Mundo ficciónIniciar sesiónEm um dia completamente como qualquer outro, desperto após um pesadelo, me deparo sonolento e impotente pelo que me espera, o abandono pelos meus familiares, a sua traição e por fim , a destruição de todo o que alguma vez conhecerá todos os seres envoltos em terror e desespero peço regressar a aqueles dias em que uma vez fui um simples e normal adolescente.
Leer másAmanheceu devagar.O primeiro raio de sol atravessou o papel de arroz da janela, tingindo o quarto com uma luz dourada e suave. O silêncio era tão leve que Haruki podia ouvir o som da respiração do vento nas folhas do jardim. O dia nascia com uma calma estranha — não aquela quietude que pesa antes da tempestade, mas uma calma que aquieta o coração depois que ela passa.Ele ainda usava a mesma camisa da noite anterior, um pouco amarrotada, cheirando a madeira de palco e a perfume de flores.Sentou-se na cama, o corpo cansado, mas a mente desperta.As mãos repousavam sobre o lençol, e nelas havia o eco de um toque — o toque das mãos da irmã, das mãos dos pais.Por um momento, aquele gesto silencioso repetiu-se na lembrança como se fosse agora, real, vivo, pulsante.Haruki sorriu, pequeno, quase tímido.Não sabia dizer o que era exatamente aquilo que sentia.Não era felicidade plena — essa palavra parecia grande demais, luminosa demais —, mas uma forma mais delicada de paz, uma trégua co
O som do violino ainda ecoava em algum canto da memória de Haruki. Mesmo depois do aplauso se dissolver no ar, o ritmo persistia, pulsando em suas veias, como se cada nota tivesse deixado uma marca invisível sob a pele. Ele caminhou lentamente pelos bastidores, o coração ainda acelerado. O brilho das luzes do palco parecia uma lembrança distante agora; o que restava era o silêncio — aquele tipo de silêncio que só vem depois de se dar tudo de si.Saiu por uma porta lateral do teatro e encontrou um pequeno jardim iluminado por lanternas de papel. O ar noturno estava úmido e fresco, carregado com o perfume de flores e de chuva distante. As ruas de Tóquio vibravam mais adiante, mas ali, entre o som distante de passos e motores, o mundo parecia suspenso.Haruki encostou-se a uma das árvores e inspirou fundo. A música que compusera — a que chamara de Hikari no Naka de — fora escrita para aquele instante, para libertar algo que ele nem sabia que ainda o prendia. E agora, com o concerto termi
As luzes da cidade se estendiam pela noite como rios de neon, escorrendo pelas ruas de Tóquio. Lá no alto, escondido nos bastidores do teatro que se erguia como um gigante de metal e vidro, estava Haruki — sentado, violino em mãos, coração em guerra. O relógio marcava pouco mais de duas horas para o grande concerto. Aquele que marcaria não apenas uma nova etapa em sua carreira… mas o primeiro encontro real com seus pais após a ferida finalmente começar a cicatrizar. Ele sentia as mãos tremerem. Não de medo do público — isso, ele já dominava há muito tempo — mas do fato de saber que eles estariam ali. Tão perto que poderia ouvir seus suspiros… e tão distantes quanto os anos de silêncio que os separaram. Haruki respirou fundo, apoiando o arco sobre os joelhos. O papel dobrado ainda estava no bolso interno da jaqueta — a carta que havia escrito para os pais e nunca enviou. Palavras presas. Palavras afiadas. Palavras que ele decidiu transformar em música. Porque naquela noite… El
Eu achava que já tinha entendido o significado de recomeçar… até chegar hoje.O dia do concerto.Acordei antes do sol nascer, sem saber se havia dormido de fato ou se passei a noite apenas lutando contra a própria mente. Minha casa pequena parecia maior que nunca, como se o silêncio empurrasse as paredes para longe, me deixando num mundo que crescia conforme a ansiedade dentro do peito.Levantei devagar, o piso de madeira estalando sob meus pés. Fui direto até o pequeno jardim — o meu lugar seguro. O ar fresco da manhã em Tóquio tinha cheiro de terra úmida e sakuras fora de época, trazidas pelo vento do outono. Sentei-me na escada e observei o céu mudar de cor, tingindo-se de laranja, como se tentasse me dizer que tudo ficaria bem.Mas será que ficaria?Hoje, milhares de pessoas me veriam. Hoje, eu cantaria por quem fui e por quem tento ser agora. Hoje, meus pais estariam na plateia.Engoli em seco.A música que eu iria cantar… ela não era apenas uma canção. Era a minha cicatriz. Era
O sol daquela manhã parecia mais brando que de costume.A luz entrava pelas janelas como se tivesse medo de incomodar.No jardim, o vento agitava as folhas do bordo vermelho e fazia o sininho da varanda cantar baixinho, o mesmo que soava quando Haruki era criança.Aiko acordou cedo.Tinha limpado a casa inteira na noite anterior, como se quisesse apagar todos os rastros do passado.Preparou arroz fresco, sopa de miso, peixe grelhado e vegetais cozidos no vapor.Nada sofisticado — apenas o sabor da casa, o que ela sabia que o filho mais velho reconheceria no olfato antes mesmo de sentar-se à mesa.Mas, enquanto mexia o miso, suas mãos tremiam.Não sabia o que dizer quando Haruki chegasse.Não queria que o reencontro se parecesse com o de dias atrás, carregado de lágrimas e arrependimentos.Queria um dia normal — ou pelo menos, algo que se parecesse com isso.Kenji apareceu na cozinha em silêncio, o cabelo ainda úmido do banho.Aiko percebeu o esforço dele em parecer tranquilo.— Está b
A noite caiu silenciosa sobre a pequena cidade.O vento leve carregava o cheiro distante das ameixeiras, e o som dos passos de Haruki se misturava ao canto discreto dos grilos.A casa dos pais desaparecia atrás dele, engolida pela penumbra.Mas o peso do reencontro permanecia — um nó preso entre o peito e a garganta.HarukiO trem já não fazia tanto barulho à noite, e, no vagão quase vazio, o reflexo do vidro devolvia o seu próprio rosto — cansado, mas de alguma forma... mais sereno.Havia algo estranho em sentir paz e dor ao mesmo tempo.Encostou a cabeça na janela fria. As luzes da cidade passavam rápidas, riscadas de brilho.Fechou os olhos.Tudo ainda pulsava dentro dele — a voz trêmula da mãe, as mãos do pai, o abraço que parecia ter durado uma eternidade e ao mesmo tempo um instante.“Eu quero perdoar.”Ele ainda podia ouvir a própria voz dizendo aquilo.E agora, o eco daquelas palavras doía mais do que o esperado.No fundo, Haruki sabia que o perdão não era o fim de nada — era
Último capítulo