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Um Encontro sob a Lei

Enquanto o carro deslizava pela estrada do condomínio, Aurora percebeu uma dezena de seguranças de terno preto ao redor da casa do novo vizinho. A segurança era tamanha que a residência parecia uma fortaleza.

— Essa família deve ser influente — comentou Phill, a voz baixa, surpreso. — Nunca vi tanta proteção em volta de uma casa.

Aurora assentiu, mas sua mente já vagava, perdida na sombra de Bastien. Sussurrou quase para si mesma:

— Pelo menos ninguém vai invadir o condomínio… Já éramos protegidos, mas agora… é outro nível. Um verdadeiro alívio.

Phill sorriu, sem perceber a profundidade do alívio dela. O carro seguiu o seu caminho, e enquanto o mundo de contratos a aguardava, ela permitiu-se um instante de paz, sabendo que estaria protegida.

Enquanto se afastava, a imponente mansão de Lian, recém-chegado ao condomínio, parecia ganhar vida própria, um prelúdio do poder que a aguardava. No último andar, ele se preparava para o dia. Cada movimento era preciso e calculista, desde o ajuste do impecável terno de lã fria, com um corte feito sob medida que valorizava a sua postura, até o nó perfeito da gravata de seda pura num tom sóbrio. A camisa branca de algodão egípcio, impecável, realçava a elegância da peça.

Seus sapatos, de couro polido com um brilho espelhado, ecoavam a cada passo pelo piso de madeira, marcando um ritmo firme e silencioso. Cada detalhe, da precisão com que arrumava o cabelo perfeitamente alinhado à escolha de cada peça, falava não apenas de disciplina, mas da autoridade incontestável de um juiz. Aquela era a armadura que ele vestia para enfrentar o mundo e, sobretudo, para sentar-se à frente do tribunal, onde o seu poder seria absoluto.

Aplicou um perfume sofisticado, notas amadeiradas e de vetiver, marcando o ar com presença silenciosa. Com um último olhar no espelho, desceu as escadas, a postura firme e o olhar decidido. No hall, Klaus o aguardava, já em traje impecável. Lian acenou com a cabeça, cumprimentando-o com a serenidade e a autoridade de quem conhece o seu território.

Na elegante sala de jantar, Isabella já estava sentada à mesa, desfrutando do seu café da manhã. O aroma do expresso recém-preparado perfumava o ambiente, misturando-se ao brilho discreto do lustre de cristal que pairava sobre a mesa. Lian entrou, os seus passos firmes ecoando levemente pelo piso de mármore polido. Ele se sentou diante dela em uma das cadeiras estofadas, os olhos fixos, e com um tom sério, quebrou o silêncio.

— Bom dia.

Isabella ergueu a cabeça, surpresa pelo cumprimento, mas manteve a compostura. Hanna apareceu logo em seguida, com uma xícara de café expresso fumegante. Serviu Lian com cuidado, ele segurou a xícara, bebendo devagar, observando Isabella com atenção, quase avaliando cada gesto dela.

— Aonde você vai assim, tão bem vestida? — perguntou, o tom firme, mas não ríspido.

— Vou ao seu trabalho com você — respondeu Isabella, com um meio sorriso, tentando parecer confiante.

Lian ergueu uma sobrancelha, olhando-a diretamente, a seriedade no rosto.

— Não Bella, você não vai — disse, direto.

— Qual é? Só quero conhecer — insistiu ela. — Prometo me comportar e não mencionar que sou sua irmã. Por favor! Imploro!

Ele manteve o olhar, silencioso por alguns segundos. Então, balançou a cabeça e disse:

— Não.

Sem discussão, Isabella suspirou, compreendendo que não mudaria a decisão dele. Lian, então, levantou-se da mesa. Ele a olhou uma última vez e, sem dizer mais nada, saiu da sala de jantar, deixando a irmã frustrada.

Lá fora, o Rolls-Royce Phantom preto aguardava em frente à mansão, imponente e silencioso. No volante, o motorista mantinha o olhar atento no retrovisor, enquanto no banco do passageiro, Raul, chefe da segurança, falava baixinho no seu ponto de comunicação, dando as últimas instruções para a equipe. Alguns metros adiante, dois veículos de escolta — SUVs blindados de alta performance, modelo Bentley Bentayga, cor grafite, cada um equipado com blindagem máxima — já estavam posicionados, prontos para acompanhar Lian com precisão.

Todos os membros da equipe vestiam ternos escuros, camuflando discretamente os coletes balísticos. Nos cintos, o armamento estava estrategicamente posicionado, e os fones de ouvido garantiam comunicação constante e silenciosa. Um comboio de proteção de elite, pensado para cada cenário de risco.

Um dos seguranças abriu a porta do Phantom, e Lian entrou no banco traseiro. O fecho fechou-se com um clique abafado, isolando-o do mundo exterior. O interior era um santuário de luxo e tecnologia: assentos de couro Nappa preto, moldados ergonomicamente, envolviam-no com conforto firme. O ar fresco era purificado e levemente perfumado com o cheiro inconfundível de couro novo. Painéis em madeira de ébano polida e detalhes cromados refletiam a luz interna de forma sutil, complementando a sensação de poder e segurança.

