Em um dia completamente como qualquer outro, desperto após um pesadelo, me deparo sonolento e impotente pelo que me espera, o abandono pelos meus familiares, a sua traição e por fim , a destruição de todo o que alguma vez conhecerá todos os seres envoltos em terror e desespero peço regressar a aqueles dias em que uma vez fui um simples e normal adolescente.
Ler maisO aroma do tatame novo misturava-se com o das flores que o vento carregava do jardim. Haruki sentou-se no chão da sala ainda quase vazia, com uma caneca de chá quente entre as mãos. O sol atravessava as janelas amplas, espalhando uma luz suave sobre os poucos móveis montados e caixas ainda abertas. Era seu primeiro dia, sozinho. Pela primeira vez, a casa não cheirava à frustração de ninguém. O silêncio não pesava — era leve. Livre. Ren havia saído cedo, mas deixara um bilhete colado na porta da geladeira: > “Hoje, mais que nunca, viva como se tivesse nascido agora. Você merece tudo o que construiu com seus próprios pés. — Ren” Haruki sorriu ao reler a mensagem. E foi nesse momento, no auge de sua serenidade, que a campainha tocou.O ambiente da casa Aiba era um campo de tensão sufocante. As lágrimas da mãe ainda estavam frescas no chão, o pai permanecia em silêncio, e a tia sentada ao lado apenas observava. O tempo parecia congelado dentro daquelas quatro paredes.No quarto ao fu
O céu de primavera tingia-se de um azul claro salpicado de pétalas de cerejeira, como se a própria natureza celebrasse a nova etapa que se aproximava na vida de Haruki. Faltavam apenas sete dias para completar dezoito anos, e com isso, sua liberdade plena. Pela primeira vez em muito tempo, ele se sentia... respirando.Ren era como um escudo silencioso. Dividiam o pequeno quarto do apartamento dos pais de Ren com respeito e cumplicidade. Durante o dia, ambos saíam cedo — Haruki para seus turnos, e Ren para a faculdade — e à noite se sentavam lado a lado, vasculhando imóveis online e anotando preços, distâncias, condições.— Olha esse, Haku — dizia Ren, apontando para a tela do laptop. — Duas habitações, 52 metros quadrados, bairro tranquilo em Nerima. Tem mercado perto e estação a seis minutos a pé.Haruki inclinava-se, observando atento.— É perfeito. E o aluguel está dentro do que posso pagar agora... com o novo salário.Seu sorriso era discreto, mas os olhos brilhavam.Haruki havia
A mala não era grande, mas dentro dela Haruki levava toda uma vida comprimida: poucas roupas, um caderno cheio de rabiscos e ideias que ninguém nunca quis ler, um porta-retratos quebrado onde a foto de família já não fazia sentido, e a dor pulsante no peito. A porta se fechou atrás dele com um estalo seco. Sem olhar para trás, desceu as escadas do prédio como se cada degrau fosse um passo em direção à liberdade — ou ao abismo. Do outro lado da cidade, o apartamento modesto de Ren, seu melhor amigo, o recebeu com um silêncio acolhedor. Ren, de moletom largo e olheiras de quem vira as madrugadas estudando, arregalou os olhos ao ver Haruki com a mala. — Cara... você realmente fez isso? Haruki assentiu em silêncio, os ombros tensionados como se estivesse segurando o próprio mundo nas costas. Sentou-se no sofá sem esperar convite. Não era orgulho — era cansaço. Um cansaço antigo, que já não cabia no corpo magro. — Meus pais... — começou ele, a voz arranhada. — Eles me acusaram de roubo
som do despertador tocou às 5h30, mas Haruki já estava acordado. Estava deitado de lado, com os olhos abertos fixos na parede, onde rachaduras discretas cortavam o branco velho como cicatrizes. Mais um dia. Mais um ciclo de cansaço.Levantou-se com movimentos mecânicos. Banho rápido. Uniforme dobrado no canto da cadeira. O cheiro de café vinha da cozinha, mas ele não desceu. Estava farto de mesas silenciosas, de olhares ignorantes e da idolatria cega à irmã que nunca sofria consequências.Calçou os tênis, pegou a mochila e saiu antes do sol nascer.Nos últimos meses, Haruki havia começado a trabalhar em uma loja de conveniência perto da estação de Yokohama, e à noite, lavava pratos em um restaurante familiar. Saía antes de todos acordarem e voltava depois que já estavam de pijama. Aos dezessete anos, já sentia o peso de um adulto esgotado.No começo, ninguém notou sua ausência nos jantares. Quando notaram, fingiram que era rebeldia adolescente. Mas ele não ligava. Não fazia mais quest
Era primavera em Kanagawa, e as pétalas de cerejeira dançavam ao vento como se o mundo estivesse em perfeita harmonia. Para Haruki Nakamura, então com apenas três anos, tudo realmente parecia estar certo. Seu mundo se resumia ao carinho dos pais, ao cheiro do arroz recém-cozido, às noites em que se aninhava entre os dois ouvindo histórias sobre raposas e dragões.Seus pais, Takashi e Emiko Nakamura, eram exemplos típicos de um casal de classe média japonesa: ele, engenheiro civil respeitado numa construtora local; ela, professora do jardim de infância, conhecida pelo sorriso doce e a voz suave. Tinham uma casa modesta, mas aconchegante, com um jardim de bonsais e uma varanda onde Emiko cultivava hortênsias em vasos de cerâmica pintados à mão.Haruki cresceu cercado por amor. Era comum vê-lo andando de bicicleta com o pai aos domingos ou ajudando a mãe a preparar onigiris na cozinha enquanto ela ria das tentativas desajeitadas do menino em moldar o arroz. Os dois olhavam para Haruki co
Último capítulo