Mundo ficciónIniciar sesiónEm um mundo fragmentado onde o equilíbrio ruiu, as cinzas do reino caído de Nerevia deram origem a um fantasma. Testemunha do massacre de seu povo e da execução de seus pais, acusados de um pacto sombrio, o príncipe sem coroa é forçado a desaparecer. Ele assume a identidade de Darius Kaelen, um sobrevivente movido por uma sede implacável de vingança. Para caçar os responsáveis, Darius mergulha em uma jornada que o levará ao limite. Ele busca o poder supremo — o domínio sobre o Yin, o Yang e o lendário Relâmpago. Mas a magia tem um preço, e a cada poder que domina, mais um pedaço de sua humanidade é sacrificado no altar de sua obsessão. Em um mundo cruel onde apenas os fortes podem mudar o destino, o maior inimigo de Darius não são os demônios que espreitam nas sombras, mas o monstro que cresce em sua própria alma. Para salvar a todos, ele terá que abraçar a escuridão de um vilão ou a monstruosidade de um herói?
Leer másCAP - Entre sangue e Cinzas
Diante dos sons de crânios se partindo, ossos estalando e gritos desesperados ecoando como um pesadelo vívido, o pequeno príncipe despertou. Tremores surdos subiam pelas pernas da cama de carvalho, fazendo até seus dentes chocalharem. Piscou os olhos tentando entender a realidade. Mechas dos cabelos loiros caíam sobre os olhos azuis; ele as afastou com cuidado e passou a mão pela testa, confuso. O quarto permanecia imerso na penumbra azulada da madrugada, mas algo estava errado. O ar, que normalmente cheirava à maresia de Nerevia, estava pesado, impregnado de um odor metálico e acre de sangue. Por baixo da porta, uma luz estranha, laranja e trêmula, dançava como um fogo de artifício doentio. “Será só mais um pesadelo?” pensou. Mas o tremor no chão era real demais. Ele não se lembrava de quando os pesadelos haviam começado, mas ultimamente tornaram-se frequentes e o fazia confundir sonhos com realidade. O quarto parecia o mesmo de sempre: paredes, brinquedos, os desenhos feitos com a irmã. Mas o cheiro acre e metálico, os gritos ao fundo... aquilo não fazia sentido. Nerevia era o mais seguro dos Quatro Reinos. Nenhuma ameaça jamais cruzou os oceanos e as defesas aquáticas do país. Um estrondo o trouxe violentamente de volta. A porta foi arremessada contra a parede e César, seu tutor, surgiu ofegante, com os olhos arregalados. — Jovem príncipe! Que bom que você está vivo! Rápido, venha comigo! — O que está acontecendo?! — perguntou o menino, com o coração disparado. — Eu explico no caminho! — respondeu César, puxando-o pelo braço com uma força desesperada. — Venha! Era crime grave tocar um membro da realeza, mas, naquele instante, nenhuma regra parecia importar. Correram pelos corredores outrora dourados e cheios de vida. Agora eram um campo de morte. Faina, a cozinheira que tantas vezes lhe sorrira ao oferecer bolos escondidos, jazia entre louças e talheres espalhados. Guardas com quem treinava estavam tombados, o chão manchado de vermelho. O ar era uma mistura nauseante de ferro e fumaça. O príncipe tropeçava em meio ao horror de armaduras, destroços e partes de corpos humanos, mas César continuava puxando-o com força. — Ali! Peguem o príncipe! — uma voz ecoou. Alguns homens com armaduras ornadas por rosas azuis e espinhos avançaram. “Reino Stoneval...?” Notou o príncipe antes de ser puxado novamente por César. Chegaram ao quarto do rei, local proibido a qualquer súdito. César abriu a lareira e revelou uma passagem secreta. O príncipe ficou boquiaberto; passou a infância inteira explorando o palácio e nunca tinha visto aquilo. — Entre! — ordenou. César empurrou-o para dentro da passagem escura e húmida. As mãos do tutor tremiam enquanto ele retirava as roupas de príncipe de Darius e lhe vestia uma túnica grosseira de camponês qualquer. O príncipe tentou protestar, confuso, mas antes que pudesse falar, o tutor o interrompeu com um olhar firme, quase desesperado. — Sua vida depende disso. — O que está acontecendo?! — perguntou Darius, a voz falhou. César segurou o rosto, forçando o menino a encará-lo. O semblante do seu mestre refletia o horror daquela destruição. — Escute com atenção. O reino foi