Na manhã seguinte, o barulho da serra acordou Mila antes do despertador.
Ela ficou alguns segundos deitada, ouvindo aquele som ritmado vindo do fundo da casa.
Em qualquer outro tempo, teria soado como incômodo.
Mas agora, era música.
Era prova de que ele estava ali — de que aquela casa já não era só dela.
Vestiu um suéter grosso, prendeu o cabelo e foi até a cozinha.
Toto seguia seus passos, abanando o rabo com ansiedade.
Na porta dos fundos, Blerim estava inclinado sobre uma das tábuas antigas, medindo com precisão.
O sol da manhã batia nos cabelos dele, iluminando o pó de madeira que se acumulava nos ombros.
— Bom dia — disse Mila, encostando no batente.
Ele ergueu o rosto e sorriu.
— Bom dia, escritora.
— Isso tudo vai virar a nova entrada?
— Vai. — Ele passou a mão no canto do batente. — Quando a gente abrir essa parede, o quintal vai se ligar à oficina. Sem mais divisórias.
— Parece perfeito.
— Eu quero que tudo seja parte da mesma coisa. — A voz dele saiu firme. — Que não exista