O Fim Da Realidade

O Fim Da RealidadePT

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Última atualização: 2025-06-18
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Em um dia completamente como qualquer outro, desperto após um pesadelo, me deparo sonolento e impotente pelo que me espera, o abandono pelos meus familiares, a sua traição e por fim , a destruição de todo o que alguma vez conhecerá todos os seres envoltos em terror e desespero peço regressar a aqueles dias em que uma vez fui um simples e normal adolescente.

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Capítulo 1

O Esquecido

Era primavera em Kanagawa, e as pétalas de cerejeira dançavam ao vento como se o mundo estivesse em perfeita harmonia. Para Haruki Nakamura, então com apenas três anos, tudo realmente parecia estar certo. Seu mundo se resumia ao carinho dos pais, ao cheiro do arroz recém-cozido, às noites em que se aninhava entre os dois ouvindo histórias sobre raposas e dragões.

Seus pais, Takashi e Emiko Nakamura, eram exemplos típicos de um casal de classe média japonesa: ele, engenheiro civil respeitado numa construtora local; ela, professora do jardim de infância, conhecida pelo sorriso doce e a voz suave. Tinham uma casa modesta, mas aconchegante, com um jardim de bonsais e uma varanda onde Emiko cultivava hortênsias em vasos de cerâmica pintados à mão.

Haruki cresceu cercado por amor. Era comum vê-lo andando de bicicleta com o pai aos domingos ou ajudando a mãe a preparar onigiris na cozinha enquanto ela ria das tentativas desajeitadas do menino em moldar o arroz. Os dois olhavam para Haruki como o centro do universo — e por muito tempo, ele acreditou ser.

Mas então, tudo mudou.

Em um outono pálido, quando Haruki completou cinco anos, Emiko apareceu no corredor com um sorriso hesitante, segurando um pequeno exame de ultrassom contra o peito. Ela estava grávida. Haruki não entendeu completamente o que aquilo significava, apenas soube, a partir dali, que algo se alterava no ar — um silêncio diferente, olhares mais distantes, menos tempo para ele.

A bebê nasceu antes do previsto, três meses depois, com sérios problemas respiratórios e imunidade quase nula. O hospital virou a segunda casa dos Nakamura. A menina foi chamada de Yui, e Haruki logo aprendeu que aquele nome significaria “prioridade” por muitos anos.

Takashi, que antes ensinava Haruki a montar maquetes e lhe contava histórias de heróis antigos, agora mal o notava. Emiko já não ria com as tentativas de onigiris. Ela se tornara uma sombra ansiosa, com olheiras fundas, sempre ao lado do berço da pequena, cercada por aparelhos e tubos de oxigênio.

“Ela precisa de nós agora”, diziam.

E Haruki entendia. No início.

Mas os anos passaram, e o que parecia ser uma fase virou permanência. Quando Yui fez três anos e começou a andar, mesmo fraca, era como se a casa celebrasse um milagre a cada passo. Se caía, era a braveza de Haruki por deixá-la sozinha. Se chorava, era porque ele a olhara com “rancor”. Se dizia que ela o havia batido, mentia.

Aos poucos, Haruki foi desaparecendo.

Quando trouxe seu primeiro boletim exemplar com notas máximas em todas as matérias, Emiko mal levantou os olhos do termômetro com que monitorava Yui. Takashi resmungou um “muito bem” sem emoção enquanto ajeitava o inalador da filha. No dia do festival escolar, Haruki se apresentou sozinho no palco, olhando a plateia em vão por um par de olhos familiares. Eles não vieram. “Yui teve febre”, disseram depois.

Foi naquela noite que sentiu algo quebrar dentro do peito.

Os anos seguintes foram cruéis em sua simplicidade: todos os dias iguais. A cada conquista sua, silêncio. A cada pequeno erro, punição. Yui crescia cada vez mais mimada, ardilosa — e mesmo com sua saúde mais estável, agia como um imperador intocável. Ela gritava com a empregada, rasgava cadernos, escondia objetos do irmão e depois apontava o dedo dizendo: “Foi o Haruki.”

E os pais acreditavam.

A primeira vez que Takashi levantou a mão contra ele foi quando Yui empurrou uma colega da escola e disse que Haruki mandou. A menina tinha oito anos. Haruki tinha onze.

“Desgraçado, está estragando sua irmã!”, gritou o pai, o rosto vermelho de raiva, como se já não visse o filho diante de si, mas um inimigo.

A mão foi forte, a palma ardida. E Emiko não impediu. Nem depois, quando ele chorou sozinho no quarto, nem quando sangrou do lábio cortado. Ela apenas disse, fria: “Você precisa aprender a cuidar da sua irmã, não a colocar contra o mundo.”

Agora, aos dezessete anos, Haruki não esperava mais amor.

Naquela manhã chuvosa de março, ele se vestiu em silêncio, a farda colegial impecável como sempre. Seus cabelos pretos e lisos caíam sobre os olhos cansados, e o uniforme ocultava os ombros cada vez mais rígidos pela tensão constante. No café da manhã, o pai lia o jornal, a mãe alimentava Yui com frutas picadas, elogiando cada mordida como se ela tivesse escalado o Monte Fuji.

— Bom dia — murmurou ele.

Silêncio.

Yui o olhou com desdém. Estava com quatorze agora, uma beleza precoce e perigosa, o olhar malicioso de quem sabe o poder que detém. Ela sorriu de canto, pegou uma uva e jogou no chão.

— Haruki, pega pra mim — ordenou.

Ele a encarou. Pela primeira vez em muito tempo, não obedeceu.

Emiko o olhou como se ele tivesse cuspido blasfêmias.

— Por que está parado? Está ignorando sua irmã?

— Ela tem mãos — respondeu, a voz baixa, mas firme.

O jornal baixou. Takashi levantou os olhos, lentamente.

— Que tipo de tom é esse? Está se achando melhor do que ela agora?

— Não me acho nada. Só queria que me tratassem como um ser humano de vez em quando.

A atmosfera congelou.

Yui fez um som falso de choro, levando as mãos ao rosto como se tivesse sido ferida. A encenação perfeita.

Takashi levantou-se com a lentidão ameaçadora de um trem prestes a descarrilar.

— Você não fala assim com sua mãe. Nem com a sua irmã, entendeu?

E antes que Haruki pudesse responder, o pai já o empurrava com força contra a parede. Um prato caiu da mesa e estilhaçou. Emiko gritou, mas não de horror. De raiva.

— Está vendo o que você causa, Haruki?! Sempre foi você! — berrou ela, os olhos inflamados.

Naquele momento, Haruki sentiu o peito arder, mas não de dor física — disso ele já estava cheio. Era um vazio, uma certeza surda de que naquele lar, não havia lugar para ele.

Saiu batendo a porta. A chuva o acolheu como uma mãe ausente.

A cada passo pelas ruas molhadas, o peso de anos de abandono, dor, humilhação e solidão acumulavam-se nos ombros do jovem. Olhos que não brilhavam mais, um coração que batia apenas por hábito. Havia aprendido a sorrir sozinho, a se esconder no telhado da escola e fingir que tudo estava bem. A ouvir música alta no fone e imaginar que sua vida era outra.

Mas ali, sob a chuva fria de Kanagawa, Haruki percebeu: ele estava à beira do abismo.

Não por fraqueza. Mas porque tudo o que o fazia humano havia sido arrancado lentamente, sob os olhos cegos dos que juraram amá-lo.

E aquele era só o começo.

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