforto, que eu não consegui me mexer.
— Não, só estou ocupada, você não devia, minha mãe... — tentei, mas ele me interrompeu.
— Para de ser nerd, Mavi, vamos curtir um pouco.— Disse me olhando, me percorrendo com os seus olhos que não escondiam seus desejos impróprios. — Sua mãe tá lá embaixo, curtindo um pouco os amigos. Relaxa. Você não precisa ficar sozinha... Eu posso te fazer companhia. Aposto que sente falta de carinho — ele sussurrou, sua respiração quente próximo à minha nuca.
— Marcelo, sai do meu quarto, por favor. — Antes que eu pudesse reagir, ele se abaixou e me beijou. Sem aviso. Sem permissão.
Aquele beijo me paralisou. Foi um choque. O gosto de cerveja, o bafo quente, o asco imediato. Algo se quebrou dentro de mim naquele instante. Empurrei-o com força, o livro voou da mesa. O susto me tomou, e o grito que escapou dos meus lábios foi reflexo de uma dor profunda.
— Sai daqui! — gritei, a voz embargada. — Tá louco?
Ele recuou dois passos, levantando as mãos como se fosse inocente, mas o sorriso dele era nojento, cínico.
— Você vai mesmo estragar o dia da sua mãe com uma historinha dessas? — disse ele, como se fosse algo trivial.
Lágrimas queimaram meus olhos, mas engoli cada uma, eu não seria uma vítima, nunca! Uma conversa com a minha mãe bastava.
A porta bateu ao sair, e eu fiquei ali, sozinha, com o coração disparado, a respiração em frangalhos. O medo se espalhou por cada centímetro do meu corpo. Eu estava sozinha. E a sensação de ter perdido um pedaço da minha segurança dentro de casa me invadiu como uma onda arrasadora.
Limpei a minha boca, como quem buscava se higienizar de germes, para mim, Marcelo não era diferente, haviam dias que ele não escondia os seus olhares, e aquilo para mim, era ultrapassar tudo, não era coisa da minha cabeça.
Era noite quando desci, a minha mãe estava na sala, debruçada no colo dele, ignorei os olhares de Marcelo. Fitei a mulher de rosto escondido, pele bronzeada, cabelos loiros lisos bagunçados. — Mãe, preciso conversar com você. — Pedi.
Observando o modo como ele massageava as suas costas. — Agora, filha? — Perguntou com a voz abafada. — Sim, mãe é...
— A sua mãe não esta bem, Mavi, ela está com a pressão baixa. — Assenti diante ao que ele disse.
— Amanhã filha, pode ser? — O que eu poderia dizer? Uma hora a conversa aconteceria? — Tá, amanhã? Pode ser.
O relógio digital da sala de reuniões marcava 8h07 quando Maria Vitória empurrou a porta com uma pasta de relatórios sob o braço e um copo de café na outra mão. Os cabelos presos num coque prático, o jaleco branco por cima do vestido azul-marinho. A sala estava cheia — enfermeiros, gestores, dois representantes da ala pública recém-inaugurada.— Bom dia a todos — ela sorriu, sentando-se à cabeceira. — Vamos tentar resolver tudo antes das nove. Tenho uma entrega no colégio da Alana às dez.Todos sorriram. A doutora Xavier era conhecida por ser firme, objetiva e… absolutamente apaixonada pelos filhos. Mas pelo marido? Todos sabiam que ela largaria tudo, sem hesitar, se ele ligasse repentinamente.Enquanto ela revisava gráficos de atendimento e planos de expansão da ala pública, o celular vibrou discretamente sobre a mesa. Uma foto apareceu: Alexandre com os cabelos bagunçados, jaqueta jogada no ombro e um sorrisinho de canto, em frente à universidade.Mensagem dele: "A aula hoje foi um c
— Claro que é! E se não for... — Deslizei a mão entre nós, por dentro do roupão. O gesto desfez o nó com uma facilidade quase simbólica — imprudente, diferente, estranho. — Eu quero tudo. Que você seja minha esposa, que tenhamos filhos, netos... bichos, o que quiser. Quero mor...Mavi levou o dedo aos meus lábios, firme.— Não ouse dizer isso. Eu aceito ser sua mulher. Já sou sua mulher. Quero ser mãe dos seus filhos, dos seus netos... mas nunca fale de morrer, Alexandre. Nunca.Assenti, silencioso, a conduzi até o banco de trás. Ela se deitou ali, me olhando como se o mundo fosse só nós dois.— Eu aceito ser sua... em qualquer lugar — sussurrou.Olhei para o corpo dela, magnífico, natural, de um jeito só dela.— Você é incrivelmente perfeita...Ela me puxou pela gola da camisa, urgente.— Me come primeiro, me elogia depois — falou com pressa, com fome.Ri, me aproximando da sua boca.— Você parece mais faminta que eu.— Claro que sim. Você me olha com esses olhos e eu só consigo pens
