A casa estava silenciosa.
O tipo de silêncio que não vem apenas da ausência de ruído, mas da ausência de movimento interno. Um silêncio que mora no corpo. Madeleine subiu devagar os degraus de madeira do chalé, sentindo o rangido suave sob os pés. Lá fora, o vento do fiorde batia baixo, como se até ele, hoje, estivesse cansado.
Ela caminhou até o banheiro e acendeu a luz amarelada. O espelho estava ligeiramente embaçado pela condensação do aquecedor. Passou a mão no vidro, traçando um semicírculo que revelava seu rosto.
Parou.
Olhou.
E não se reconheceu de imediato.
Não era por causa do cabelo preso de qualquer jeito ou das olheiras fundas. Nem pelas linhas ao redor dos olhos que pareciam mais marcadas sob aquela luz. Era outra coisa. Uma espécie de estranhamento mais profundo, como se o rosto refletido fosse uma versão dela que ela ainda não tivesse tido tempo — ou coragem — de conhecer.
Levou a mão à mandíbula, depois ao pescoço.
A sensação era a de estar... entre versões. Nem a mul