O sol já se despedia de Zurique quando o avião tocou finalmente o solo. Lian Marconi desembarcou ao lado da sua irmã mais nova, Isabella. Após o divórcio, seus pais estavam preocupados com ele: temiam que o seu lado frio se aprofundasse e impusessem um ultimato. Ou ele aceitava levar Isabella consigo, ou eles próprios viriam morar na sua casa para acompanhá-lo de perto. Não era uma decisão fácil, mas Lian não hesitou. Entre lidar com Isabella ou com seus pais controlando cada passo da sua vida, escolheu levar a irmã consigo.
Na saída do terminal, um motorista particular os cumprimentou e abriu a porta do Rolls-Royce Phantom preto blindado para que entrassem. Isabella ficou encantada com a imponência e o luxo do carro, os olhos brilhando a cada detalhe, enquanto Lian permanecia impassível, acostumado à opulência que agora fazia parte da sua vida.
Eles acomodaram-se no banco de trás, afundando no couro macio e perfumado. O interior era um verdadeiro santuário de luxo, com iluminação ambiente discreta e o ar-condicionado ajustado na temperatura perfeita. A blindagem, quase invisível, criava uma bolha de silêncio, isolando-os completamente do burburinho do aeroporto. Isabella mal podia conter a empolgação, admirando cada detalhe, enquanto Lian mantinha o olhar firme à frente, indiferente a todo o esplendor ao seu redor.
O motorista ligou o motor, e o leve ronco do Rolls-Royce quebrou o silêncio ao redor. Pela janela, as luzes de Zurique começavam a se acender, anunciando a chegada da noite e o despertar da vida urbana.
O trajeto passou rapidamente, e logo a mansão surgiu à vista, deslumbrante, num condomínio fechado à beira do Lago Zurique, cercada por apenas mais cinco residências. O portão de ferro forjado abriu-se silenciosamente, e o carro blindado deslizou pela entrada, observado por seguranças atentos. A arquitetura impressionava: fachadas de vidro espelhado, amplos terraços sobre o lago e estruturas de mármore italiano reluzente.
Jardins meticulosamente projetados, com fontes iluminadas e esculturas modernas, completavam o cenário. As janelas panorâmicas do chão ao teto deixavam entrever um interior banhado por luz dourada, lustres de cristal, pisos de madeira nobre e móveis sob medida, contrastando com o azul profundo do lago e o contorno majestoso das montanhas ao fundo.
O Rolls-Royce Phantom deslizou até a entrada principal e parou com suavidade. Um dos seguranças, alto, forte e de postura impecável, abriu a porta para Lian. Ele desceu com firmeza, e Isabella o acompanhou logo atrás, encantada com cada detalhe da mansão e quase sem acreditar na grandiosidade do lugar.
— Sejam muito bem-vindos, Senhor Lian, senhorita Isabella. O meu nome é Raul, sou o chefe de segurança. Estarei à disposição para garantir que tudo ocorra com total segurança e eficiência.
A voz de Raul era firme e profissional. Lian assentiu levemente.
— Obrigado, Raul. Agora, vamos entrar, estamos exaustos. Boa noite!
— Boa noite, senhor, senhorita — disse Raul, inclinando levemente o corpo num gesto de respeito, enquanto Lian conduzia Isabella pela entrada principal da mansão.
A pesada porta de madeira abriu-se, revelando um grupo de funcionários alinhados. Isabella entrou animada, os seus olhos brilhando de entusiasmo e arrancando sorrisos encantados de todos. Lian limitou-se a um breve aceno, mantendo a postura firme enquanto observava cada detalhe ao redor. O aroma de madeira nobre e flores frescas os envolveu, transmitindo imediatamente uma sensação acolhedora.
A jovem caminhava maravilhada, os olhos percorrendo cada detalhe do salão de entrada. A lareira acesa lançava sombras dançantes pelas paredes, e o piano de cauda brilhava à luz suave. Ela se aproximou da sacada, e a vista panorâmica do Lago Zurique, estendendo-se até o horizonte, tirava-lhe o fôlego.
— Lian... — sussurrou, encantada — É... inacreditável.
— Bonito, sim — respondeu ele, com a voz contida — Mas não precisa exagerar.
— Quando você vai parar de ser tão amargo? Que sem graça! — Isabella provocou, rindo. Lian revirou os olhos, puxando-a suavemente de volta para dentro.
Nesse momento, um homem de meia-idade, com postura impecável e terno escuro, aproximou-se com um leve aceno.
— Sejam bem-vindos, Senhor Lian, senhorita Isabella. O meu nome é Klaus, serei o mordomo da casa — disse, inclinando-se numa reverência discreta.
— Estas são Hanna e Greta, que cuidarão do serviço de quarto e da organização. Na cozinha, o chefe Marcel e a sua equipe de quatro assistentes já estão preparados para atender a todas as suas necessidades — completou Klaus, com um sorriso profissional.
— Prazer em conhecê-los. — Lian disse de forma contida, mantendo o tom frio. — Klaus, quando o jantar estiver pronto, envie-o diretamente para o meu quarto. Irei subir agora. — Ele se virou e começou a subir a escada com passos firmes.
