A casa já não parecia a mesma. O silêncio que antes era apenas incômodo tornara-se agora um inimigo íntimo, presente em cada canto, em cada suspiro. Não era apenas a ausência de Haruki que os assombrava, mas a revelação lenta e dolorosa do quanto haviam sido cegos.
O pai mergulhava no trabalho, mas não para escapar — era uma fuga fracassada. Passava horas a mais no escritório, mas quando regressava, seus olhos denunciavam um vazio que nem ele sabia explicar. Às vezes, chegava a casa cheirando a álcool, tentando amortecer o peso que carregava. Mas o efeito passava rápido, e o silêncio o esmagava de novo.
A mãe, por sua vez, não conseguia mais encontrar sentido na rotina. Tornara-se uma sombra de si mesma. Um dia, mexendo no quarto de Haruki, encontrou uma caixa esquecida no fundo do armário. Dentro, havia folhas soltas, rabiscos e cadernos de composições. As melodias, descritas em partituras imperfeitas, estavam cheias de anotações com palavras curtas, como se fossem confissões.