atacado. Os outros três reinos... eles se uniram contra nós. A sua família... já não existe. A cabeça de Darius abanou. Um zumbido agudo encheu os seus ouvidos, abafando os sons da batalha lá fora. Não. “Ele está mentindo. É um pesadelo.” — Mas como? Por quê? — Disseram que o seu pai fez um pacto com o Submundo — a voz de César falhou, e ele desviou o olhar por um segundo. — É uma mentira, claro...Eu acho... O que importa é que eles estavam atrás da família real. César segurou os ombros do menino e o encarou. — Lembre-se do que te ensinei sobre o equilíbrio do mundo, Oryn e Yin e Yang! — a sua voz era um grito rouco por cima do barulho das explosões. — Ele foi quebrado! Agora talvez estejamos mais pertos do fim do mundo. Um estrondo sacudiu a sala. Magias de terra e fogo explodiam contra as paredes. O menino de dez anos sentiu o peso de um mundo ruindo sobre seus ombros. Imagens felizes vieram-lhe à mente: o pai ensinando-o a segurar uma espada de madeira, a mãe ajeitando seus cabelos, a irmã correndo atrás dele no jardim, rindo com as bochechas coradas. Tudo aquilo agora parecia um sonho distante. Ao engolir em seco, foi como se tivesse uma pedra descendo devagar pela garganta. O oxigênio parecia rarefeito. Uma pressão insuportável explodia em sua cabeça, distorcendo sons, imagens e pensamentos. O mundo virou um borrão. Restava apenas uma verdade: sua casa havia sido destruída. — Para onde vamos...? — murmurou o príncipe, quase sem voz. Mas a expressão de César dizia tudo. — Para viver. E, um dia... para lutar! Você precisa sair daqui antes que nos encontrem. — Você não vem...? — no fundo ele já sabia a resposta. — Eu não posso. Você é o último da linhagem Draven. Sua vida é mais importante que a minha, qualquer castelo ou coroa. Continue respirando, mesmo que seus ossos se quebrem. Mesmo que a esperança morra. — O olhar firme de César era sincero. — Não desista de viver. César ergueu uma barreira de água, condensando a umidade do ar. — Corra para a grande floresta. E não olhe para trás. Depois, no pé da colina, embaixo de uma ponte, há uma entrada secreta para um bunker. Lá terá tudo que precisa, inclusive uma biblioteca que conta a história do mundo. Use o conhecimento para sobreviver. Você precisa ir até lá, viva como plebeu e sobreviva! — Ele respirou fundo, enquanto mais pedras estalavam contra sua magia enfraquecida. — Se perguntarem seu nome, diga que é Darius. Era o nome do meu irmão... já falecido. Nunca, jamais revele quem você é. Nunca diga seu nome verdadeiro. E não confie em ninguém. Mas faça amigos, se possível. Mais um feitiço rasgou a parede, espalhando detritos. Um fragmento passou a centímetros do rosto de Darius. Ele se assustou tanto que urinou nas roupas. Vergonha o queimou por dentro, mas ele só tinha dez anos. Era apenas uma criança. — Viva por eles. Cresça. Lute. Vingue Nerevia — disse César, com a voz firme, mas os olhos cheios de compaixão. A barreira de água começou a se desfazer, rachando como vidro sob pressão. Do outro lado, mais soldados avançavam.Ao ouvir a voz, O dragão se virou para Rhazer. O corpo do príncipe, que estava tenso como uma corda de arco, enrijeceu ainda mais. A mão dele apertou o cabo da Stoneword com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. O animal se aproximou e o surpreendeu, roçando a cabeça contra seu peito. Rhazer deu um salto para trás, assustado. E o dragão se aproximou mais.Foi quando a voz ecoou, não nos ouvidos, mas direto dentro da mente deles.— Meus humanos!!!Darius e Rhazer se entreolharam, o mesmo pânico mudo estampado no rosto de ambos. “Que porra está acontecendo?”A tensão foi quebrada pelo rei de Ignel, que se levantou num pulo, a alegria substituindo o terror.— Meu Deus! É um dragão! O reino está salvo! — ele correu na direção da criatura com os braços abertos.O dra