Enquanto o Phantom avançava lentamente pelo portão do condomínio, os Bentley blindados de escolta mantinham a distância exata, uma dança sincronizada de proteção e precisão. Lian olhou para sua própria imagem refletida no vidro blindado: um homem não apenas protegido, mas a própria definição de controle. O silêncio permitia que cada pensamento fosse meticulosamente calculado, e a confiança inabalável se refletia no seu rosto.

Minutos depois, o comboio parou com precisão no estacionamento do tribunal. Dentro do Phantom, Lian ajustou firmemente o nó da gravata, respirou fundo e abriu a porta. Ao sair, a sua presença impôs respeito imediato. Diferente dos advogados que entravam para lutar, ele era autoridade, um juiz silencioso do próprio ambiente.

Escoltado por Raul e pelos seguranças, Lian atravessou o estacionamento com passos firmes, um símbolo de poder em movimento. O elevador privativo o conduziu silenciosamente ao hall de entrada, onde juízes e funcionários de alto escalão o aguardavam. Sorrisos respeitosos e murmúrios de deferência espalharam-se pelo corredor enquanto ele passava, como se um tapete invisível de prestígio se estendesse à sua frente.

Lian caminhava pelos corredores movimentados do tribunal, seguindo um funcionário, quando uma voz estridente o fez parar. Ele ficou para trás, enquanto o funcionário continuou sem perceber. A voz vinha de uma porta entreaberta de uma sala de audiências, onde um jovem advogado falava com uma arrogância notável.

— Relaxa, Damien! Essa causa já é minha. O velho é um gagá perdido, e a advogada dele… — ele riu, venenoso — aquela gostosa só serve de vitrine. Mulher bonita não tem cérebro, só corpo. Vou te safar dessa e ainda receberemos uma boa indenização.

O valor esperado pela encenação de um atropelamento chegava a setenta e sete mil francos suíços, cerca de quinhentos mil reais. Não era apenas dinheiro; era um golpe pensado para atingir não apenas o bolso, mas o orgulho da vítima.

O olhar de Lian se transformou em duas fendas frias, uma tempestade silenciosa se formando sob a superfície. Enquanto o advogado falava sobre dinheiro e insultos, a mente de Lian já processava a situação. Ele lidaria com aquela arrogância de forma exemplar. De repente, a voz do funcionário o tirou de seus pensamentos: — Senhor Lian?

Lian se apressou para alcançá-lo e os dois caminharam mais um pouco, parando em frente a um elevador. Ao chegarem no quinto andar, eles saíram e andaram até uma porta.

— A sala do senhor é aqui. Fique à vontade.

Com um aceno de agradecimento, Lian abriu a porta. O interior da sala era lindo e luxuoso, e um leve sorriso surgiu no seu rosto. Ele conferiu o relógio, pegou a toga, vestiu-a por cima do seu terno e partiu para a audiência.

Enquanto Lian seguia para a sala de audiências, Isabella o observava, escondida discretamente. Ela tinha conseguido entrar sem ser notada e os seus olhos percorriam tudo com curiosidade: a arquitetura imponente, os painéis de madeira polida e os rostos atentos das pessoas. De repente, o seu olhar parou em Aurora, sentada com a postura impecável ao lado de um cliente. "Que mulher elegante…", pensou Isabella, admirada. Mas seus pensamentos foram interrompidos pelo som solene das portas do tribunal se abrindo.

O estalo metálico ecoou pela sala, anunciando a entrada de uma figura cuja presença não admitia questionamentos. O silêncio tornou-se quase tangível, carregado de expectativa, enquanto Lian cruzava a soleira. Todos se levantaram instintivamente, em reconhecimento ao poder e à posição que ele representava.

Com a altivez de quem parecia dominar o ambiente, Lian avançou até a bancada, cada passo marcado por uma autoridade quase palpável.

O olhar de Lian percorreu a assembleia com precisão cirúrgica, avaliando cada expressão, cada gesto, cada movimento mínimo. Por um instante, os seus olhos encontraram Isabella, escondida discretamente, no fundo da sala. Ela acenou sorrindo, tentando parecer inocente, e ele fechou os olhos por um instante, soltando um suspiro silencioso. Como essa pirralha conseguiu entrar aqui? Pensou, a paciência sendo testada antes mesmo da audiência começar.

Ao abrir os olhos, o seu foco desviou-se, parando em Aurora. O encontro visual foi intenso e direto. Os olhos frios e calculistas de Lian se cravaram no olhar firme e sereno dela. Por um instante, a sala pareceu desaparecer; o ar ao redor deles se tornou denso, carregado por uma tensão elétrica.

Ela não demonstrou qualquer sinal de intimidação; ao contrário, manteve a postura elegante, ereta, irradiando a confiança de quem domina o seu espaço. Lian a examinou em silêncio, cada linha de expressão, cada sinal de firmeza, até que seu olhar se tornou uma sombra densa… e, por fim, desviou-se lentamente, cravando-se no advogado corrupto e no seu cliente.


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