O Peso da Água

Sem hesitar, Aurora pulou no lago e avançou em direção a Isabella. A água gelada cortava a sua pele, tornando cada braçada um esforço doloroso, mas, com determinação, ela conseguiu alcançá-la.

— O meu pé… está preso em alguma coisa! Não consigo mexer! — gritou Isabella, lutando contra o que a puxava, a voz estrangulada pelo medo. — Você… é a advogada perfeita de hoje — murmurou, o fôlego falhando e a voz trêmula e entrecortada pelo esforço.

Antes que Aurora pudesse dizer qualquer coisa, Isabella foi subitamente puxada para baixo, desaparecendo nas águas escuras.

— Droga! — exclamou Aurora, o coração disparado.

Sem pensar, mergulhou. A escuridão a envolveu por completo; tudo era frio, denso e silencioso. Ela agitava os braços no escuro, perdida no líquido gelado.

O frio queimava a sua pele, e a urgência apertava o seu peito. O ar nos seus pulmões começava a faltar quando os seus dedos, enfim, roçaram algo — o tecido de um shorts, o contorno de uma perna.

Com um esforço desesperado, Aurora desceu mais um pouco, encontrando o tornozelo de Isabella preso num emaranhado de raízes submersas. Forçou os dedos entre elas, arranhando-se, até conseguir soltá-la.

Isabella, com dificuldade, subiu para a superfície, nadando desajeitadamente até a margem. Aurora tentou segui-la, mas a força lhe faltava — e a escuridão, agora mais intensa, parecia engoli-la por completo.

Isabella chegou à margem, tossindo e tremendo, mas ao se virar percebeu que Aurora não estava à vista.

O coração de Isabella gelou. O pânico tomou conta:

— Cadê você?! — gritou, a voz rasgando o ar em desespero.

Lá em baixo, Aurora já não ouvia nada. O medo a dominava antes mesmo que pudesse pensar. O ar escapava em bolhas rápidas dos seus lábios, subindo como pequenas promessas de vida que ela jamais alcançaria. O peito queimava, e o instinto gritava para subir — mas a água, pesada e fria, a mantinha prisioneira.

Foi então que o medo tomou forma. Não o medo simples e passageiro, mas aquele antigo, sufocante, que ela nunca deixara para trás — uma sombra constante que sempre a assombrava.

O ar escapava em bolhas rápidas… O peito queimava… E então, no limite entre o medo e o desmaio, o lago desapareceu.

O azul escuro deu lugar às luzes brancas e turvas da piscina. Bastien estava ali — o sorriso frio, o olhar de quem saboreava o controle. Ela sentiu novamente as mãos dele nos seus ombros, empurrando-a para baixo, o mesmo riso abafado pela água, cruel e distante.

“Não… não de novo…”

Aurora tentou nadar, mas o corpo não respondia. O desespero virou força bruta: ela se debateu, chutou, arranhou a água como se pudesse rasgá-la. A visão de Bastien se aproximava, os dentes à mostra num sorriso quase sereno.

O ar acabou.

Num último lampejo de consciência, Aurora fechou os olhos e viu o rosto dele se dissolvendo na escuridão. Então tudo se apagou — o som, o frio, o medo — e ela deixou-se levar pelo silêncio profundo que vinha logo antes da inconsciência.

No condomínio, Lian caminhava apressado, procurando a irmã, enquanto Álvaro vasculhava cada canto à procura de Aurora. De repente, ouviram os gritos.

Correndo na direção do lago, encontraram Isabella ajoelhada na margem, o pé sangrando, os olhos arregalados de medo. Ela apontava desesperadamente para a água, mas o choro a impedia de falar direito.

— Bella, o que aconteceu? — perguntou Lian, tirando o casaco e envolvendo-a com cuidado. — Você vai ficar doente, está toda encharcada.

— O meu pé… — Isabella começou, a voz fraca, mas logo foi interrompida por uma nova onda de lágrimas. Entre soluços, conseguiu dizer:

— Aurora… ela… está lá dentro. Ela pulou para me salvar. Por favor, Lian… salve-a. Se acontecer algo com ela, eu… eu nunca vou me perdoar.

— Aurora… — sussurrou Álvaro, o desespero estampado no rosto.

Sem pensar duas vezes, ele arrancou o casaco e mergulhou no lago. O impacto da água roubou-lhe o fôlego no mesmo instante, um choque gélido que parecia perfurar até os ossos. Gritou o nome dela, a voz rasgando o silêncio da noite, mas não obteve resposta.

— Aurora! — repetiu, desesperado.

Minutos que pareceram eternidades se arrastaram enquanto ele tateava o escuro submerso, procurando por ela. Cada movimento exausto aumentava seu desespero. Quando finalmente voltou à superfície, exausto e derrotado, sentiu o peso da culpa por não tê-la encontrado.

— Aurora! — gritou novamente, a voz carregada de pânico.

Do lado de fora, Lian, tomado pela pressa, pegou o celular e ligou para Raul, pedindo reforço, cobertores e lanternas.