De manhã teve uma última cerimônia para despedir dos mortos, mas o som solene da despedida foi quebrado quando um dos guardas despencou para dentro da tenda, tropeçando nos próprios pés. A armadura tilintou contra o chão de pedra e ele ergueu um rosto pálido como cera, os olhos arregalados de pavor.— O ovo! O ovo... o ovo desapareceu! — a voz dele saiu num fio trêmulo, quase um soluço.Um burburinho de confusão cresceu entre os guerreiros, um trovão abafado de vozes que se atropelavam em sussurros urgentes.— Ovos? Que ovo? — Como assim, sumiu?O guarda se apoiou nos joelhos, o ar entrando em seus pulmões com um chiado doloroso.— O ovo do dragão... — ele se engasgou. — Aquele que repousava no altar sagrado... sumiu!O silêncio que se seguiu foi absoluto e pesado, como se todo o ar tivesse sido suga
A noite chegou, mas não trouxe escuridão. O céu de Ignel estava tingido de um laranja doentio, iluminado por duas fontes de luz: o brilho eterno do vulcão e as chamas altas da grande pira funerária. A madeira estalava, consumindo os corpos dos amigos e colegas que não retornaram; o calor que emanava do fogo não aquecia, apenas lembrava a todos da fúria que os havia levado.O silêncio era pesado, quebrado apenas pelo crepitar das chamas e pelos soluços contidos.Darius estava ajoelhado na terra batida, um pouco afastado da multidão. O mundo ao redor não existia. Ele mal sentia o cheiro da fumaça ou o calor em seu rosto. A única realidade era a dor em seu peito, uma ferida aberta que tentava estancar apertando o tecido da própria roupa, como se pudesse esmagar o próprio coração para fazê-lo parar de doer.— Desculpa... me desculp
A porta do quarto se abriu devagar, quebrando o silêncio e interrompendo o momento. Leonar entrou primeiro, o rosto cansado, mas aliviado ao ver Darius acordado. Logo atrás vieram os gêmeos, Ryo e Ryn, e Ignes, de braços cruzados, com a postura habitual.— Finalmente a Bela Adormecida acordou — disse a princesa. Não havia veneno na voz, apenas um cansaço genuíno.Darius encarou os rostos familiares, com o cérebro ainda tentando organizar os fragmentos.—Vocês estão bem! Que bom! — Ele levou as mãos ao rosto tentando entender. — O arauto? O que aconteceu?— Você e Rhazer deram um jeito nele, você apagou por três dias — respondeu Leonar, a voz grave. Ele se aproximou; Darius notou a dor escondida nos olhos do amigo. — Os mestres agiram rápido. Quando os sensores na sua roupa e na do Rhazer detectaram a energia do
O vulcão ainda cuspia fumaça e cinzas, como se chorasse pelas trinta e três vidas que engoliu em sua última fúria. A tragédia só não foi completa porque os mestres de Ignel estavam preparados. O equilíbrio do mundo podia ruir, mas o dever deles não. Cada uniforme dos jovens trazia sensores minúsculos, que monitoravam sinais vitais e as flutuações de Oryn.Foi por meio deles que detectaram a anormalidade. Foi por causa deles que os guardiões do vulcão se mantiveram atentos, enquanto outros subiram a garganta atrás dos jovens, e graças a isso Luciel chegou a tempo de arrancar os dois príncipes do coração da fornalha: um resgate no último segundo, em meio ao caos.Alguns segredos e vidas se perderam, detalhes que não viriam a público. E era nesse mundo de cinzas, perdas e mistérios que Darius, em um quarto silencioso do castelo, permanecia apagado. Passaram-se três dias desde o incidente.Marsalla estava ajoelhada ao lado da cama onde Darius dormia, exausto, com queimaduras e machucados
O olhar dos dois se cruzou: havia rivalidade, mas também uma cumplicidade silenciosa. Ambos se voltaram para o monstro. O Arauto se contorcia, murmurando grotescamente: — Meu mestre vai lutar... meu mestre vai lutar...A criatura gemia num ronco gutural. Rhazer parecia não compreender, mas Darius captava cada nuance.Ele avançou, moldando o ar em lâminas cortantes e a água em correntes afiadas. Jatos atingiam paredes e pedras, desviando fluxos de lava e abrindo passagem. Ao lado, Rhazer fez o chão estremecer: pilares de terra ergueram-se como estacas improvisadas, rasgando o solo. O Arauto era acertado, danificado más não derrotado.Os dois tinham algo em comum: elemento vento. Ao combinarem forças, criaram um super ataque. Correntes aéreas giraram em um redemoinho colossal, arrancando pedras soltas, e arrastando o Arauto. A criatura precisou cravar tentáculos nos cristais do teto e no chão para se sustentar.— Mais! — rugiu a criatura, zombando. — Lutem mais, meu mestre!Darius
Último capítulo