— Sim, senhor Lian. Tudo estará pronto. Tenham uma boa noite. — Klaus respondeu com uma leve reverência, enquanto Hanna e Greta pegavam as malas de Lian para levá-las escada acima.
— Ai, que insensível! — resmungou Isabella, cruzando os braços. — Além de me deixar jantar sozinha, ainda faz essas pobres carregarem as suas malas pesadas. — Ela suspirou de forma dramática, mas Klaus lhe ofereceu um sorriso gentil, a calma em pessoa, suavizando o instante.
Lian entrou no quarto e respirou fundo. O espaço era um verdadeiro refúgio de luxo, porém envolto em tons escuros que transmitiam poder e sobriedade. As paredes, revestidas em madeira negra polida, contrastavam com detalhes em mármore grafite, enquanto a iluminação indireta e quente criava uma atmosfera acolhedora, porém imponente. O piso em madeira escura refletia discretamente a luz suave dos lustres modernos, e cada móvel, em tons sóbrios e acabamento impecável, parecia ter sido escolhido para unir funcionalidade e elegância austera.
Hanna e Greta entraram logo atrás, carregando as malas de Lian. Com precisão silenciosa, deixaram-nas no chão e, antes que ele pudesse dizer algo, já se retiravam rapidamente, mantendo a discrição que Lian tanto apreciava. Ele apenas assentiu levemente, reconhecendo a eficiência e o profissionalismo das funcionárias sem precisar de palavras.
Ele se aproximou da ampla cama king-size, com lençóis de seda em tons escuros, passando as mãos pelo colchão, avaliando a suavidade e a qualidade. Depois, dirigiu-se à varanda e contemplou a vista do lago iluminado pela lua, absorvendo o silêncio e a tranquilidade da noite. A brisa fresca trazia o perfume das flores do jardim, e, por alguns instantes, Lian permitiu que a mente se desprendesse das obrigações e preocupações, ainda que apenas por momentos.
Decidiu então se dirigir ao banheiro, um espaço de luxo igualmente imponente, revestido em mármore negro com veios dourados, iluminação baixa e indireta, criando a atmosfera perfeita para relaxamento. A banheira, ampla e escura, estava cercada por velas aromáticas, enquanto o vapor do chuveiro subia lentamente, misturando-se com o aroma de óleos essenciais.
Enquanto a água quente escorria por seu corpo, os pensamentos de Lian inevitavelmente se voltavam para sua irmã, Isabella. A responsabilidade de mantê-la protegida, longe de qualquer problema, pesava sobre ele, lembrando-o de como a sua vida agora era feita de vigilância e controle. Mas junto a isso, outra lembrança invadia a sua mente, cruel e persistente: Helena. A única mulher que ele realmente amara, que ele confiara de corpo e alma… e que o traíra de forma tão dolorosa. Como fora possível? Como ela pôde compartilhar aquela intimidade com outro homem, dentro da própria cama que dividiam? Lian fechou os olhos, sentindo o aperto no peito, a raiva misturada à dor, cada memória de Helena queimando como uma marca que jamais se apagaria.
Sozinho no banheiro escuro, Lian permaneceu em silêncio, preso entre reflexões sobre o passado e a urgência de se preparar para o futuro que o aguardava em Zurique. A mente estava alerta, cada instinto em estado de atenção máxima, como se o silêncio ao redor ampliasse cada pensamento e cada memória.
Desligou o chuveiro e envolveu-se no roupão de seda grafite, sentindo o calor percorrer os músculos ainda tensionados. Ao sair, um aroma envolvente e preciso tomou conta do ambiente — o jantar estava pronto. Os seus olhos varreram o quarto e detiveram-se na sacada: sobre a mesa, uma bandeja meticulosamente organizada exibia pratos refinados, detalhes impecáveis, aromas que se misturavam ao frescor da noite, convidando-o a saborear cada instante. Um leve sorriso surgiu, involuntário, diante da precisão silenciosa de Hanna e Greta, que haviam deixado tudo perfeito sem serem vistas.
Um leve sorriso curvou os seus lábios. Hanna e Greta… profissionais perfeitas. Não as vi entrar, e já deixaram tudo pronto, pensou, admirando a precisão silenciosa das funcionárias. Aproximou-se da bandeja, examinando o cardápio com atenção, cada prato uma obra de arte que despertava todos os sentidos. Sentou-se na cadeira, respirando fundo, e a primeira garfada trouxe um breve alívio, um instante de silêncio em meio ao turbilhão de pensamentos.
A brisa noturna se misturava aos aromas da comida, e o reflexo da lua no lago tingia o ambiente de prata e sombra, criando uma sensação quase mágica de calma. Por alguns preciosos minutos, Lian deixou o corpo relaxar, permitindo que a mente descansasse — ainda que apenas parcialmente. O passado, os fantasmas e as responsabilidades não desapareceriam, mas ali, naquela noite silenciosa, ele podia, pela primeira vez desde a sua chegada, sentir um instante genuíno de paz e controle.