Os minutos se arrastavam, eternos e implacáveis, enquanto a ajuda não chegava. Sem pensar duas vezes, ligou a lanterna do aparelho, ajustou a visão contra a escuridão e mergulhou no lago, determinado a encontrá-la.

A água gelada o envolvia como um abraço de gelo, cada braçada uma batalha contra o frio que queimava a pele, o peso sufocante da urgência e o medo que crescia, voraz, a cada segundo. O silêncio líquido ao redor amplificava o seu desespero, e a sensação de impotência apertava seu peito como uma mão invisível.

Enquanto ele e Álvaro buscavam Aurora desesperadamente, Klaus, Hanna, Greta e os seguranças chegaram, lanternas em mãos, prontos para ajudar.

Sem hesitar, alguns mergulharam na água, auxiliando nas buscas. Cada movimento era coordenado entre gritos, luzes cortando a escuridão e mãos tateando o lago à procura dela.

Após alguns minutos tensos, Lian emergiu segurando Aurora nos braços. Ela estava inconsciente, pálida e encharcada. Ele saiu do lago o mais rápido que pôde, carregando-a para a margem.

Aurora permaneceu submersa tempo suficiente para que a sua respiração estivesse gravemente comprometida. A hipotermia, o risco de afogamento e a possível falta de oxigênio ao cérebro exigiam cuidados imediatos.

Lian começou a tentar reanimá-la, enquanto Greta e Hanna se aproximavam com cobertores, prontas para aquecê-la. Após alguns minutos, Aurora começou a reagir, mexendo os braços de forma fraca e desorientada, como se ainda estivesse presa entre a consciência e o desmaio.

— Não… Bastien… por favor, não me mate! — sussurrou Aurora, a voz fraca e trêmula, entrecortada pelo choro e pelo choque.

Lian segurou firmemente os seus pulsos, tentando ancorá-la à realidade:

— Senhorita Aurora, sou eu — disse, com voz firme, esforçando-se para mantê-la consciente.

Ela abriu os olhos, desorientada, o olhar perdido nos olhos de Lian.

— Senhor juiz… — murmurou, antes de desmaiar novamente, exausta.

Lian respirou fundo, o coração disparado, ainda segurando firmemente o pulso de Aurora, o medo estampado no rosto.

— Hanna, Greta, tirem essas roupas molhadas dela, rápido! Ela precisa se manter aquecida. E vocês, virem de costas. — disse, dirigindo-se a alguns seguranças e a Klaus. Álvaro afastou-se respeitosamente e se juntou a eles, também virando-se.

— Raul, traz o carro imediatamente! — acrescentou. — E ligue para o doutor Mathias, peça para ele nos esperar no hospital.

Todos obedeceram sem hesitar. Greta e Hanna retiravam cuidadosamente as roupas molhadas de Aurora, enquanto Lian se virava de costas, respirando com força e lutando para não perder o controle.

Logo, Raul chegou com o carro.

— Senhor Lian! — gritou ele, a voz cortando a noite. — Vamos!

Lian assentiu rapidamente, ergueu Aurora nos braços, enrolada cuidadosamente num cobertor, e correu em direção ao veículo, cada passo pesado com medo de que ela não resistisse.

Álvaro o seguiu de perto, respirando fundo, enquanto Raul abriu a porta traseira sem hesitar, captando a pressa nos gestos de todos.

— Klaus! Greta! Hanna! Cuidem da Bella, por favor! — gritou Lian, a voz carregada de urgência.

Enquanto os outros se aproximavam para acolher Isabella, Lian não perdeu tempo. Segurando Aurora com firmeza, acomodou-a no carro, o corpo ainda gelado atravessando o cobertor encharcado.

O calor do pano era pouco diante do frio que percorria o seu corpo, mas Lian não desgrudava dela, cada movimento controlado como se fosse o último.

O carro acelerou pelas ruas silenciosas do condomínio. Cada segundo parecia eterno; tudo em volta se resumia a mantê-la viva até que chegassem ao hospital.

As luzes da cidade passavam em borrões pelas janelas, cortando a escuridão com flashes que pareciam medir o tempo que restava. Raul, tenso, mantinha o controle do volante, desviando rapidamente de carros e obstáculos, o motor rugindo sob a pressão da pressa.

Quando o hospital finalmente surgiu à frente, o alívio veio misturado à ansiedade. Lian saltou do carro, carregando Aurora nos braços, o cobertor ainda mais encharcado, o corpo dela pesado e inerte. Álvaro veio logo atrás, ofegante, a expressão tomada pelo pavor.

Do lado de fora, dois enfermeiros já se aproximavam, empurrando uma maca preparada para recebê-la. O doutor Mathias, jaleco aberto e semblante firme, aguardava na entrada, pronto para agir.

— Ela está inconsciente e respirando com dificuldade — disse Lian, a voz rouca de tensão.

— Levem-na para dentro imediatamente — disse Mathias, a voz firme. — A sala dois está pronta para recebê-la.

Lian passou Aurora para os enfermeiros com cuidado, cada segundo arrastando-se como se o tempo desacelerasse.

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