Quarto 312 — Hotel Serramar
Narrado por Lorena Mello
O vapor do banho ainda cintila sobre a pele quando o baby-doll preto desliza como tinta fresca.
Na penumbra do abajur, Gustavo dorme na poltrona — camisa aberta, barba por fazer, braços pesados sobre a vida que ele jurou tomar de volta. Aproximo-me devagar: perfume de sabonete clínico, pulsação que duvida dos próprios passos. Antes de tocá-lo, o ombro dele espasmeia; soldado que pressente trincheira.
— Dormi quanto? — a voz sai rouca, raspando pedra.
— O suficiente pra perder o jantar e metade da minha paciência. — Reacomodo a alça fina. — Vou pedir gordura antes que a cozinha feche.
Disco o serviço de quarto: hambúrguer duplo, fritas, onion rings, milk-shake de paçoca com chantili (minha vitória) e espresso duplo pra manter o gladiador desperto.
---
Quinze minutos depois
O “bing” do elevador ainda ecoa no corredor quando abro a porta — baby-doll preto, gota de água teimosa descendo pela coxa.
O entregador — vinte e poucos, sorriso