Após a prisão de Maria Clara, as coisas finalmente se acalmaram. Ela foi transferida para um presídio quase imediatamente. Ninguém nos explicou o motivo, mas a doutora Caroline me contou, com um olhar mais sério do que o habitual, que Maria Clara havia sido classificada como alguém extremamente perigosa, até mesmo para outros detentos.Eu tentava retomar minha vida: os estudos, o estágio. Minha mãe voltava à sua produção. Tia Lena veio passar o fim de semana conosco, mas eu sabia que não era apenas uma visita. À noite, ela desapareceu, como sempre. E, desta vez, eu não fui atrás.Meu pai estava surpreendentemente centrado naqueles dias. Dividia a direção do hospital com Alexandre, e os dois até contrataram um cirurgião temporário para substituí-lo em alguns plantões. Ele parecia determinado a manter tudo funcionando, como se quisesse provar alguma coisa, talvez a si mesmo.Naquela noite, fui até a área externa da casa e os encontrei ali: meu pai e Alexandre, sentados sob a luz amarela
Por mais que eu estivesse preocupado com Maria Vitória, mesmo sabendo que ela estava sendo representada por advogados competentes, havia um mal-estar maior que me corroía.Maria Clara ainda estava solta.As estradas tinham blitz. A rodoviária, vigilância reforçada.Todos os acessos estavam sendo monitorados.Mas nada. Nenhum sinal dela.Quando fui informado de que Maria Vitória havia alegado legítima defesa, o caso se inverteu completamente.O olhar da Justiça mudou.As atenções também.Ela deixou de ser vista como uma criminosa impulsiva — e passou a ser reconhecida como alguém que sobreviveu.A partir dali, deixei de me preocupar com ela, pelo menos juridicamente.Caroline a preparou com maestria. Ainda mais com o inquérito aberto contra Marcelo pelo ataque brutal à Laura.Ele agora era oficialmente um foragido. Um homem perigoso.E Maria Vitória… uma vítima.Mas os meus males, esses não haviam acabado.Quando revisamos as filmagens do prédio, senti o sangue gelar.Maria Clara apare
Meus batimentos estavam descompassados.Eu e Marcelo apertamos o gatilho praticamente ao mesmo tempo — o dedo dele forçando o meu, tentando destravar a arma.Mas o tiro… não foi em mim.Quando o corpo dele estremeceu sob o meu, um nó se formou na minha garganta.A mão dele fraquejou sobre a minha.— Maria Vitória… Maria… — ouvi Alexandre atrás de mim, a voz embargada, os braços tentando me afastar.Mas era tarde. Tarde demais.Apertei o gatilho novamente.Uma. Duas. Três. Quatro vezes.Na quinta, a arma travou. Não disparava mais.E, mesmo assim, eu continuei ali. Tremendo.Eu não queria mais ver minha mãe com medo. Sempre assustada.Não queria mudar de cidade outra vez.Não queria viver com medo.— Maria Vitória? — a voz dele ecoou na minha orelha.O barulho da porta se abrindo me atingiu como uma onda distante. Mas eu não me virei.Eu estava paralisada. Em choque.Confessando, em silêncio, tudo o que havia feito.— Me dá isso! — Alexandre tentou puxar a arma da minha mão.— Não! — g
Tinha sido uma noite maravilhosa. Não fizemos sexo como das outras vezes — desta foi sem pressa, sem urgência — porque sabíamos que, agora, não era a última vez, entrelaçamos nossos corpos num ato vagaroso, delicioso sem hora para acabar. Adormeci com Maria Vitória em meus braços, enquanto ela falava sobre os cortes secos que a nova orientadora fizera em sua monografia. Aconselhei que publicasse a pesquisa depois da defesa — com minha revisão.Ver os olhos dela brilhando na imensidão escura do quarto me trouxe uma certeza: estávamos recomeçando. Não sabia quanto tempo aquilo duraria, mas queria que fosse bom enquanto durasse.Ela saiu cedo. Tinha estágio. E, embora fosse ruim deixá-la sair da cama, foi... admiravelmente responsável quando chegou a porta. A luz da manhã entrava tímida pelas cortinas. O sol ainda não aquecia o suficiente pra tirar o frio do peito. Sentei na beirada da cama, sem camisa, celular na mão.A mensagem de Mavi ainda brilhava na tela:“Ele me ligou. Disse que
Último capítulo