A ausência de Haruki já não era apenas uma ferida: tornara-se uma gangrena. Tudo o que restava naquela casa apodrecia lentamente, e cada um dos que ficaram carregava sua própria versão do inferno.
---
O Pai – O Refúgio Amargo
As noites tornaram-se longas demais para ele. O trabalho, que antes era um motivo de orgulho, virou apenas um pretexto para não voltar para casa. Nos corredores da empresa, movia-se como um fantasma, repetindo as mesmas ordens mecânicas, fingindo eficiência. Mas bastava um minuto de silêncio para que a lembrança do filho surgisse — o rosto de Haruki, pálido, de olhos fundos, silencioso.
Era nessa hora que buscava o álcool. Primeiro um copo, depois dois, até que não houvesse mais diferença entre noite e dia. O álcool queimava-lhe a garganta, mas trazia a ilusão de adormecer a dor. Muitas vezes, voltava cambaleando, batendo as chaves contra a porta até acordar a vizinhança. Entrava na casa escura, tropeçando nos sapatos esquecidos no chão, e desabava no sofá.