A segunda-feira amanheceu fria, com o céu coberto de nuvens baixas.
Mila acordou com aquela sensação de que o tempo estava em suspenso — como se tudo tivesse parado só para que ela decidisse o que fazer com os pedaços que ainda não tinha coragem de olhar.
Passou café, abriu a porta lateral e respirou fundo.
O pátio parecia mais verde a cada dia, como se a primavera já tivesse se instalado ali antes de qualquer outro lugar.
Sentou-se na poltrona da sala e deixou o olhar se perder pela pilha de caixas que ocupava o canto.
As cartas da mãe continuavam ali, intactas, como se esperassem pacientemente por coragem.
Ela soube, sem precisar pensar muito, que aquele seria o dia.
Arrastou a caixa maior até perto do sofá e começou a abrir devagar.
Ali dentro havia envelopes amarelados, recibos de compras antigas, algumas fotografias que pareciam tiradas em outro século.
Cada objeto tinha o cheiro de passado.
De tudo que ela sempre quis esquecer.
Por alguns minutos, só ficou olhando.
Depois pegou